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Crítica | Preciosa

Para não ser hipócrita, escrever sobre Preciosa é tão difícil quanto assistir a este retrato doloroso e angustiante da personagem título: uma obesa, negra, pobremente educada e vítima de abusos sexuais e físicos constantes, inclusive dos pais. Ela é Clareece Jones (Gabourey Sidibe), uma jovem convidada a participar de um programa de educação batizado de “Cada um Ensina um”, mas que não encontra neste a saída para as privações e sofrimento vivenciados. Baseado no livro escrito por certa Saphire, a sensação é de estarmos sufocados em uma bolha e despidos de esperança e dignidade, o que, no final das contas, é exatamente o que a pobre Precious do título vivenciava diariamente.

Dirigido por Lee Daniels, a narrativa sempre busca amenizar o a brutalidade cotidiana introduzindo sequências oníricas que retratam a imaginação escapista da protagonista e onde conhecemos suas ilusões de fama, a concretização de uma paixão ou a imersão em um filme italiano em preto e branco. Retornando, em seguida, ao desglamourizado mundo real, Lee Daniels investe em constantes movimentos de aproximação e afastamento da câmera e mudanças de ângulo que, se à princípio não dizem nada à respeito da história, ajudam a manter o clima instável da personagem.

Mantida em um estado de letargia e incômoda passividade a tudo ao seu redor, Gabourey Sidibe (indicada ao Oscar) mantém sua pronúncia e conjugação verbal sempre erradas – e a legenda presta um desserviço enorme ao não ilustrar esta sua faceta, como quando ela menciona “I is learning” e ao invés de termos a ideia do erro da jovem (o equivalente a “Eu está aprendendo” em português), a legendagem acaba tomando as vezes de corretor.

Igualmente eficiente está a sua mãe Mo’Nique (vencedora do Oscar de atriz coadjuvante) e que acumula os sentimentos maternos, em menor grau, com os de uma pessoa traída pela própria filha que, no seu entendimento, “roubou” o seu marido. Seu ápice é aquele no gabinete da assistente social (interpretada por Maria Carey, sem maquiagem e apagando a sua estreia desastrosa nos cinemas). Finalmente, a professora interpretada por Paula Patton fascina pelo zelo e amor em ensinar.

Minimalista, mantendo a trilha sonora apenas nos momentos de maior catarse narrativa quase como uma melodia de ninar que contraste a dureza e amargura daquela vida com a ingenuidade infantil, a narrativa também tem uma crítica ácida para quem julga que a beleza – em sua essência – existe somente em loiras turbinadas. E o arco dramático de Precious é a prova de que, independentemente da cor, raça e situação social, você pode ser bela (mesmo que em uma narrativa afogada em sofrimentos).

Eventualmente beirando o sadismo na sua tentativa de ser ultrarrealista, Precious é um grande filme, mas que exige um estômago enorme e um punhado de restrições para ser aprovado.

Avaliação: 4 estrelas em 5.

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