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Crítica | A Estrada

Devastador. Basta este adjetivo para resumir a alegoria pós-apocalíptica A Estrada. Iniciando com imagens de um passado feliz recém abalado por alguma tragédia não-anunciada – o aquecimento global, uma catástrofe nuclear, não importa – este filme baseado no premiado livro de Cormac McCarthy se concentra no conceito de humanidade e até que ponto pai e filho, na busca por sobrevivência e comida, podem se manter pessoas boas nas condições em que se encontram.

Em uma narração in off do Homem (Viggo Mortensen), construímos em nossas mentes a tragédia do mundo, que a cada dia mais cinza dá seus últimos sopros de vida. Neste conceito, a fotografia de Javier Aguirresarobe em um mundo quase sem cores, nos convida a conhecer um mar de árvores mortas, incêndios comuns em floresta antes densas e o completo declínio da civilização na destruição de seus arranha-céus, de auto-estradas e majestosos navios.

A direção de John Hillcoat limita-se acertadamente a acompanhar o cotidiano dos dois protagonistas, interrompidos por flashbacks do relacionamento do Homem e a Mulher, usando para isto os sonhos do Homem. Hillcoat também acerta na bela rima, quando o Homem ao deslizar sua aliança sobre uma superfície rachada, ilustra a plena separação da Mulher.

Porém, constatar o próprio limite do ser humano é o que torna A Estrada tão relevante. Pois, ao observarmos um pai ensinando um filho a se matar por temer não ter forças para o fazê-lo, vislumbramos que por mais angustiante que seja, este momento se encaixa perfeitamente naquele contexto. Paralelamente, o sorriso discreto surge ao testemunhar a ingenuidade nos olhos do Garoto ao beber uma simples coca-cola ou achar um depósito subterrâneo repleto de comida. Mas, é a imagem de um porão repleto de corpos quase cadavéricos e o eterno medo do canibalismo que aterroriza pela amoralidade de um ato que para muitos é o último recurso de sobrevivência.

Viggo Mortensen, discípulo do Método de atuação, entrega-se fisicamente ao papel, exibindo uma magreza extrema. Seu Homem, no seu pragmatismo diário por sobrevivência e imerso em pessimismo, não hesita de praticar atos brutais, como abandonar um ladrão apenas com a roupa do corpo. Já o Garoto (Kodi Smith-McPhee), a justificativa da própria vida do Homem, é a balança moral e emocional fundamental da narrativa, relembrando a partir de seus questionamentos infantis a necessidade de ser um homem bom. Já Charlize Theron, a Mulher, aflita ao por o filho no mundo devastado rende-se à decisão egoísta de abandonar a família e abdicar de sua própria vida. Mas quem poderia questioná-la? Finalmente, Robert Duvall, como um idoso andarilho, coberto em espessa maquiagem, nos lembra porque é um dos grandes atores do cinema em uma curta, porém intensa participação.

Humanidade apenas existe enquanto os homens mantiverem-se bons a si mesmos e aos semelhantes. Neste sentido, A Estrada peca no otimismo exagerado dos segundos finais. Mas até ali, o filme já se tornara uma experiência única, dolorosa e inquestionavelmente poderosa.

Avaliação: 5 estrelas em 5.

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4 comentários em “Crítica | A Estrada”

  1. Interressante como um filme e a realidade hoje em dia estao proximos. Ate onde podera ir nosso limite pela sobrevivencia??? Ou sera que ja estamos vivendo o nosso limite. Ate quando podemos ser corretos vendo tudo ao nosso aredor errado e manter um bom coracao… Agora vc me deu vontade de ver o filme! From Celly – U.S.A

  2. Ola Marcio Sallem! Tudo bem?
    Desculpas mas eu estou tentando encontrar esse filme aqui onde moro(Ocoee-Fl, U.S.A) mais nao consigo achar na blockbuster. Que chato ein…. Vc sabe algum site onde eu posso dar download nele pra mim??? Tks…

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