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Crítica | Alice no País das Maravilhas

Tim Burton é o autor cinematográfica de visão mais singular em atividade. Este é o combustível para que seus detratores acusem-no de privilegiar a estética em detrimento da narrativa, crítica que tem um pé na realidade especialmente se considerarmos seus últimos trabalhos, em que o cineasta encontra-se cada vez mais absorto em sua própria genialidade e, paradoxalmente, frio e distante de seus personagens e narrativas.

Alice no País das Maravilhas tem muitas das qualidades e defeitos de seu diretor, mas é uma surpresa em geral agradável, embora ausentes quaisquer ameaças à segurança da protagonista e de suas companheiros ou mesmo que a atriz Mia Wasikowska seja a Alice mais aborrecida a surgir no cinema, reagindo passivamente a tudo a seu redor como se estivesse em um sonho.

Mas, a narrativa é um banquete para os olhos e os enormes jardins apresentados na festa do castelo, em uma Inglaterra no final do século XIX, repletos de lindíssimas esculturas em árvores que poderiam ter sido feitas por Edward Mãos de Tesouro. Em seguida, ao cair na toca do coelho e atingir o mundo subterrâneo, Burton vê-se livre para criar cenários fantásticos. Do palácio da Rainha Vermelha, repleto de detalhes que remetem às copas do baralho – o batom, o trono, a venda do Valete – ao palácia da Rainha Branca, imerso em uma palidez etérea e fotografado soberbamente, o cineasta acerta constantemente em seduzir os olhos.

Além do design de produção, Burton também tem bons momentos, como a travessia sobre as cabeças das vítimas da Rainha Vermelha e a luta no tabuleiro de xadrez durante o epílogo. E mesmo falhando em flashbacks descartáveis, a concepção dos personagens digitais está ótima assim como aqueles que recorrem à maquiagem: os súditos reais apresentam alguma deformidade, o Chapeleiro Maluco, as fantásticas criaturas do mundo subterrâneo, o enorme dragão cujas asas contêm patas, até – óbvio! – à excepcional Rainha Vermelha…

… cuja maior alegria é em decapitar seus opositores. Mas, não a limitando a apenas a maldade, o roteiro lhe confere certa humanidade em sua maior dúvida vale mais a pena ser amada ou temida?. Helena Bonham Carter, que a interpreta, ousa e abusa dos excessos, do riso estridente a sua principal frase, criando uma ótima vilã formidável fazendo Johnny Depp empalidecer diante dela. Finalmente, o restante do elenco de apoio encontra-se uniformemente bem: a Rainha Branca de Anne Hathaway, que sempre caminha com as mãos elevadas, como se evitasse perpetuar qualquer mal, e o elenco de vozes que conta com Alan Rickman, Martin Sheen e Stephen Fry.

O roteiro de Linda Woolverton, porém, demasiadamente linear e episódico confere importância exagerada ao Chapeleiro Maluco. Burton também exagera na auto-indulgência, citando outras de suas obras, a árvore retorcida relembra a de A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça. Ainda assim, caindo nas mãos de um dos diretores mais convenientes para adaptar a visão louca de Lewis Carroll, é apenas uma pena que Burton não tenha a mesma dedicação do autor para com seus personagens, criando um espetáculo de cores e luzes, criaturas digitais, cenografia grandiosa e pouca vida.

Avaliação: 3 estrelas em 5.

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3 comentários em “Crítica | Alice no País das Maravilhas”

  1. Sinceramente, acho o Tim Burton mais modismo do que talento. É cult dizer que gosta de seus filmes. De todos que assisti, nada que mereça se eternizar. E esse Alice é muito mais uma estratégia de marketing do que talento, creio eu. Como Avatar.

  2. Concordo com Julio, filme lamentável e fazer o inverso do original, que pretendia deixar na dúvida, tirou a dúvida e pôs na certeza que era sonho, transformou a lição de moral em faça dinheiro após ter um sonho, ah, filme podre, se quer arte vá pintar um quadro.

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