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Crítica | Os Piratas do Rock

Até 1966, as rádios Britânicas dedicavam menos de 1 hora por dia ao rock ‘n roll. Isto difundiu o surgimento das rádios piratas, que se ainda não eram ilegais, ao menos causavam desconforto entre segmentos conservadores da sociedade que associavam as músicas à proliferação das drogas, violência e promiscuidade dos jovens. Levando o conceito ao pé da letra, Os Piratas do Rock nos leva a bordo de um navio (pirata?) que tem uma programação 24 horas de rock ‘n roll e cujos membros agem segundo os ditames das famílias desfuncionais do cinema.

Apaixonado por sua música, o que forçosamente faz com que a trilha sonora seja de tirar o fôlego, o diretor e roteirista Richard Curtis genialmente inicia a narrativa com telas divididas que relembram um rádio sintonizando em diversas frequências distintas para apresentar a história de James (Charlie Rowe), um jovem rebelde mandado a bordo do Barco do Rock para viver com seu padrinho Quentin (Bill Nighy). Lá, além de se tornar membro daquela família de DJs e apresentadores, James experimenta clichês como a perda da inocência e a busca pelo pai que não conheceu. Adotando múltiplas linhas, a narrativa se desenvolve também nos interesses de Alistair Dormandy (Kenneth Branagh) de tornar ilegal e fechar de vez as rádios piratas.

Richard Curtis mostra com eficiência como a música é algo pervasivo, democrático e sobretudo sem preconceitos. Os interlúdios musicais (as vezes, em excesso) revelam a capacidade do rock ‘n roll ser o elo comum entre sexos, raças e idades distintas. Além disto, Curtis acerta no bom humor, como na disputa entre os DJs The Count e Gavin tal qual um faroeste, ou no corte posterior ao casamento de Simon e na forma como é montada a apresentação da chegada do novo DJ.

Já a fotografia de Danny Cohen é feliz ao acentuar as cores nas cenas no barco, e observem como a câmera parece estar boiando, nunca nos deixando esquecer que nós estamos juntos com os personagens. Além disto, nas cenas envolvendo Dormandy e Twatt (Jack Davenport, em uma escalação inspirada, tendo em vista que ele foi o Comodoro Norrington que caçava o pirata Jack Sparrow em Piratas do Caribe), a fotografia frisa quase o tom de conspiração, usando closes, ambientes fechados e um tom essencialmente azul e triste. E não posso esquecer de citar que o bigode e o penteado de Dormandy instintivamente o remetem à Hitler.

Com um grande elenco, com nomes como Philip Seymour Hoffman, Bill Nighy, Rhys Ifans e Emma Thompson, Nick Frost rouba todas as cenas como Doctor Dave, um Austin Powers rechonchudo e muito divertido.

A experiência só não é melhor porque Richard Curtis estende demais a duração – quase 140 minutos -, perdendo a mão no último ato, com um tom mais trágico que não condiz com a narrativa. Mesmo assim, a seleção musical de fazer inveja ao Rob Gordon de Alta Fidelidade é agradável para mascarar os raros momentos ruins e ajuda a discutir o falso moralismo do conservadorismo britânico como sátira do nosso modo de vida e amadurecimento pessoal, e nisto, Piratas do Rock não se torna apenas tematicamente similar a Quase Famosos, como também na qualidade e no bom gosto.

Avaliação: 4/5.

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