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Crítica | Kick-Ass: Quebrando Tudo

Kick-Ass (recuso-me a usar o subtítulo nacional) é o raro exemplar de um filme que funciona em diversos níveis: sátira à cultura de celebridades e à exploração das histórias em quadrinhos como material de Hollywood; homenagem aos clássicos heróis dessas mídias, como Homem-Aranha ou Batman, criando o seu próprio universo de homens que, por altruísmo, vaidade ou vingança, decidem lutar contra o crime; e um baita estudo de personagem.

O roteiro apresenta Dave (Aaron Johnson), um jovem que ao se questionar o porquê de “nunca ninguém ter tentado ser um super-herói” resolve vestir uma roupa verde com dois bastões para combater o crime. Apesar do resultado beirar o desastroso, as redes sociais como YouTube ou MySpace transformam o rapaz em celebridade instantânea, despertando a atenção da mídia e do mafioso D’Amico (Mark Strong). Ao mesmo tempo, conhecemos Big Daddy (Nicolas Cage) e Hit Girl (Chloe Moretz), heróis em busca de vingança.

Baseado na graphic novel de Mark Millar e John Romita Jr., todo o primeiro ato da narrativa parece retirado da história de origem do Homem-Aranha (na única vez em que o tom de homenagem parece ter dado lugar para a cópia). Apresentando Dave como um rapaz inseguro e invisível cujos dilemas são os mesmos de Peter Parker, o garoto surge em uma busca incessante por notoriedade e popularidade e, claro, o coração de uma jovem garota.

Afora isso, o comprometimento do diretor Matthew Vaughn com o material é admirável, e isso se reflete na decisão de privilegiar enquadramentos em formato de HQ, bem como usufruir de recursos extraídos dessas mídias, como os balões explicativos e o genial interlúdio que apresenta a história de origem de Big Daddy. Cada quadro de Kick-Ass respira o universo em que se inspira e referências não faltam, seja na direção de arte (a residência suburbana de Dave remete a do Homem-Aranha), nos figurinos (Big Daddy assemelha-se ao homem morcego até no cinto de utilidades) e na crítica proposta por Watchmen).

Somam-se a isso as elegantes transições e elipses empregada pela montagem, como após receber a encomenda do uniforme e a sua primeira prova e no travelling do programa de TV que apresenta as ações de Kick-Ass vistas por personagens distintos.

Aproveitando o potencial de seu personagem, Aaron Johnson estabelece um interessante arco dramático evoluindo de geek inconsequente a alguém que admite a própria mortalidade, denunciada pelos frequentes ferimentos. Mark Strong, por outro lado, repete o mesmo papel que vem fazendo na última meia dúzia de filmes – e ao menos, é gratificante vê-lo treinando artes marciais, porque em determinado momento isto será justificado na narrativa. Já Nicolas Cage abraça a caricatura no insano retrato de Big Daddy, desde sua risada anasalada à forma com que se comporta ao ver sua filha em ação em uma cena chave. Aliás, a demência do personagem é apresentada logo em sua primeira cena ao disparar um tiro na própria filha, Hit-Girl, o destaque do filme. Interpretada com intensidade por Chloe Moretz, a garota de 11 anos é uma sociopata ambulante, cruel, sanguinária, porém justa (no seu próprio conceito de justiça). Apaixonada por armas, ela respira violência e mesmo ingênua (Big Daddy a corrige quando entra em ação pela primeira vez), não duvidamos em nenhum momento de suas ações, o que é fundamental para eficácia da narrativa.

Apostando em uma trilha sonora vibrante e contagiante, Kick-Ass ainda surpreende com duas cenas antológicas: uma envolvendo visão infravermelho cujo potencial é acentuado pelos gritos alucinados de Big Daddy e a outra a canção Aleluia e tocada no pano de fundo de uma ação de invasão.

Violento e empolgante, ao mesmo tempo em que joga uma luz na natureza humana e na necessidade que todos temos de sermos especiais, Kick-Ass para quem entende bem inglês, realmente kicks ass!

Avaliação: 4 estrelas em 5.

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