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Crítica | Comer Rezar Amar

Antes de mais nada, não li o livro baseado nas experiências da escritora Elizabeth Gilbert e tampouco considero importante tê-lo feito para analisar a obra adaptada. Assim, antecipo que Comer Rezar Amar comete inúmeras falhas razoavelmente compensadas pela escolha de locações e as boas atuações do elenco, tornando-o uma experiência boa, mas nunca memorável.

A natureza da jornada de autodescoberta de Liz revela-se um obstáculo para o diretor Ryan Murphy que nunca consegue conferir uma linguagem uniforme e fluida para encadear os destinos da moça. Ao invés de ser inovador, o inexperiente diretor caí na mesmice ao usar elementos familiares ao descrever cada escala na viagem de Liz: a agitação eufórica na Itália, o tom contemplativo na Índia e o aspecto virgem e naturalístico de Bali. Jamais funcionando de maneira regular, o filme é desequilibrado e episódico permitindo que o espectador consiga pinçar o destino que o mais agradou ao invés de embarcar na viagem plenamente.

A narração de auto-ajuda in-off deve funcionar no livro e, apesar de oferecer uma sabedoria válida, se torna auto-indulgente comprometendo o ritmo. Desta forma, Ryan Murphy aleatoriamente despeja sobre o espectador recursos de composição de quadro e movimentação de câmera no intuito de conferir agilidade, mas que acabam denotando a imaturidade do diretor. E vão estranhos enquadramentos de baixo para cima, deselegantes travellings e panorâmicas sem quaisquer justificativa diegética.

A falta de inspiração da produção contagia a fotografia de Robert Richardson que é bela apenas por retratar lugares idílicos. Até a trilha sonora de Dario Marianelli é pedestre reusando temas típicos da Itália e Índia – Bali é uma exceção ao introduzir a música brasileira, o que ocorre mais pela história em si do que por escolha do compositor. Ao menos a montagem de Bradley Buecker funciona, como no jantar entre amigos intercalado com a reunião de divórcio de Liz ou na tentativa de vestir uma calça jeans concomitante a um jogo de futebol. O montador é também feliz na dança de Liz e Stephen (Billy Crudup) quando, acertadamente, intercala ambientes distintos na fluidez de um único movimento.

Se narrativamente falho, Comer Rezar Amar apresenta ótimas atuações: Billy Crudup está digno revelando traços de insegurança na maneira quase surreal de enxergar a sua própria vida e que irá contrastar com a entrega do apaixonado e calejado Javier Bardem; mas é James Franco, como um ator envolvido por ideias e sofismas, e Richard Jenkins que em um breve momento no telhado consegue revelar a enorme dor da perda, que se destacam no elenco de apoio. Sem esquecer, claro, o divertido Hadi Subiyanto, o Xamã Ketut.

Enquanto isso, Julia Roberts merece aplausos em tornar a experiência agradável. Atriz carismática e magnética, ela vive Liz ligeiramente acima do peso e apática com o rumo que sua vida toma – algo que a atriz transmite facilmente com sua fragilidade e o tom derrotado que emprega na voz. Julia ainda chora copiosamente durante uma oração, é discreta e melancólica nas sequências seguintes e se entrega a um estado de alegria absoluta quando ajuda uma amiga em Bali.

Ela, no final das contas, quem dá à experiência um algo a mais do que um simples cartão postal de auto-ajuda.

3 estrelas em 5.

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