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Crítica | Thor

“Qualquer tecnologia suficientemente avançada parece mágica”. Cunhada por Arthur C. Clarke, esta citação se encaixa perfeitamente na descrição de Thor, a nova aventura dos estúdios Marvel e a mais trabalhosa de ser realizada segundo os novos padrões de realismo nas histórias de super heróis. Isto porque o equilíbrio entre o universo fantasioso de deuses nórdicos em e as teorias físicas exige uma aceitação bem maior do espectador do que a concepção de uma armadura avançada em o Homem de Ferro ou a mutação genética causada por raios gama em Hulk. Logo, é digno de aplausos que o roteiro de Ashley Miller, Zack Stentz e Don Payne baseado no argumento de J. Michael Straczynski e Michael Protosevich consiga satisfatoriamente encaixar o Deus do Trovão no universo diegético da vindoura reunião de super-heróis de Os Vingadores.

Créditos sejam dados aos executivos da Marvel, em especial o produtor Kevin Fiege, que dotado de pleno conhecimento do universo de heróis e dos atrativos de cada um, transformou os quadrinhos em aventuras agradáveis, respeitosas e com o coração no lugar certo. E ainda que afugente a produção autoral, como à vista no Batman de Christopher Nolan ou no Hulk de Ang Lee, Thor é um grande começo para a temporada de blockbusters com um aventura eficiente e equilibrado, apostando na opulenta direção de arte, nos excelentes efeitos visuais e no drama shakesperiano conduzido pelas mãos do diretor Kenneth Brannagh.

Apresentado a partir de um longo flashback no qual explica o porquê do banimento de Thor à Terra (ou Midgard), visitamos Asgard, mundo dos deuses nórdicos e apresentado com reverência e propriedade por Brannagh em um lindo plano contra-plongé que acompanha desde a Terra até as estruturas em ouro das moradas e a belíssima ponte arco-íris. Comandada por Odin (Anthony Hopkins, competente como de praxe), Asgard prospera um período de paz com os gigantes de gelo até que uma invasão destes às câmeras internas provoca um contra-ataque violento e irresponsável do orgulhoso e arrogante Thor (Chris Hemsworth). Manipulado sem perceber pelas palavras de seu invejoso irmão Loki (Tom Hiddleston), Thor é despido do poderoso Mjolnir que lhe confere seus poderes e enviado à Terra para apresentar a ser humilde. Encontrado no meio de um furacão pela cientista Jane Foster (Natalie Portman), o Dr. Selvig (Stellan Skarsgard) e Darcy Lewis (Kat Dennings), Thor também começa uma corrida para evitar a destruição da Terra.

Melhor quando situado em Asgard do que na Terra, a narrativa encontra a sua veia shakesperiana no confronto traiçoeiro engendrado por Loki. Em terreno conhecido, Kenneth Brannagh desenvolve sutilmente a crescente angústia e vilania de Loki (uma espécie de Iago), que envenena com suas trapaças e retórica aqueles ao seu redor. E se me detenho em Loki é porque ele é o personagem mais interessante da narrativa, escondido atrás da falsa fragilidade e palavras mansas e doces de Tom Hiddleston. É apenas natural, portanto, que a força de Thor encontre um adversário tão grande em Loki, pois a honradez daquele não o deixam enxergar a malícia do irmão – por isso, a única lágrima despejada por Thor, depois de um diálogo com Loki, tenha tanta força dramática. Aliás, Chris Hemsworth parece ter nascido para interpretar o poderoso deus, pois além do australiano parecer fisicamente a um nórdico, ele transmite a arrogância e orgulho de um rei no caminhar, no olhar e no gestual, e a frustração dele ao não conseguir erguer o Mjolnir contrapõe isto de forma simples e competente.

No entanto, ao migrar para Terra, a narrativa perde a magia. Investindo no choque cultural de Thor, e dos guerreiros Asgardianos em seguida, é divertido acompanhar suas ações que o tornam, vejam só, mais humano. Beneficiando-se das intervenções da personagem de Kate Dennings, o humor se sobressaí à urgência que deveria existir na narrativa. Além disso, todos os “terráqueos” são unidimensionais e desinteressantes: Natalie Portman até é carismática, mas o fascínio provocado em Thor e a subtrama romântica são mais difíceis de engolir do que todo o subtítulo fantástico.

Falhando em estabelecer a lógica dos enquadramentos, recorrendo a planos inclinados sem propósito narrativo, inclusive em inocentes establishing shots, Kenneth Brannagh saí-se melhor no trabalho com o diretor de fotografia Haris Zambarloukos cujos tons dourados e panorâmicas conferem a imponência necessária à bela Asgard, adentrando no monocromático na terra dos gigantes de gelo. Com uma ótima direção de arte de Bo Welch, auxiliada por efeitos especiais, belos elementos maravilham os olhos, como a já mencionada ponte arco-íris ou o domo protegido por Heimdall através do qual ocorre a viagem para outros mundos. Fãs também gostarão de ver a presença do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e a inteligente menção ao Dr. Donald Blake, o médico manco que era o alter-ego de Thor nos quadrinhos.

Evitando recair no erro de Homem de Ferro ou Hulk, donos de clímax decepcionantes, Thor pode até não ter rival, mas a batalha final é satisfatória. A primeiro contra o Destrutor, uma espécie de robô a princípio confundida como “uma das invenções de Stark” (piada interna), o outro é Loki, hábil ilusionista. Mais do que isto, os 20 minutos finais de Thor são empolgantes, ajudando até a tornar o bobo relacionamento amoroso em algo aceitável.

Despedindo-se, temporariamente, do mundo mágico de Asgard com um travelling naturalmente nostálgico, a Marvel, mais uma vez, acertou o martelo em cheio.

P.S.: após os créditos finais tem uma cena importante.

Avaliação: 4 estrelas em 5.

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1 comentário em “Crítica | Thor”

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