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Crítica | X-Men: Primeira Classe


Ficha Técnica: X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Classe, 2011, Estados Unidos). Direção: Matthew Vaughn. Roteiro: Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman, Matthew Vaughn. Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Rose Byrne, Jennifer Lawrence. Duração: 132 minutos. Avaliação: 5 estrelas em 5.

Charles Xavier nasceu em berço de ouro e desde jovem manifestou compaixão e espírito conciliador. Acadêmico idealista e liberal, ele busca a luz nas trevas da humanidade e esperançosamente crê na capacidade dos homens em aceitarem as diferenças e conviverem pacificamente. Erik Lehnsherr, por outro lado, experimentou os horrores de um campo de concentração nazista e testemunhou a morte de sua mãe nas mãos de homens cruéis. Agressivo, vingativo e melancolicamente desolado, ele é um produto do meio e acredita que apenas uma revolução evitará um novo holocausto. Esses dois homens, que em outro momento histórico, podiam ter se chamado Martin Luther King e Malcolm X, ou ter assumido o nome de filósofos, como Locke e Hobbes ou Hegel e Marx, são mutantes, o novo estágio da evolução humana. Tomando o medo do desconhecido, o preconceito e a razão, Xavier luta pela na paz e Erik aguarda a iminente guerra. Do duelo ideológico dos dois, oportunamente ilustrado em um jogo de xadrez, reside o coração do excelente X-Men: Primeira Classe.

Remontando à década de 60, no auge da Guerra Fria, o roteiro escrito a oito mãos é coeso e robusto para funcionar em diversos níveis. Usando o pano de fundo da crise dos mísseis de Cuba e inserindo alguns elementos peculiares daquele período, como a suposta seção de paranormalidade da CIA, o roteiro integra os personagens fantásticos do universo dos quadrinhos de maneira orgânica naquele período histórico. Ao mesmo tempo, a narrativa não ignora a trilogia original com sutis referências (a abertura remete ao X-Men de 2000), a menção a outros personagens (William Stryker, o vilão da continuação) e a criação de importantes dispositivos (o Cérebro e o capacete do Magneto). Há espaço para um bem-vindo humor, no cuidado de Xavier com o cabelo, a descontração do batismo dos jovens mutantes e a participação especial de uma figura querida no universo.

Mais do que isso, o roteiro alcança a proeza de desenvolver satisfatoriamente toda a dúzia de personagens em cena, construindo arcos dramáticos e eventos importantes que nos levarão à formação que nos acostumamos dos X-Men no cinema. Superando a trilogia original de maneira ousada e determinada, não faltam momentos de impacto dramático do mesmo quilate daqueles presenciados em X-Men: A Batalha Final (2006) e cenas de ação eletrizantes, como o massacre de Azazel semelhante à invasão de Noturno à Casa Branca em X-Men 2 (2003), além do olhar atento às inadequações daqueles jovens, o medo da perseguição por serem diferentes e a amizade conflituosa e honesta de Xavier e Erik.

Dirigido por Matthew Vaughn, a intrincada narrativa é desenvolvida com segurança e penetra no complexo contexto geopolítico com igual facilidade com que acompanha o desenvolvimento dos poderes dos jovens mutantes. Vaughn, junto aos ótimos montadores Eddie Hamilton e Lee Smith, acrescenta uma linguagem bastante similar aos quadrinhos, com a dinâmica montagem do treinamento análoga à experiência de folhear uma HQ ou as fluidas elipses na busca de novos mutantes através do Cérebro. O diretor também tem sensibilidade na rima visual de Erik ao repetir o mesmo gesto de estender as mãos desesperadamente em direção a um objeto em dois momentos distintos, um na infância e outro no clímax da narrativa. E o que falar do raccord no plongé que revela a disposição das armadas e depois transforma-se na tela de um radar?

Amadurecendo diante de nossos olhos, o jovial e vivaz Xavier vivido por James McAvoy, que comprova a sua tese científica com ímpar alegria, põe à prova seu otimismo ao testemunhar as cruéis ações do melhor amigo, o que acabam justificando porque viria a ser um pai para mutantes renegados. Já Michael Fassbender se coloca à altura do Erik interpretado por Ian McKellen, tornando-se o mais trágico da narrativa diante de sua incapacidade de superar a angústia do passado. Assim, é comovente o instante em que ao lado de Xavier, ele consegue amplificar seus poderes e mover um grande obstáculo revelando tudo o que o holocausto arrancou sem piedade daquele homem. Incapaz de ser um vilão, mas somente uma espécie de Frankenstein criado pelas ações de Sebastian Shaw (Kevin Bacon, diabolicamente o melhor vilão da franquia), é curioso como ele adota o discurso elitista pró-mutantes daquele, com direito a uma simbólica passagem de bastão na figura do seu inconfundível elmo.

Se Jennifer Lawrence revela o trauma de todo a adolescente que não enxerga no espelho aquilo que sua vaidade desejaria, Hank McCoy (Nicholas Hoult, muito bom) reforça o medo da garota sendo imediatamente reprovado por Erik, justificando o porquê dela se transformar no braço direito daquele homem no restante da trilogia. Os demais jovens do elenco tem a personalidade melhor definida pelos seus poderes: Banshee dispara ondas sônicas da boca e o Destrutor é um impetuoso jovem que dispara poderosas rajadas do peito.

Fotografado com personalidade por John Mathieson, cada País ganha uma assinatura visual ligeiramente distinta, enquanto a trilha sonora de Henry Jackman confere imponência a momentos chaves sem apostar em excessos.

Atual, uma vez que a discriminação coabita conosco diariamente, grandioso como toda grande produção deve ser e orgulhoso de suas origens nos quadrinhos recheando-se de referências bem sacadas, X-Men: Primeira Classe é o melhor exemplar da saga mutante e a melhor adaptação de histórias em quadrinhos junto com O Cavaleiro das Trevas. Preciso dizer mais?

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4 comentários em “Crítica | X-Men: Primeira Classe”

  1. Achei que o filme teve alguns pontos que foram mal trabalhados: 1) A amizade de Erik e Xavier. Eles eram tão amigos, mas isso não ficou claro no filme, parecia que SÓ Xavier era amigo de Erik; 2) A Raven vive com o Xavier desde criança, é tratada como irmã, nos momentos finais do filme vai com o Erik sem nem hesitar, e deixa o Xavier lá no chão sem nem se preocupar com o que pode acontecer com ele. Isso não parece coisa que uma irmã faria?
    Achei o filme ótimo, mas com alguns pontos mal explorados

  2. Eu discordo de você Anônimo. Acho que muitos dos pontos mal explorados podem ser justificados pela essência e natureza dos personagens.

    1- Xavier é um homem agregador e gregário, sendo apenas natural que ele tente ser mais amigo e se aproximar de Eric do que vice-versa. Além disso, os traumas de Eric são muito grandes para que ele possa novamente dispor de maior humanidade (ou mutantidade, você escolhe rss).

    2- Quanto a Raven, muito se explica por duas cenas. Apesar da amizade incondicional dela com Xavier, o descaso deste com a sua aparência e a aceitação de Eric acabam a levando a escolher lados com mais facilidade. Sim, ela "abandona" Xavier quando este imediatamente estava aleijado, mas é um defeito bem menor e no apagar das luzes que passa desapercebido.

    E gostei de, mesmo com suas ressalvas você continua achando o filme ótimo!

    Até a próxima.

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