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Crítica | Assalto ao Banco Central


Assalto ao Banco Central (Brasil, 2011). Direção: Marcos Paulo. Roteiro: Rene Belmonte, Lucio Manfredi. Elenco: Milhem Cortez, Lima Duarte, Giulia Gam, Eriberto Leão, Eduardo Magalhães, Tonico Pereira, Créo Kalleb. Duração: 99 minutos. Cotação: 2 estrelas em 5.

Maior furto da história brasileira, o assalto ao Banco Central envolveu uma enorme cadeira de criminosos, de níveis sociais e estados diferentes, contando até com a participação do PCC. Com este pedigree e a ousadia de criminosos que cavaram um túnel de cerca de 80 metros para concretizar o inimaginável, Assalta ao Banco Central tinha um potencial cinematográfico gigantesco, algo que só aumenta a decepção do espectador diante deste esforço pedestre e narrativa capenga de Marcos Paulo.

Inspirado no subgênero de roubo de bancos (óbvio!), Marcos Paulo desenvolveu uma desajeitada misture entre Onze Homens e um Segredo, Os Suspeitos e Trapaceiros de Woody Allen: do primeiro, ele suga a formação do bando, com direito ao próprio Danny Ocean na figura de Barão (Milhem Cortez); do segundo, a investigação dos delegados Amorim (Lima Duarte) e Telma (Giulia Gam); do último, resta o tom cômico involuntário. E mesmo contando uma história de conhecimento popular amplo, Marcos Paulo consegue estragar o suspense em decisões impensadas na montagem das linhas narrativas entre cada faceta da história.

Quando um funcionário de inspeção sanitária bate à porta do esconderijo dos bandidos, Marcos Paulo tem a má decisão de rapidamente cortar para o depoimento dele. Assim, o comportamento ameaçador de Firmino (Cadu Fávero) durante a visita e as tentativas de Mineiro (Eriberto Leão) de amenizar a situação perdem o suspense porque evidentemente sabemos que o agente sanitário sairá ileso da casa. Da mesma forma, após a morte de Saulo (Créo Kellab), a montagem desastrada pula para a linha temporal investigativa em que Amorim anuncia a morte de outro personagem, transformando a extorsão ocorrida no terceiro ato em um anti-clímax, pois já sabemos que a vítima morrerá.

Com graves problemas de estética visual, a narrativa apresenta enquadramentos e mise en scène deselegante, exagerando nos planos médios adequados à televisão e ganchos que parecem saídos dos folhetins da Globo. E o que dizer da perseguição de um carro cegonha empalidecendo até diante de cenas gêmeas de novelas menores? Finalmente, a trilha sonora de André Moraes relembra o cinema de ação da década de 80, mas não de uma forma elogiosa, pecando principalmente pelo uso excessivo dos acordes graves nos momento chave da narrativa.

O roteiro de Rene Belmonte, habituado a comédias e romances (Se Eu Fosse Você 1 e 2, Sexo com Amor), consegue transformar uma história com potencial eletrizante em uma narrativa cansativa que mal se preocupa em se aprofundar no tema, satisfazendo-se apenas em explorar superficialmente e abandonando as diversas motivações políticas e criminosas existentes. O destino de uma quantia do dinheiro enviado para o Rio Grande do Sul e realização de um furto similar não são mencionados, o envolvimento de políticos e autoridades do alto escalão ganha ênfase pontual na presença do enigmático Cássio Gabus Mendes e sequer os letreiros finais se incomodam de dar informação recente sobre o caso, como é de praxe em narrativas baseadas em uma história real

O desinteresse do roteirista cria personagens unidimensionais, descritos facilmente por seus ofícios e opções pessoais do que por suas ações. Barão é a mente do crime e a referência a Arte da Guerra ou a ilustração dele jogando xadrez consigo mesmo vêm para mostrar quão inteligente ele é; Mineiro é um sujeito que não resiste a um rabo de saia; Devanildo (Vinícius de Oliveira), um evangélico que pede perdão a Deus a todo instante; Tatú (Gero Camilo), o engraçadinho da turma. Até o advogado do bando interpretado por Daniel Filho é de uma canastrice enorme, andando com óculos escuros mesmo dentro de uma sala fechada de interrogatório ou na sua casa.

Assim, não chega a surpreender que Tônico Pereira se destaque no elenco, arrancando risadas com o seu jeitão debochado comunista, e que Lima Duarte consiga construir o personagem mais interessante da narrativa, o típico policial prestes a se aposentar, mas apegado a décadas de trabalho na corporação. Finalmente, sinto dificuldade em esclarecer as motivações de Carla (Hermila Guedes), pois em um momento ela é vista como uma ninfomaníaca interessada apenas no dinheiro do Barão, para em seguida ser vista como a “mocinha” ingênua da narrativa apaixonada por Mineiro.

Raramente superando a má direção, o fato narrado é pontualmente interessante e até prende o espectador, mas no final das contas, um crime ainda maior foi cometido: o assassinato de uma das maiores história de assalto a banco já vistas no mundo.

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4 comentários em “Crítica | Assalto ao Banco Central”

  1. Que isso, Marcio? Tá ficando muito bonzinho dando duas estrelas pra este filme hahaha. Concordo plenamente com o seu P.S. Como o Brasil quer que a população aceite os homossexuais sendo que até o nosso cinema encara-os de maneira debochada? É triste observar essas coisas. Parece que conseguiram estragar uma das melhores histórias de nosso país. Que sirva de lição! Não pode confiar ótimos projetos a pessoas que o tratam com desdém.
    Abraços! Ótima análise como sempre!

  2. lamento. enquanto "críticos" brasileiros seguirem, inescrupulosamente, esperando que o brasil produza fimes norte-americanos, seguiremos tendo pseudo-críticas, se passando por análises intelectuais no uso de termos vazios, absolutamente distantes dos filmes, e se aproximando muito mais com o ego dos "críticos".

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