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Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2


Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows – Part 2, Estados Unidos, 2011). Ano: 2011. Diretor: David Yates. Roteiro: Steve Kloves. Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Michael Gambon, Alan Rickman, Helena Bonham Carter, John Hurt. Duração: 130 minutos. Cotação: 4 estrelas em 5.

A última aventura de Harry Potter deveria ser uma montanha russa de emoções, um grande clímax que prendesse o espectador à beira da poltrona até os saudosos e agridoces créditos finais. Embora bastante próximo do seu intento, a necessidade de atar as pontas de 7 filmes e a busca de um desfecho honrado para todos os personagens representam os principais deslizes de Relíquias da Morte – Parte 2. Para uns, os deslizes podem ser perdoados pelos laços afetivos criados pela série baseada no universo imaginado pela escritora J. K. Rowling; ironicamente, usar os sentimentos alimentados nos filmes anteriores só comprova a fraqueza de um episódio que não é o desfecho que merecia a série.

Se os problemas da Parte 1 foram causados por causa deste aposto, os da Parte 2 nascem logo no roteiro adaptado de Steve Kloves que simplesmente não tem mais tempo para tomar decisões calculadas. Assim, a busca de um dente de basilisco e da penúltima horcrux exige uma enormidade de concessões como o avoado Ron memorizar a linguagem de serpentes ou Harry, na pressão em que estava, rapidamente decifrar um enigma importante. o tempo exíguo não permite uma despedida apropriada de importantes personagens como Remus Lupin (David Thewlis) ou Bellatrix Lestrange (Helena Bonham Carter), que sequer abre a boca, e estou, evidentemente, excluindo o momento que Hermione a personifica, tendo o adeus mais anti-climático de toda a série.

Clímax cujos ápices são interrompidos por interlúdios, flashbacks e sequências de menor relevância que não contribuem para o episódio final e eram mais apropriadas na Parte 1. E nem tudo o que se lê no livro caberia exatamente no cinema, pois se o flashback de Snape é imprescindível para o tornar a figura mais trágica da série, interromper a destruição de Hogwarts é uma decisão que compromete a intensidade da sequência e o ritmo da narrativa. Pior só a cena onírica em que Harry reencontra o professor Dumbledore em um interlúdio que não acrescenta nada de novo.

Similarmente, o diretor David Yates acaba escorregando juntamente com os defeitos da narrativa, mas exibe o talento da escola britânica de cinema nos movimentos de câmera e recursos perfeitamente adequados à narrativas. Os planos inclinados apresentam o desconforto quando Voldemort se comunica telepaticamente com os feiticeiros de Hogwarts; o plano baixo introduz de maneira grandiosa Snape; os travellings panorâmicos ilustram a destruição da escola em planos tragicamente análogos àqueles quando a sobrevoamos no verão ou primavera dos primeiros episódios. E que visão terrível a destruição da arena de Quadribol cujo gradual abandono acabou traduzindo o tom mais ameaçador que a aventura de Harry Potter vinha ganhando ao longo dos filmes.

Uma aventura que encontra momentos emocionantes como o duelo de Minerva (Maggie Smith) e Snape, a reunião dos professores para defender o perímetro da escola e os atos de bravura de Neville (Matthew Lewis) que, anteriormente, era destacado por sua covardia. Ao mesmo tempo, uma aventura claustrofóbica, percorrendo espaços sufocantes que refletem o isolamento da cruzada de Harry Potter, responsabilizando-se pelo sacrifício dos outros por sua causa. Assim, é apenas lógico que a narrativa encontre nos túneis estreitos, nos corredores e salas apertados e em uma opressiva floresta os recônditos ideais para traduzir em imagens a solidão do herói que enfim entendeu a necessidade da união de todos nas tomadas abertas e à luz do dia no crepúsculo final.

Sombrio, o diretor de fotografia Eduardo Serra usa diversas paletas de cores e a fotografia noturna para conferir urgência aos eventos. A névoa, neste sentido, e a aproximação dos dementadores e comensais da morte confere uma aura sinistra imposta desde os minutos inicias na ausência da clássica trilha sonora de Alexandre Desplat substituída por acordes lamuriosos e trágicos.

Porém, como me despedir sem frisar o amadurecimento de, as vezes irritantes, atores mirins em talentosos e sensíveis adolescentes? Neste sentido, David Yates confere a importância necessária ao trio de protagonistas, jovens que eternizaram seus nomes como Harry, Ron e Hermione e revelaram o lado trágico do amadurecimento prematuro na batalha contra o mal. E é interessante observar que com o passar dos anos, eles não mais eram ofuscados pelo sempre excelente elenco de apoio, com nomes lendários como do falecido Richard Harris, Alan Rickman, Michael Gambon, Maggie Smith, Kenneth Brannagh, Emma Thompson, John Hurt, Julie Walters, Gary Oldman e outros.

Já Ralph Fiennes é um caso aparte. Interpretando Voldemort com disciplina, entonando frases sílaba a sílaba com precisão ofídica, o ator jamais permitiu se vangloriar de sua maldade, adotando uma postura contida, mas não menos cruel, do homem preso pelos próprios grilhões da solidão que busca infligir aos outros. Assim, a rivalidade do conflito entre ele e Potter ganha contornos shakesperianos, pois Voldemort parece dedicado a destruir o único que o compreenderia por completo. Um duelo que representa o ponto mais alto e a maior recompensa de toda a série, ilustrado no salto suicida de Harry e Voldemort que se fundem em apenas um, ilustrando a confusão e atração indistinguível entre o bem e o mal.

Algo que diretores como Alfonso Cuarón, Mike Newell e David Yates exploraram bem e que, juntamente a amizade do trio de protagonistas, representa o coração desta mágica aventura, reencontrando no jingle tradicional da série e no trem que nos trouxe a este mundo, a nossa, triste, passagem de volta à realidade.

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6 comentários em “Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2”

  1. O paragrafo sobre Ralph Fiennes esta perfeito! Gosto de analises psicológicas sobre os personagens hehe.
    Abraços
    P.S. Meu PC esta sem acento :/
    Também escrevi uma resenha, Marcio. Tente dar uma passadinha la. Linkei seu blog na sessão de "Recomendados"!

  2. Discordo em um ponto, acho que a cena do Snape e a cena do dumbledore ficaram boas, e que sem elas nenhum fã se sentiria realizado uma vez que essas são as duas das melhores cenas do livros (junto com a historia do dumbledore que foi cruelmente cortada)e de certo uma das mais esperados (eu mataria todo o elenco se retirasse essa cena). Logo a solução para o que tu disse não seria retirar as cenas e sim adequar o ritmo do resto do filme a essa história, acredito que o ponto mais fraco da adapataçao do harry nos cinemas é que eles atropelam muito o filme em cena de açao,muitas vezes desnecessarias, e retira os enigmas pessoais os sentimentos e a história em sim

  3. Concordo, especialmente a cena de Snape que é decisiva para fazê-lo o melhor personagem da franquia. O mesmo não digo do momento onírico de Harry e Dumbledore (mas você que leu o livro deve ter maior afeição a cena do que eu, que achei desnecessária no contexto da narrativa). De toda sorte,e como eu disse no terceiro parágrafo, existiam momentos mais adequados para inserir o flashback de Snape e a primeira parte, ou mesmo nos primeiros momentos desta parte, seriam mais adequados. Claro que exigiria maior esforço do roteirista em contornar isto, pois o livro de J. K. Rowling sofreria essa mudança… enfim, é uma decisão difícil.

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