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Crítica | Planeta dos Macacos: A Origem

Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, Estados Unidos, 2011). Direção: Rupert Wyatt. Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver (baseado no livro de Pierre Boulle). Elenco: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, John Lithgow, Brian Cox, Tom Felton. Duração: 105 minutos.

Talvez eu seja um dos únicos a gostar da sombria refilmagem de O Planeta dos Macacos de Tim Burton. Também faço parte do pequeno grupo que não consiguiu abraçar sem restrições o sucesso desta prequel intitulada de Planeta dos Macacos: A Origem, preocupantemente misturando estilos narrativos díspares e apresentando personagens humanos desinteressantes. Para quem, assim como Charlton Heston em 1968, aterrizou no mundo só agora, a distopia apresentada pelo escritor francês Pierre Boulle acompanha um planeta dominado pela raça símia cujos hábitos, estilos de vida e comportamento são similares aos dos humanos.

Dedicado a explorar a lacuna que mostra a evolução dos nossos pares selvagens e como a raça humana perderia controle do seu planeta, os roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silva acompanham o cientista Will Rodman (James Franco disperso) que, após cerca de 5 anos de pesquisa e testes em símios, parece ter conseguido desenvolver um medicamento para combater doenças degenerativas. Influenciado por razões pessoais (já que o seu pai tem Alzheimer), Will não engata os planos de comercialização do medicamente assim que a cobaia apresenta sinais de violência. Isto, porém, produz um fruto inusitado: o bebê símio César, cujo DNA lhe concede uma inteligência sobre-humana. Levando o bebê para casa, o amadurecimento de César é o ápice da narrativa e o maior esforço em superar as convenções de uma grande produção.

Aos 3 anos, César parece uma criança brincalhona e curiosa que rapidamente cria um laço afetivo e paciente com Charles (John Lithgow, a única boa atuação humana). É inevitável que César roube a cena e alcance status de protagonista, surgindo mais próximo daquilo que entendemos ser humanidade. Também é uma questão de tempo para que ele aprenda sobre o lado negro da humanidade, mais interessada em lucros, proveitos pessoais e na satisfação egoística.

Dirigido por Rupert Wyatt, a narrativa acerta ao acompanhar intimisticamente os seus personagens e permitindo que a sua câmera fluida siga os movimentos ágeis de César dentro da casa e nos galhos de uma grande floresta de sequoias – que funcionam como ótima elipse para mostrar o amadurecimento do símio. Questionando-se se não é só um animal de estimação graças à coleira que deve usar, um magoado César acaba respondendo à agressão sofrida por Charles e pratica um ato de violência que o leva a uma espécie de presídio.

Bem nesse ponto, a narrativa falha em se manter à altura dos padrões estabelecidos na metade anterior, revisitando clichês, como o guarda mau que molesta os presos, o guarda bom que condena as ações do colega, mas se omite, o macaco-alfa que se impõe diante dos outros, a amizade entre detentos e as visitas dos parentes, no caso Will e sua namorada Caroline (Freida Pinto, igualmente aborrecida). Ao mesmo tempo, ocorre no laboratório o desenvolvimento antiético de uma nova fórmula, convenientemente substituída por um aerosol para facilitar as ações de César em dar inteligência aos seus pares.

Falhando em responder muitas perguntas, se Will ofereceu uma volumosa quantia para tirar César da cadeia e John Landon (Brian Cox, sem dizer a que veio), prontamente aceita, por que o rapaz não fez isto desde o início? Ao invés de responder, o rapaz encara a morosidade da justiça e se contenta em se manter distante nas visitas ao antes amigo. Portanto, também não é surpresa que César se aproxime tanto dos seus iguais, pois ele não encontra o mínimo de anteparo emocional na expressão dura e sem vida de James Franco – e reparem que a morte de um personagem importante jamais é mencionada para o símio, que também não faz muita questão de saber.

Com um clímax mal decupado, Rupert Wyatt parece ter perdido as aulas de aritmética e quase quintuplica a quantidade de primatas nas ruas de São Francisco, como ilustra a tomada aérea do ataque dos símios. Além disso, eu não sei se a estratégia de César na ponte tenha sido inteligente ou se os humanos que agiram com completa burrice. Enfim, se os efeitos especiais são perfeitos na recriação de César, eles apresentam falhas especialmente quando acompanhamos os macacos na neblina, claramente denunciando a artificialidade da técnica.

Introduzindo referências à série original, a homenagem a Charlton Heston, e a icônica cena do osso em 2001: Uma Odisséia no Espaço, Planeta dos Macacos: A Origem é melhor como esforço solo de Andy Serkis, que usando praticamente apenas os olhos e a linguagem corporal transmite mais do que os outros atores em cena. Acima de tudo, um ator cujo reconhecimento em prêmios já deveria ter vindo há mais tempo.

Pena que a maior qualidade da origem do domínio símio na Terra esconda, nas entrelinhas, o principal elemento crítico desta boa e irregular visitação ao futuro planeta dos macacos.

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3 comentários em “Crítica | Planeta dos Macacos: A Origem”

  1. Ótima crítica. A questão dos macacos quintoplicados também me incomodou muito, foi algo que acabei deixando de fora do texto, mas é de suma importância. De qualquer modo, se fosse rever o filme, penso que ficaria com a cotação igual a sua mesmo. Não sei… essas coisas são complicadas mesmo, e fico com a sua fala em um dos meus post recentes: "Só filmes muito bons ou muito ruins inspiram boas críticas"…

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