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Conan, O Bárbaro

Ficha Técnica: Conan, O Bárbaro (Conan, The Barbarian), 2011, Estados Unidos. Direção: Marcus Nispel. Roteiro: Thomas Dean Donnelly, Joshua Oppenheimer, Sean Hood (baseado nos personagens de Robert E. Howard). Elenco: Jason Momoa, Rachel Nichols, Stephen Lang, Ron Perlman, Rose McGowan. Duração: 113 minutos. 
Antes de analisar esta nova versão do cimério Conan, criado por Robert E. Howard e popularizado nos cinemas por Arnold Schwarzenegger, deve-se reconhecer a coragem e ousadia de um blockbuster que traja a censura norte-americana R, que proíbe a presença de menores, salvo se acompanhados pelos pais. Assim, este reboot, 29 anos depois, captura a essência do imaginado por Howard e do mínimo esperado da Era Hiboriana, um período em que a espada e a guerra dominavam um mundo envolto por intensa feitiçaria, misticismo e violência gráfica.

Esta, porém, é uma das poucas coisas boas que se pode dizer de Conan, O Bárbaro, principalmente quando, apoiado na alta censura, o pouco que o filme se permite são banhos de sangues e membros amputados, uma nudez descompromissada e sexo ou uma desnecessária cutucada na cavidade nasal. Mas, o que esperar de Marcus Nispel, ex-diretor de videoclipes – e não estou criticando a categoria, que lançou para o cinema nomes como David Fincher -, e cujo auge da carreira foram os reboots de O Massacre da Serra Elétrica e Sexta-Feira 13?

Nascido de uma cesariana praticada em meio a uma guerra, Conan cresceu para se tornar um forte, arrogante e destemido bárbaro. Treinado por seu pai Corin (Ron Perlman), no combate e no manejo da espada, ele presenciou a morte dos habitantes de sua aldeia pelas mãos Khalar Zym (Stephen Lang, o Coronel Miles Quaritch de Avatar), que buscava a última parte de uma coroa que lhe dará poderes para dominar todos os povos. Adulto, quando é interpretado por Jason Momoa, e quase ao acaso, ele decide se vingar de Khalar.

A começar pelo inusitado resgate de pessoas que seriam vendidas como escravas e a prisão inusitada, por razões que sequer os três roteiristas desconfiariam, o roteiro de Conan é uma colcha de retalhos que rivaliza apenas com a (falta de) habilidade de Marcus Nispel na direção ou o inexistente carisma de Momoa no papel principal. Assim, o público tem dificuldades em entender o desejo de vingança do cimério, pois suas intenções surgem ou despropositadamente ou em diálogos informais com o amigo Artus no qual afirma que existe algo que tem que fazer sozinho. Portanto, se a única forma de descobrir o paradeiro de Khalar Zym seria a prisão – e enfiar o dedo na cavidade nasal de alguém, argh -, por que Conan não providenciou isto antes? Simples, porque os roteiristas precisam da dívida de honra do ladrão Ela-Shan no clímax.

Apesar disto, Conan poderia ser divertido caso Marcus Nispel não tivesse faltado as aulas do curso de direção. Causando gargalhadas não intencionais em cenas supostamente grandiosas, vê-se Corin erguer o seu filho (em meio a uma sangrenta e impiedosa batalha), tal como se ele fosse o Rei Leão, ou um vilão, cujo destino é a morte, fingir que está dormindo para escutar a conversa de Conan e Tamara (Rachel Nichols). Além disso, Nispel é responsável por “pensar” o esconderijo do artefato debaixo de tábuas soltas, por ilustrar Martinique (Rose McGowan) buscando dentre mulheres qual é a sangue puro (detalhe: a garra usada para este fim mistura o sangue de todas, contaminando a busca) ou por um close no olhar amedrontado de uma criatura de areia na queda sobre um monte… de areia.

Provável aluno do curso aprenda a dirigir em 24 horas com Michael Bay, Nispel abusa da câmera lenta, e não consegue manter o foco da câmera estático, realizando cortes a cada fração de segundo que prejudicam a compreensão de quem está lutando com quem e da geografia da cena. Mas é na mise en scène – a disposição dos personagens na cena – que ele comete as principais grosserias: na luta de Conan contra Khalar, após a batalha contra criaturas de areia com medo de altura, brevemente observamos Tamara escondendo-se detrás de colunas em um mezanino; no quadro seguinte, porém, ela aparece ao lado de Conan, arremessando-lhe uma tocha. A montagem também apresenta graves falhas, como no momento em que Tamara encontra-se com Conan em rochedos que rodeiam o mar, e na manhã seguinte, surge caminhando em uma floresta.

Temporalmente, o filme não se saí melhor e é difícil compreender se a ação transcorre em semanas, dias ou horas. Depois de raptada (na manhã) por Khalar e levada a seu castelo, Conan tem tempo de ir (caminhando) à cidade dos ladrões e voltar ao castelo antes do amanhecer. Finalmente, quando os diretores aprenderão a ser mais originais nos urros e grunhidos das criatures? Ou alguém espera que um suposto polvo gigante emitiria ensudercedores sons de onde estava?

Reconhecidamente um metrossexual, Jason Momoa desfila pêlos aparados e a sobrancelha delineada, enquanto olha de cima para baixo todos os seus interlocutores. Por outro lado, embora Stephen Lang seja obrigado a babar (coitado) ou repetir frases capengas como “vou matá-lo com a própria espada do seu pai”, ele consegue desenvolver um vilão minimamente interessante cujos objetivos vão além da mera dominação de tudo.

Afora Lang, pontualmente existem outros elementos legais, como a direção de arte que cria um rochedo com o grande formato de uma caveira, os efeitos especiais na recriação das grandes cidades à distância e o ágil ritmo interno. É muito pouco, porém, para os fãs da obra de Robert E. Howard ou do filme original.

Que saudades de Arnold Schwarzenegger.

Update: não assisti o filme em 3D, mas aparentemente os efeitos especiais na versão convertida estão péssimos.

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3 comentários em “Conan, O Bárbaro”

  1. Achei engraçado o emprego do termo "violência gráfica" para falar do mundo real. Na verdade, violência gráfica é outra coisa, é a forma com que ela é apresentada esteticamente no filme.

    Fora isso, gostei da crítica e concordo bastante com ela.

    Abraço!

  2. Schwarzenegger é classico,..e Momoa é fodastico.

    esse sim soube criar um Conan quase indentico ao dos quadrinhos q eu leio desde de criança.
    parabens Momoa

  3. Então, cara.. respondendo: escreverei sobre Conan amanhã (estou atrasado, mais uma vez), mas realmente gostei da sua crítica, com a qual concordo bastante (apesar de eu achar que gosto ainda menos do filme que você).

    Quanto a minha sugestão, foi só um toque, mas entendi o que você quis dizer sim.

    Abraço!

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