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Gigantes de Aço

Gigantes de Aço (Real Steel), 2011, Estados Unidos. Direção: Shawn Levy. Roteiro: John Gatins, baseado na história de Dan Gilroy e Jeremy Leven. Elenco: Hugh Jackman, Dakota Goyo, Evangeline Lilly, Anthony Mackie, Kevin Durand. Duração: 127 minutos.

Do barulho do choque de metal contra metal, ou se preferirem, de aço contra aço, ao controle remoto ou o sistema de reconhecimento específico de cada robô, até os monitores que acompanham em tempo real as informações repassadas por sensores na grande arena do WBR, o campeonato mundial de boxe de robôs, no ano de 2020. Tudo em Gigantes de Aço é cinematográfico demais, pensado de maneira a prender o espectador, e apostando, sem embaraço ou vergonha, em todos os clichês que pode encontrar, igual a um obstinado Charlie coletando peças no ferro velho para montar seu novo robô de combate. Ainda assim, de uma maneira estranha, essa combinação de Rocky e O Lutador com Transformers (argh!), é uma experiência eficiente e satisfatória que extraí sua força do carisma e charme de seu elenco e das sempre interessantes e bem orquestradas lutas entre os robôs do título.

Diferentemente das criações, na maioria, apáticas e sem vida, da trilogia de Michael Bay, os robôs em Gigantes de Aço possuem características que, mais do que individualizá-los, lhes conferem vida. De Ambush, rústico, enferrujado e de um azul desbotado, ao samurai Noisy Boy, todas as criações do diretor de arte Tom Meyer têm uma importância, seja em um aspecto exclusivamente estilístico (o robô caubói ou aquele que apresenta duas cabeças), quanto com valor narrativo, e nesse sentido, Atom tem características que imediatamente remetem a O Mágico de Oz, enquanto Zeus tem um ar ameaçador oriundo de olhos estreitos, da envergadura imponente e da armadura sem arranhões. Criados por Jason Matthews, da Legacy Effects, herdeira do legado de Stan Winston, os animatronics combinados com a técnica de captura de movimentos e efeitos especiais permitem um grande realismo nos combates, o que é fundamental para o sucesso da narrativa.
Diversos outros detalhes impressionam em conferir verossimilhança àquele universo; dessa forma, as pancadas que Atom sofre repetidamente dos adversários não demoram a apresentar consequências e os amassões tornam-se frequentes. Também é interessante observar o cuidado com a sensação de peso, confirmada na entrada do ringue de Zeus que demora uma eternidade para conseguir saltar as cordas. Finalmente, a competente trilha sonora de Danny Elfman – infelizmente senti falta do tema que toca no trailler – combina heavy metal e rap, apesar de derrapar no maniqueísmo dos momentos de maior intensidade dramática, quando praticamente exige, com uma trilha sonora melosa, o envolvimento do espectador.
Mas, não apenas de ótimos caracteres técnicos sobrevive uma boa narrativa. Inspirado no conto de Richard Matheson, o roteiro de John Gatis abusa de inúmeros subtextos exaustivamente explorados na filmografia hollywoodiana: o relacionamento de pai e filho, o amor com uma bela amiga de infância, o corporativismo contemporâneo. Apesar de apostar em coincidências desnecessárias – o destino de um desafeto de Charlie apenas justifica o herói, sem qualquer propósito narrativo -, Gatis consegue ser expositivo sem parecer forçado, assim quando Bailey (Lilly) apresenta os recortes de jornais a Max (Goyo), delineando a trajetória e a personalidade de Charlie, parece a ação natural de alguém bastante orgulhoso de outro. Similarmente no ferro velho, Charlie apresenta as razões do fim do boxe humano em uma conversa despretensiosa e natural com o filho, o que soa adequado no contexto apresentando e ajuda a apresentar aquele universo ao público, o que é sempre bem-vindo.
Shawn Levy, especialista em comédias e, portanto, uma escolha estranha para a cadeira de direção, pode não conseguir evitar o óbvio, como ao ilustrar a distância de pai e filho no posicionamento diametralmente oposto no primeiro plano que dividem, em frente à academia. Porém, Levy saí-se melhor no uso das câmeras aéras para exibir a geografia do zoológico, e principalmente, nas lutas que são o ponto alto da narrativa. Colabora com Levy a boa montagem de Dean Zimmerman que permite acompanhar cada jab de esquerda ou gancho desferido, conferindo maior intensidade as sequências de golpes (os combos).
É o elemento humano, porém, que faz a diferença nesse apanhado de metal. Jackman é inequivocamente um caloteiro e um canalha, capaz de vender o filho para os tios que desejam a guarda; isto, porém, não impede que todo o carisma de Wolverine suavize a aspereza da personalidade do cara e transforme a arrogância e impetuosidade em traços bastante delineados. Além disso, é impossível não ter pena de um boxeador que nunca atingiu propriamente o seu auge e agora é apenas um coadjuvante de luxo, operando aqueles que realmente batalham no ringue. Enquanto isso, Lilly equilibra o lado machão com uma bela sensibilidade e admiração pelo amigo. Finalmente, o ator mirim Goyo (acho estranho chamá-lo de Dakota) é espirituoso e talentoso, consegue canalizar os sentimentos fundamentais da infância, como a admiração e a curiosidade, tem uma monstruosa presença de cena e consegue arrancar sorriso despretensioso nas embaraçosas danças que o torna uma versão menos popular de Justin Bieber. Aliás, seu apego, afeição e teimosia por Atom é uma maneira de ilustrar a ingênua fidelidade infantil, algo que ganha contornos maiores com a função sombra do robô que permite que este imite os movimentos de um humano, humanizando-o.
Desenvolvendo um clímax que é igualmente empolgante e emocionante, cuja pieguice justifica-se ao nascer do olhar de uma criança orgulhosa e feliz, Gigantes do Aço é tão cinematográfico e artificial quanto às lutas apresentadas. Mas o é no melhor sentido, e com um sentimento de vencedor inabalável que, inevitavelmente, conquista o coração do público.
Uma bem-vinda surpresa no rol de campeões do cinema de boxe.

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4 comentários em “Gigantes de Aço”

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