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11-11-11

11-11-11 (Idem, Estados Unidos/Espanha, 2011). Direção: Darren Lynn Bousman. Roteiro: Darren Lynn Bousman. Elenco: Timothy Gibbs, Michael Landes, Wendy Glenn. Duração: 90 minutos.
Antes de dissecar o novo trabalho de Darren Lynn Bousman, diretor responsável pelos medíocres Jogos Mortais 2, 3 e 4, e Repo! The Genetic Opera, é fundamental frisar aos aspirantes a roteiristas que números, datas e afins são uma das premissas mais estúpidas que o cinema já concebeu. 2012 e O Número 23 apenas servem para comprovar que a numerologia não é a mais inspiradora das musas e que este 11-11-11, além de ser um filme ruim em praticamente todos os aspectos, nasceu com prazo de validade vencido. Afora a curiosidade que poderia gerar no dia de sua estréia, não existem muitos motivos para levantar do sofá e ir ao cinema assistir a um terror apocalíptico genérico, quando muitos outros melhores filmes estão nas salas ao lado.

Ciente de que nem mesmo seis palitos perfilhados sustentariam a trama convencional e rasa, o roteirista Darren Lynn Bousman recicla elementos explorados a exaustão, como o homem que perdeu a crença após a morte da mulher e filho e questionamentos sobre religião e fé (eu juro que o exemplo que envolve George Washington é um dos mais estúpidos que já ouvi), e se aprofunda em uma narrativa envolvendo o oculto, demônios, padres, etc. Se por um lado, isto é sintoma de que 11-11-11 foi escrito às pressas, por outro, é sinal de que as ferramentas de edição de roteiros tornam-se cada vez mais avançadas construindo gigantescas subtramas praticamente de maneira autônoma. Apenas isto para explicar o retorno de Joseph Crone (Gibbs) a Espanha após descobrir que o seu pai está nos últimos dias de sua vida, misteriosamente levantando-se da cama sorrateiramente para provocar sustos gratuitos, e reencontra o irmão paralítico Samuel (Landes), cuja congregação de fiéis diminui mais e mais.
Introduzindo diálogos que beiram o ridículo, como o depoimento de Sadie (Glenn) no grupo de auto-ajuda (“Quando ele morreu, eu morri”), Bousman sequer consegue comprovar o porquê de Samuel ser tão adorado pelos seus fiéis, pois a mensagem de seu sermão é tão primária e ingênua que um garotinho no catecismo falaria melhor e com mais convicção. Levando-se a sério nas suas teorias cada vez mais absurdas e investindo na repetição (por meia dúzia de vezes, Joseph afirmar ter que “salvar o irmão” ou apresenta novamente todos os sinais da repetição do 11-11 nas mortes e acidentes de seus familiares), Bousman apresenta-se como um fanático pela obra de Stephen King, e a menção da personagem de Kathy Bates em Louca Obsessão ou o labirinto das árvores de O Iluminado, carecem de organicidade na narrativa para funcionar adequadamente.
Detrás das câmeras, Bousman inclusive acerta na concepção dos quadros, apostando em planos fechados e claustrofóbicos que encerram a prisão espiritual que Joseph se trancou após a morte de seus familiares, mas é pouco se considerarmos a insistência do diretor nos planos-detalhe, como o de um despertador às 11:11 (observe que, anteriormente, ele registrara 11:05). Mais preguiçoso do que Joel Schumacher no mencionado O Número 23, Bousman também é inconveniente na narração voice over de Joseph que nos certifica quão “bom” escritor ele é e consegue apenas narrar coisas que estavam escancaradas diante de nossos olhos.
Mas, algumas coisas poderiam ser perdoadas se 11-11-11 fosse ao menos eficiente como exemplar de gênero de terror (não é). Apostando em sustos bobos, como o aparecimento de uma enfermeira detrás de uma cortina, o trabalho de Bousman é tão óbvio que quando ele afasta a câmera, acompanhando o movimento de personagem, sabemos claramente que ele deseja nos pegar desprevenido para o rápido close na criatura cujo único propósito é gritar BUUU. Dessa forma, os sussurros e as visões não têm o mínimo de capacidade para incomodar o espectador, pois as criaturas exclusivamente interessam-se em surgir nas sombras com sua aparência enrugada coberta de um manto preto (arautos do lorde Sith, talvez!), sendo aquela que abre asas de morcego (seria o Batman?) a mais patética e inútil de todas!
Fotografado com deselegância por Joseph White, cujo grão acentuado é incapaz de conferir a dramaticidade necessária à imperfeição do homem (conceito fundamental na teologia), os quadros estão banhados em uma paleta de cores triste e sem vida, tornando-se precários nas cenas de baixa ou ausência de iluminação, como as diversas no interior da mal iluminada casa ou nos becos escuros de Barcelona. Enquanto isso, a trilha sonora de Joseph Bishara investe nos comuns tons sacros e vozes em dialetos ancestrais, mas não consegue esconder que seu único objetivo é o de preceder cada susto com um acorde mais acentuado. A direção de arte também é desinteressante, sugerindo elementos intuitivos como uma cruz formada na janela do quarto do pai, e se revelando incapaz de encontrar a mínima utilidade para uma estátua angelical.
Característica essa que não está presente em ninguém no elenco. A começar por Timothy Gibbs, cujo arco dramático simplório não consegue esconder a dificuldade do sujeito de tomar seus remédios, a muleta dramática para os momentos de maior aflição. Já Michael Landes apresenta mudanças tão radicais de comportamento que é difícil levá-lo a sério, especialmente nos momentos em que ele discorda de uma presença demoníaca nas imagens esfregadas na sua cara ou quando ele abandona o ceticismo (engraçado ouvir esta palavra vindo de um padre católico) e abraça a existência de toda e qualquer manifestação oculta. E se o papel do pai (Denis Rafter) foi frisado anteriormente, ou seja, assustar os outros ao levantar-se da cama, o de Sadie (Glenn) permanece um mistério, pois a moça parece apostar na sorte e no subjetivismo de Joseph, o que nunca é coerente em uma narrativa. Mas, quem vai argumentar sobre isso se determinado personagem sequer consegue puxar o gatilho para concretizar o seu objetivo?
Encerrando com a montagem frenética e pouco eficiente de Martin Hunter e seus raccords exaustivos, Darren Lynn Bousman prova que saiu de Jogos Mortais, mas a história de Jigsaw não saiu dele, re-editando o desfecho daquele longa em forma e conteúdo, investindo em flashbacks para explicar a narrativa para os espectadores (julgando-nos, depois de tudo isso, por estúpidos).
Felizmente, não sou eu quem vou dormir sabendo que pari aquelas porcarias do primeiro parágrafo e abortei esta bobagem, porque a considerar pelo que vi, duvido muito que 11-11-11 tenha tido sequer um tempo de gestação adequado.

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2 comentários em “11-11-11”

  1. Segunda-feira, eu ia sair voando da aula, pagar R$3,50 no ingresso e R$5,00 de estacionamento para ver o filme. A professora atrasou a chamada e começou a chover torrencialmente em BH. Não que eu esperava que o filme fosse ser bom, mas o universo conspirou para que eu economizasse meu rico dinheirinho. Acho que o saldo foi bom, no final. Hahaha
    Abraço

  2. R$ 3,50 no ingresso??? Nossa, queria morar aí, rsrs. Aqui em Santos, se você não é estudante, a inteira sai R$ 15,00 e R$ 20,00 se for 3D. Mas não tem filme no mundo que me faça pagar uma média de R$ 35,00 pra ser assistido, auuaha.

    Po, imagino que quando a meia aqui era esse preço, aí em BH era de graça neh, rs.

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