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Duro de Matar

Duro de Matar (Die Hard, Estados Unidos, 1988). Direção: John McTiernan. Roteiro: Jeb Stuart e Steven E. de Souza baseado no livro de Roderick Thorp. Elenco:  Bruce Willis, Bonnie Bedelia, Alan Rickman, Reginald Vel Johnson, Paul Gleason, William Atherton, Hart Bochner, James Shigeta. Duração: 131 minutos.

Véspera de Natal. Viajando de Nova York para Los Angeles para passar as festas com a sua família, o icônico detetive John McClane é surpreendido quando a organização terrorista alemã liderada por Hans Gruber faz de refém os funcionários presentes na confraternização do prédio Nakatomi, inclusive a sua esposa Holly. Pessoa errada no lugar errado, cabe a John, munido de uma pistola semi-automática, descalço e cansado, impedir o desenrolar da ação criminosa e salvar o que sobra do Natal de todos. Autenticamente natalino, enfatizado pelos cânticos Let it snow e Jingle Bells, Duro de Matar é o parâmetro de qualquer thriller de ação no qual um único homem deve sozinho enfrentar um exército inteiro de bandidos – nesse caso, 12 terroristas. Esqueça Rambo, Schwarzenegger ou John Wayne, mencionados aqui e acolá por John ou Hans, e reflita de onde a persona cinematográfica de Jason Statham extraiu sua inspiração.

Baseado no livro de Roderick Thorp, o roteiro de Jeb Stuart e Steven E. de Souza apresenta apenas as informações indispensáveis e cuidadosamente evitando a exposição prejudicial e levando-nos a crer que John McClane é um detetive inteligente e competente de interromper a ameaça terrorista. Dessa maneira, na apresentação casual de John a Takagi (Shigeta), o diretor da Nakatomi, é mencionado brevemente que “sete andares continuam em construção“, informação imprescindível e usada por John logo após o começo dos ataques para se refugiar. O uso de rádios comunicadores permite o desenvolvimento da interação necessária e a articulação de um jogo de gato e rato entre John e Hans. Logo, hesitante em mencionar seu nome no rádio, o que eventualmente provocaria a associação deste com a sua esposa, John efetua uma engenharia social nas entrelinhas e é o único hábil a dissecar os planos de Hans. Entretanto, a amizade desenvolvida com Al (Vel Johnson) revela a fragilidade do detetive na busca de um relacionamento concreto o que, inevitavelmente, é o seu ponto fraco.
Descrito, desde os primeiros minutos, como um sujeito viril, mal humorado e durão, a direção de John McTiernan enfatiza o desconforto de John em estar em Los Angeles, apesar do lindo pôr do sol alaranjado enfatizado pela ótima fotografia de Jan de Bont. Quer seja pelo medo de viajar de avião, quer seja pela postura defensiva e monossilábica na conversa com um motorista de limousine, John é um autêntico nova-iorquino, e abandonar a grande maçã, nem que seja por um motivo nobre como as festas de final de ano, parece um esforço colossal para ele. Mas é, de fato, o cabisbaixo e incrédulo olhar do nome Hollly Gennaro (e não Holly McClane) que desarma o brutamontes para ser abraçado por uma legião de fãs. Habituado a resmungar sozinho, “apenas John pode deixar alguém com tanta raiva”, como afirma sua esposa em determinado momento, John também é inteligente o bastante de evitar o embate direto contra os membros da organização – sutileza que Rambo ignoraria com sua metralhadora ou bazuca em mãos – e buscar auxílio de quem ele acredita que pode remediar o incidente: a polícial de Los Angeles. Nesse sentido, disparar o alarme de incêndio ou comunicar-se na frequência da emergência policial são manobras bem pensadas. Bem, ser interpretado por Bruce Willis torna mais fácil a identificação do público e o humor provocado pelas reclamações de John.
Igualmente sensato, o vilão Hans Gruber adapta seu sotaque alemão perfeitamente a entonação pausada e calculada de Alan Rickman (o Severo Snape de Harry Potter). Frio e calculista, Hans previne a desnecessária vingaça de um de seus asseclas sob a orientação de que os tiros disparados chamariam atenção desnecessária, prezando pelo bom andamento do plano e revelando-se prático e determinado, características que o tornam mais perigoso. Inevitavelmente, o primeiro encontro de John e Hans, ligeiramente deslocado na narrativa (alguém se perguntaria, por que Hans estava ali e não um de seus capangas?), apresenta o desconforto e atrito fundamentais, acentuados pelo excelente uso dos planos inclinados, na despretensiosa conversa travada por eles. Revelando-se atento a detalhes, na ordem de atirar nos vidros, e dissimulado ao se fazer passar por um dos funcionários do prédio, Hans é o inimigo a altura que faz Duro de Matar ser um filme tão bom.
Montado com extrema competência por John F. Link e Frank J. Urioste, indicados ao Oscar, o ritmo ágil de Duro de Matar consegue criar momentos icônicos, como a perseguição a John na cobertura, nos dutos de ventilação e no fosso do elevador. Além disso, os montadores equilibram os centros de ação da narrativa – as ações isoladas de McClane, os planos de Gruber, a movimentação da polícia e da imprensa – privilegiando não nomes famosos, mas exclusivamente o bom andamento da narrativa. 
Infelizmente, alguns tropeços pontuais são inevitáveis, e a presença de dois agentes do FBI que ao andar de helicóptero acham que estão no Vietnãm é de uma infelicidade tremenda. Bem como o reaparecimento de um terrorista alemão nos segundos finais (ele estava pendurado, aparentemente morto e enforcado), apenas para justificar a superação de um medo de um policial. Mas, por tudo o que representa para o cinema de ação contemporâneo, felizmente esses erros passam em branco, permanecendo apenas a imagem da alva camiseta de John McClane acumulando sangue, suor e sujeira na criação de um rabugente, astuto e mítico herói.
“Yippie kay-yay”!

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1 comentário em “Duro de Matar”

  1. Olá Márcio,

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