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Cada um tem a Gêmea que Merece

Cada um tem a Gêmea que Merece (Jack and Jill, Estados Unidos, 2011). Direção: Dennis Dugan. Roteiro: Adam Sandler e Steve Koren. Elenco: Adam Sandler, Katie Holmes, Al Pacino, Elodie Tougne, Rohan Chand, Eugenio Derbez, David Spade, Nick Swardson, Tim Meadows, Allen Covert, Norm MacDonald. Duração: 91 minutos.

Hipérboles são mais do que apropriadas para descrever esse que é um dos melhores atores da história do cinema: nascido e criado no perigoso bairro do Bronx, em Nova York, ele conseguiu manusear a violência que o acompanhou durante a juventude e a transformou em uma intensa e explosiva carga dramática que deu vida a alguns dos personagens mais célebres em épicos sobre crime e máfia das décadas de 70 e 80, sobretudo. Adepto a interpretar homens dos dois lados da lei, o ator emprestou o seu característico overacting a composições espetaculares de homens no limiar de suas forças. Do poderoso chefão Michael Corleone ao imigrante cubano e futuro rei do crime Tony Montana, dos policiais Frank Serpico e Vincent Hanna aos criminosos Sonny Wortzik, Lefty, Big Boy Caprice e Carlito Brigante, e mesmo nos protagonistas mais sensíveis como o coronel Frank Slade (quando ganhou o único Oscar de sua estante em Perfume de Mulher) ou o intrépido caçador de histórias Lowell Bergman, poucos atores alcançaram uma carreira tão idolatrada e fértil como a desse monstro das telas, Al Pacino.

Nesse momento, você se pergunta: “qual a relação entre Al Pacino e a nova “comédia” de Adam Sandler, Cada um tem a Gêmea que Merece? Por mais que eu gostaria de responder “Absolutamente nada!” ou atribuir o devaneio a uma senilidade recém descoberta, a verdade é que Al Pacino tem, e muito, a ver com esse desastre travestido de comédia. “Ah, então ele protagoniza alguma ponta ‘engraçada’?”, você se questiona, igual a participação de Johnny Depp ou Shaquile O’Neal. Não, ele é um autêntico personagem interpretando a si mesmo e, no processo, desmistificando seus mais importantes papéis (existem termos mais rudes para o que eu realmente queria dizer). “Ora, deixe de ser ranzinza, e deixe o ator divertir-se um pouco.”, consigo imaginar os defensores dessa porcaria argumentando, e para esses eu digo: enquanto Al Pacino balbuciar uma explosão de raiva no palco de teatro e deixar que seu Oscar seja destruído por uma tacada de stickyball, eu sentirei apenas vergonha alheia e embaraçoso pelo que o ator faz consigo mesmo. No entanto, quando ele usa frases de O Poderoso Chefão ou Scarface, ou fazer uma piadinhas com Marlon Brando, ele claramente extrapola os limites!

E não é o caso que Al Pacino nunca tenha feito um film ruim… ele já fez alguns, e a maioria nos últimos 10-15 anos. Mas, ele deveria ter ao menos conhecimento do retrocesso protagonizado pelo séquito da produtora Billy Madison nos últimos anos, com comédias escatológicas, preconceituosas e idiotas, investindo no humor de banheiro e na humilhação de seus personagens para “fazer rir”. Dessa maneira, depois de alguns depoimentos de gêmeos de verdade (ou não!), o roteiro entregue ao Sr. Pacino começa apresentando a infância e adolescência de Jack e Jill, gêmeos bivitelinos completamente antagônicos. Entre flatulências na banheira ou a comparação dos pelos nas axilas de cada um, talvez Al Pacino tenha se ofendido com a “qualidade” do material, mas anotações de rodapé instruíam “Continue lendo até a página 5”. Ele o fez e eis que seus olhos brilham ao seu deparar com a genial ideia de atribuir seu nome ao Dunkaccino e, no processo, poder interpretar Shakespeare, Dom Quixote, dançar e cantar.

Mas, indago-me, será que Pacino achou realmente sorriu das piadas envolvendo os títulos dos filmes A Felicidade não se Compra, Uma Linda Mulher e Titanic? Será mesmo que ele não se incomodou com a unidimensionalidade e previsibilidade dos personagens, sobretudo o acanhamento de Jack que recepciona a irmã na sua casa durante um importante momento profissional, ou Jill e a incapacidade de censurar-se quando está sendo abusiva e desagradável. Quem sabe a humilhante forma que o filho adotivo hindu Gary é apresentado com seu incomum hábito de prender com adesivos coisas e bichos no seu corpo ou os figurinos combinados da pequenina Sofia com suas bonecas tenham passado desapercebidos. Nem mesmo a brincadeira com um sem-teto ou a participação dos “amigos” de Sandler no projeto parecem ter incomodo Pacino.

Ah, mesmo que ele tenha ignorado uma coisa ou outra, Al Pacino deve ter se sentido satisfeito em saber que poderia participar de um projeto envolvendo humor de banheiro e fluidos corporais igual ao seu amigo Robert De Niro havia feito no desastroso Entrado numa Fria maior ainda com a Família. O que sugere que a apresentação de uma grotesca mancha de suor na cama, abraçada apaixonadamente em determinada cena, ou a diarreia  e a cera de ouvido de Jill provocassem surtos de esquizofrênicas gargalhadas no septuagenário ator.

Desconhecendo completamente os méritos cinematográfico de Dennis Dugan (talvez porque ele não tenha nenhum), Al Pacino deve ter pensado que um diretor estreante concederia energia nova ao projeto e contornasse algumas arestas que ele esbarrou no roteiro, como a paixão súbita de Al Pacino por Jill ou a volta dela para casa depois de uma decepção no cruzeiro. Grande engano! O “estreante” claramente desconhecido de Pacino é na verdade o diretor por detrás de metade das bobagens de Adam Sandler nos últimos anos e capaz de arremessar coisas na narrativa independentemente delas não fazerem o mínimo sentido. Qual seria a justificativa da vovó mexicana comer constantemente jalapeños (uma espécie de pimenta), ou as duas dezenas de malas de Jill e o seu retorno apressado a Nova York a bordo de, sabe-se lá o que, que a levou tão rápido? Entretanto, claro que Dugan pensou (Al Pacino corrorbou) que seria genial e inteligente aproximar os gêmeos a partir de comportamentos sutis comuns, como aqueles vistos durante uma sessão de cinema.

É mesmo entre a cacatua cujo único sentido narrativo é repetir algumas bobagens e deixar sua própria mancha de suor, Katie Holmes que não sabe exatamente o que está fazendo e está desesperada para participar de qualquer filme que lhe afaste a alcunha de Sra. Cruise, e Rob Schneider, cuja discreta presença sugere que ou Sandler envergonhou-se de sua amizade (parece mais óbvio) ou o contrário (apesar de não fazer o menor sentido) que Al Pacino debruçou-se antes de assinar sua presença nesse colossal desastre.

Quem sabe ele deveria ter seguido o conselho de seu alter-ego nos segundos finais de produção: “Destrua isso!”, ele disse, “Não mostre a mais ninguém!”. Infelizmente para você Al, que 288 salas de cinema no Brasil e milhares ao redor do mundo acabaram de descobrir você como você havia visto antes. E esta não é uma frase elogiosa.

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22 comentários em “Cada um tem a Gêmea que Merece”

  1. Ótimo filme, mas sempre tem uns críticos pseudointelectuais que descem a lenha só pra aparecer.

    E uma correção: eles não são univitelinos. Gêmeos idênticos jamais nascem com sexos diferentes. Encontram-se na mesma categoria que Matt Damon e Greg Kinnear em Ligado em Você: casos de gêmeos que não existem. Siameses não idênticos no longa dos Farrelly e fraternos idênticos no filme de Dugan. Absurd.

  2. Honestamente, não me sinto propenso a assistir a esse filme, mas creio que eventualmente eu vá fazê-lo. Não gosto do humor de Adam Sandler e acho que ele dificilmente traz alguma coisa nova. Não falo de novidade efetiva, falo de mudança sutil, qualquer coisinha diferente. Para mim, ele é sempre o memso, e isso me cansa. Mas provavelmente, numa roda de amigos, num momento futuro, alguém vai sugerir esse filme e eu não vou recusar: pode ser que eu me divirta mesmo!
    saihsaihsaihsaihsa

  3. No comercial dos 30" do Dunkaccino, para mim valeu a entrada do cinema. Al foi espetacular na dança, o resto concordo com o texto, fiasco em cima de tosquice. Sessão da tarde pura.

  4. Tratamento de choque é uma das comédias que eu amo, mas é a única que Adam Sandler fez que presta. O resto é de péssimo gosto e dá vergonha alheia

  5. Pretendo ter um filho.
    Se for mulher gostaria que fosse atriz de cinema e teatro.
    Se for homem gostaria que fosse ator de cinema e teatro.
    Se não for nem homem nem mulher, não adianta, vai ser crítico de cinema e teatro !
    Já dizia Confúcio lá nas "antiguidades": "Opinião é que nem … cada um tem o seu".

  6. Concordo com tudo que você escreveu Márcio, e quando vi que o Al Pacino estava no filme não consegui parar de me perguntar "Por que? O que Diabos ele está fazendo nesse filme?" e quando penso que não pode piorar, vem a cena do comercial da Dunkin Donuts que foi a coisa mais ridícula que já vi.

  7. deveria baixar esse nariz enpinado e curtir um bom filme. O Sandler é otimo com roteiros que serve para toda a familia .

  8. Achei o filme muito bom… o Sandler é muito talentoso nas comédias que faz (na verdade acho que ele só faz isso né?)… por mais que os filmes dele sejam quase todos iguais e previsiveis… quem vai ao cinema ver um filme de comédia dele ri! e a graça é essa rs…
    Quanto ao Pacino, ele é simplesmente o maior ator de todos os tempos na minha opinião e este filme não mancha a carreira dele, sei lá… normal.

  9. Um filme que não deve ser levado a sério, essa é a proposta do filme e a proposta de Adam Sandler… É um filme pra família se divertir , rir e brincar e cumpre bem sua função.

    Uma crítica dispensável a partir do momento em que o filme tem uma proposta dispensável.

  10. Aff, tá certo que cada um tem sua opinião, mas não precisa ser tão duro, a vida tbm é divertida pelos seus momentos idiotas que fazem rir… Incorporar o style velho ranzinza que não dispensa nada da vista grossa, pode até ser divertido tbm por alguns momentos, mas tudo que é DEMAIS enjoa…

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