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American Pie: O Reencontro

(American Reunion), Estados Unidos, 2012. Direção: Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg. Roteiro: Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg. Elenco: Jason Biggs, Alyson Hanning, Chris Klein, Thomas Ian Nicholas, Tara Reid, Seann William Scott, Mena Suvari, Eddie Kaye Thomas, John Cho, Jennifer Coolidge, Eugene Levy, Dania Ramirez e Katrina Bowden. Duração: 113 minutos.

Faz 13 anos que Jim, Kevin, Oz e Finch realizaram um pacto para perder a virgindade na tão sonhada festa de formatura do colegial, o que rendeu uma das melhores comédias da década de 90, American Pie: A Primeira vez é Inesquecível. Exemplar do subgênero da comédia do embaraço, o humor escatológico gravitava mormente ao redor dos esforços do protagonista Jim e as danações de Stifler, esforçando-se em questionar e criticar os dogmas sexuais da conservadora sociedade norte-americana que transformava a conjunção carnal em um insuperável tabu para os mais jovens. Mas, a intenção da narrativa jamais era ofender, o que é notável em metade das outras comédias politicamente incorretas, e a grosseira de alguns momentos mascarava-se na ingenuidade e imaturidade das ações do protagonista.
Os episódios seguintes, apesar de não manterem o padrão e a qualidade do original, eram agradáveis o suficiente para justificar a revisita nostálgica de American Pie: O Reencontro. Por bem e por mal, é isto que o roteiro de Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg, que dirigem, propõe-se a fazer, estando mais interessado em tecer homenagens àqueles personagens do que de estabelecer os alicerces de uma nova franquia. Assim, ao nos reencontrarmos com a turma para um final de semana em que eles reviverão os tempos de colégio, descobrimos que a vida adulta não foi exatamente recompensadora como eles sonhavam que seria. Jim (Biggs) mantém-se casado com Michelle (Hanning) e pai de um garotinho mal explorado pelo roteiro; Kevin (Nicholas) é um arquiteto que passa a maior parte do tempo como “dono de casa”; Oz (Klein), um apresentador esportivo e ex-participante de uma dança das celebridades; Finch (Thomas) é aparentemente o mais bem sucedido, enquanto Stifler (Scott) é estagiário em uma grande multinacional.

Muitos os taxariam de promessas não-cumpridas, similar aos respectivos intérpretes que, exceção feita a Seann William Scott, não emplacaram uma carreira bem sucedida em Hollywood. Nada mais injusto! Aqueles ex-jovens integram agora a estatística média do adulto norte-americano presos à ideia de que os sonhos extraordinários traçados previamente dificilmente se materializarão e, embora envelheçam, a personalidade deles permanece a mesma de 13 anos atrás. Logo, apesar de Jim afirmar que “as coisas não voltam a ser como eram antes“, amadurecer não implica abandonar as lembranças e o passado que, invariavelmente, volta à tona; assim, a cena inicial recontextualiza, com relativo sucesso, a tendência do protagonista de se meter em situações surreais e constrangedoras sempre que o sexo está em pauta.
Nesse sentido, a dupla de diretores/roteiristas expõe Jim a uma série de situações embaraçosas, bizarras e potencialmente hilárias, seja no uso da roupa de látex de submissão e a carona dada à vizinha bêbada, ao episódio envolvendo a tampa de panela que rivaliza com o da torta de maçã do original. Eles também não se furtam de reconhecer aqueles que são os personagens mais engraçados da série: Stifler e o Sr. Levenstein (Levy). Se o primeiro é apresentado em um travelling de baixo para cima que reconhece a sua importância na série, Eugene Levy consegue expandir seu personagem, agora viúvo, na hilária sequência envolvendo a participação numa festa e a rota de fuga empregada na chegada dos policiais.

A dupla também não se acovarda sob receio de ofender os pudicos e mantém a tradição de investir em órgãos genitais e nas gags mais impolidas de Stifler, como o destino de um balde de cerveja ou a reação ao descobrir que amigos da equipe de lacrosse são homossexuais. Ouvi-lo cutucando sarcasticamente (ou não) a “saga” Crepúsculo e justificando a destruição de moto aquática apenas por ter sido molhado anteriormente, na demonstração explícita da proporcionalidade deturpada do sujeito, afastam a repulsa provocada por sequências como a dos pelos pubianos no rosto. Além disso, Seann William Scott tem o tom ideal para seu personagem, escondendo nas entrelinhas uma pontada de frustração e a incapacidade de demonstrar seu afeto. E é inspirado o olhar de Scott ao descobrir que não tinha sido convidado para o encontro no bar, o qual ele dissimula rapidamente no velho estilo Stifler.

Por outro lado, seus outros colegas não têm tanto sucesso e Kevin continua um aborrecimento no seu romance mal-resolvido com Vicky (Reid, péssima atriz incapaz sequer de simular estar dormindo). Já Chris Klein, cuja carreira de galã jamais deslanchou, perde a chance de brincar com o paradigma de pseudo-celebridade de Oz, reciclando piadas exaustivamente conhecidas e levando consigo a “beleza americana” Heather (Suvari, insossa e apagada). Finalmente, Finch tem bons momentos – uma certa fotografia impõe uma pressão monstro no rapaz -, mas é descartado da mesma maneira que Selana (Ramirez).

Dono de mais acertos do que erros, American Pie: O Reencontro é igual à visita de Jim a seu antigo quarto, uma jornada saudosista, rejuvenescedora e agridoce de reencontrar as pedras basilares de nossa história, por mais vergonhosas que cremos que estas foram à época.
Portanto, ao escutar a música tema da trilogia original não há como não sentir saudades daquele bando de desajustados, mesmo que, numa análise mais rigorosa, eles mereciam um filme melhor e menos reverente do que este. Talvez o convite de Finch de reunir anualmente não pareça ultimamente uma boa ideia…
Mas, quem sabe daqui a alguns anos.

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1 comentário em “American Pie: O Reencontro”

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