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Anjos da Lei

(21 Jump Street), Estados Unidos, 2012. Direção: Phil Lord e Chris Miller. Roteiro: Michael Bacall baseado na série criada por Patrick Hasburgh e Stephen J. Cannell. Elenco: Jonah Hill, Chaning Tatum, Brie Larson, Dave Franco, Rob Riggle, DeRay Davis, Ice Cube, Dax Flame, Chris Parnell, Ellie Kemper e Jake M. Johnson. Duração: 109 minutos.


Anjos da Lei poderia ser mais munição para atestar a crise de criatividade do cinema norte-americano: inspirada na série televisiva homônima estrelada por Johnny Depp no fim dos anos 80, a história recicla o desgastado subgênero policial buddy cop, no equivalente juvenil a Máquina Mortífera, 48 horas e Hora do Rush, além de reviver embaraçosas situações normalmente presentes nos filmes de colegial, como a antecipada festa de formatura. Existe, no entanto, um ar revigorante e rebelde na tendência de deturpar convenções que, embora não seja inédito (vem à cabeça o excelente Chumbo Grosso), é o bastante para divertir e justificar o sucesso deste azarão.
No roteiro escrito por Michael Bacall, Schmidt (Hill) e Jenko (Tatum) são policiais recém admitidos na Academia para trabalhar na entediante ronda do parque. Após uma prisão frustrada, eles são enviados à unidade secreta na 21 Jump Street onde deverão, valendo-se de sua aparência jovial, se infiltrar numa escola local e desmantelar uma rede de tráfico de drogas. O colegial, porém, não é o mesmo de anos atrás quando Schmidt trajava roupas do Eminem e aparelhos nos dentes, e Jenko era o popular capitão do time de futebol americano. Povoado por jovens naturebas, ambientalistas e tolerantes liderados por Eric (Franco, cópia carbono do irmão de 127 Horas), Jenko mal distingue outros grupos afora nerds e góticos, e a tentativa de parecer descolado saí pela culatra, o que abre espaço para que Schmidt assuma a improvável popularidade tão almejada quando era mais jovem.

Assim, é divertido observar a consciente inversão dos clichês colegiais, e os diretores Phil Lord e Chris Miller (de Tá Chovendo Hambúrguer!) reconhecem quão inusitado soe ver Chaning Tatum aliando-se a estudantes de química ou Jonah Hill organizando uma bem-sucedida festa e conquistando o coração da espirituosa Molly (Larson). Mais, o tom de paródia acomoda gags pertinentes como àquele sobre a idade da dupla (não é raro vermos atores de 25-30 anos interpretando estudantes) e o ácido comentário do sargento acerca da falta de originalidade presente na reciclagem da ideia de um programa de jovens agentes infiltrados.

Isso não exime a narrativa das burocráticas e pouco inventivas sequências de ação, centradas em perseguições de carros (e de limousines) e tiroteios desinteressantes, e sequer a gag envolvendo um galo e a expectativa de explosão disfarça a incapacidade da narrativa em gerar perigo e tensão para os jovens policiais.

Entretanto, a censura elevada permite que os realizadores explorem conteúdos politicamente incorretos e escatológicos mantidos de fora na maioria das comédias. Assim, ofensas sexuais, palavrões, apologia a drogas e a violência são recursos bem empregados em algumas das sequências mais engraçadas do ano, como àquele que envolve as reações provocadas por uma nova droga sintética ou a tentativa de Schmidt e Jenko de provocar vômito um no outro. 

Demonstrando um timing cômico invejável, Jonah Hill e Chaning Tatum apenas mantêm em comum a imatura juvenilidade de personagens, presos numa eterna adolescência. Ingênuos ao ponto de vestir os uniformes policiais no primeiro dia de trabalho à paisana e capazes de atropelar um ao outro somente para experimentar a sensação, é muito fácil ignorar o afobado surgimento da amizade no breve prólogo e os óbvios percalços elaborados pelo roteiro pois, os dois simplesmente se completam e sua dinâmica surge com extrema naturalidade, deixando o esquematismo para momentos pontuais.
Já Ice Cube rouba a cena como o desbocado e mal humorado capitão Dickson (traduziria como capitão Babaca, para evitar usar uma expressão grosseira), enquanto os professores vividos por Chris Parnell, Ellie Kemper e Rob Riggle cumprem a função de parecerem os sujeitos mais improváveis para ensinar aos jovens alunos teatro, química e educação física, respectivamente. 

Evitando ser meramente a transposição de um produto televisivo para o cinema (como foi S.W.A.T. e Esquadrão Classe A) ou um confortável filme de gênero, Anjos da Lei não confere apenas uma nova roupagem ao material original, como expande as possibilidades de novas aventuras de Schmidt e Jenko.
E, mesmo que esporadicamente reúna as características dos filmes que satiriza, como não admirar e se divertir com a ousadia, escatologia e inventividade desta ótima comédia?

Termômetro do Kritz

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3 comentários em “Anjos da Lei”

  1. Anjos da Lei é, desde já, uma das mais divertidas comédias do ano (e acho difícil superá-lo). Chutando a bunda do politicagem correto e fazendo piada com isso, o filme não tem medo de fazer piada com um cara tentando pegar seu próprio pinto com a boca. Infelizmente, como você ressalta, o humor escrachado não fica ileso às aborrecidas e nada convincentes sequências de ação (que por sorte são poucas!). Ademais, Hill e Tatum estão confortáveis e se divertindo a beça, com uma química incrível.

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