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Plano de Fuga

(Get the Gringo), Estados Unidos, 2012. Direção: Adrian Grunberg. Roteiro: Mel Gibson, Adrian Grunberg e Stacy Perskie. Elenco: Mel Gibson, Peter Stormare, Bob Gunton, Kevin Hernandez, Dolores Heredia, Daniel Giménez Cacho e Jesús Ochoa. Duração: 95 minutos.

Mel Gibson precisa de mais do que Plano de Fuga para reconstruir a arranhada e escarneada imagem perante o público. Depois da ampla divulgação de um ataque de nervos, manifestações misóginas contra a ex-mulher e o antissemitismo velado, um dos astros mais controversos de Hollywood retorna ao fértil cinema de ação, que lhe rendeu sucesso (seu último filme, o ótimo drama Um Novo Despertar passou desapercebido). Na pele de um anti-herói sem nome, o “Gringo”, e tendo roubado alguns milhões cuja procedência é o menos importante, Mel Gibson é preso ao cruzar a fronteira e enviado a cadeia em Tijuana e deve elaborar um plano para escapar antes de ser morto. Para isto, é ajudado pelo garoto interpretado por Kevin Hernandez, protegido por Javi (Cacho), perigoso bandido que comanda as ações na cadeia.

Se você se perguntou o que um garoto está fazendo preso, o roteiro escrito por Gibson, Adrian Grunberg (que dirige) e Stacy Perskie inspira-se na experiência real e mal sucedida do presídio mexicano El Pueblito onde as famílias dos criminosos visitavam regularmente e inclusive habitavam indefinidamente, o que deveria supostamente facilitar a reintegração destes na sociedade. Formando negócios informais internamente, a situação rapidamente se desintegraria, drogas passaram a ser comercializadas e elites estabelecidas sobre o poder do dinheiro e a corrupção dos agentes carcerários. Até um cassino funcionava nas premissas!

Nesse inusitado contexto prisional, a tentativa de Mel Gibson é razoavelmente bem sucedida, sobretudo no senso de humor cafajeste do bom ator que não tem dificuldades em manipular às pessoas-chave para pôr em prática seu plano de fuga e reaver o dinheiro roubado. Jogando uns contra outros e apostando até mesmo na imitação chinfrim de Clint Eastwood, Gibson parece se divertir com a faceta fatalista de seu personagem e as intervenções do carma, como ele afirma certo momento na narração in off, soam mais curiosas do que forçadas.
Por outro lado, este é um exemplar de ação decepcionante, o que o diretor Adrian Grunberg já demonstra na perseguição que abre a narrativa, no uso pedestre de acelerações, mudança dos ângulos empregados, incômodos closes, montagem efusiva e a câmera lenta clichê. A inexperiência do diretor fica evidente nas mal decupadas trocas de tiro, onde o “Gringo” está sempre correndo sabe-se lá de onde e para onde, desferindo tiros sem saber exatamente em quem. E, ele ainda revela um olhar demasiadamente imaturo ao entrecortar um jogo de pebolim e presidiários praticando sexo escondidos em tendas improvisadas.

Mas, o mais incômodo é a forma preconceituosa com que a produção enxerga o México. Da fotografia de Benoît Debie extremamente suja e com grão grosso, aos closes do “Gringo” suado e exausto, o chamado “terceiro mundo” é uniformemente desglamourizado nas produções hollywoodianas, como se apenas tivesse a oferecer paradisíacas praias. Assim, não provoca espanto que um policia federal desconheça o significado da palavra “arimética”, uma piada aparentemente boba e inocente, porém que atesta precisamente esse infeliz quadro.

Além disso, apesar do gratificante resultado final, a narrativa é intrincada, introduzindo novos personagens já na iminência do terceiro ato. Logo, mesmo o esquivo e ardiloso comportamento do protagonista não é suficiente para que aceitemos pacificamente todas as cordas que ele puxa e/ou as coincidências que surgem à sua frente, prejudicado também pela subtrama do garotinho, única doador de órgãos compatível com o chefão do crime no presídio.

Kevin Hernandez, aliás, destaca-se transformando um garoto precocemente viciado em cigarros (outro sinal do preconceito dos realizadores), em um personagem crível, zeloso pela mãe, embora ciente do que ela deva se submeter diariamente, e tateando a adolescência sem abandonar a tenra naturalidade da infância, o que torna a amizade com o “Gringo” na busca de uma figura paterna. Uma ação extrema do garoto também impressiona, sobretudo graças às implicações provocadas. O restante do elenco, por outro lado, revela o descartável esteriótipo frequente em produções de ação desse quilate.
Superadas as deficiências da narrativa, que não são poucas, o espectador saciará as expectativas de um produto de ação com a boa dose do humor ágil e sagaz visto na série Máquina Mortífera e em O Troco. O curioso, porém, é que nem o cárcere mais imundo, quente e severo bastaria para redimir os irreparáveis danos à imagem do, infelizmente, astro de ontem Mel Gibson. 

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6 comentários em “Plano de Fuga”

  1. Como eu escutei uma vez…..
    Quem sabe faz, quem sabe um pouco vira professor e quem não sabe nada vita crítico….

  2. Eu queria saber como uma pessoa simplesmente se auto denomina crítico de cinema……o que exatamente uma pessoa pensa para achar que pode ser crítico?…Pessoas que nunca atuaram ou dirigiram nada…..e ainda acham que possam criticar o trabalho alheio……Foi como eu falei antes quem sabe faz….quem sabe um poco vira professor e quem não sabe nada vira crítico…..

  3. O filme é bom, bem dirigido, bom roteiro com ótimos atores e, como sempre um tema da violência e com foco num presídio, envolvendo uma situação social séria com doadores de órgãos, inclusive com crianças e, mais uma vez tendo uma cidade do México como palco dessa representatividade de influência do tráfico e elevados valores monetários ilícitos e com líder de facção criminosa, e podemos dizer, Violência Social reconhecida mundialmente em grandes centros de Países bem desenvolvidos.

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