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Um Homem de Sorte

(The Lucky One), Estados Unidos, 2012. Direção: Scott Hicks. Roteiro: Will Feters baseado no livro de Nicholas Sparks. Elenco: Zac Efron, Taylor Schilling, Blythe Danner, Riley Thomas Stewart, Jay R. Ferguson, Adam LeFevre. Duração: 101 minutos.

Mesmo que você não esteja familiarizado com os romances do escritor Nicholas Sparks, certamente já assistiu a algum filme inspirado na sua obra: Uma Carta de Amor, Um Amor para Recordar, Diário de uma Paixão, Noites de Tormenta e Querido John são alguns de seus açucarados melodramas contemporâneos onde a honestidade e obstinação do amor supera obstáculos ditos intransponíveis. Este é o tema principal do autor e seus “contos de fadas”, nos quais esse sentimento tem o poder de redimir a tragédia de homens e mulheres. Assim, ainda que você esteja acometida de câncer terminal ou permaneça em luto pela morte da esposa, o amor surge como farol de esperança na sincera e otimista mensagem, o suficiente para conquistar o coração daqueles exaustos pelo cinismo cotidiano.
Não provoca espanto, portanto, que a premissa de Um Homem de Sorte exija uma enorme dose de concessões do espectador. Nela, o fuzileiro naval Logan (Efron) livra-se da morte certa na guerra do Iraque graças à foto de uma misteriosa mulher. Incapaz de se adaptar à sociedade na volta aos Estados Unidos, Logan decide caminhar mais de 1.500 quilômetros à Louisiana para agradecer a Beth (Schilling) por salvar a sua vida – pensar nos meios usados para descobrir a sua identidade é um esforço inútil,  abstrair é a solução mais adequada. Ao chegar à pequena propriedade, Logan descobre que Beth é mãe solteira, dona de um canil, tem uma adorável avó (Danner) e um ex-marido alcoólatra (Ferguson). E, para não terminar com menos de 15 minutos, Logan também é incapaz de contar a verdade, aceitando a vaga de emprego disponível sem pestanejar e se apaixonando no processo.

De fato, eu mentiria se eu não mencionasse que as coincidências e inverossimilhanças me incomodaram durante a narrativa. Mas, após refletir, os acasos que nos aproximam de alguém são “apenas” ínfimas lembranças doces, e da mesma forma que uma carta de amor pode ser trazida pelas ondas, porque não depositar fé no incompreensível agir do destino? Logo, o esquemático roteiro de Will Fetters, que não hesita de apelar ao toque do celular para impedir Logan de explicar o porquê de sua presença, poderia ser ignorado contanto que o romance vivido por ele e Beth fosse inspirador, honesto e palpável.

Contudo, a química dos dois funciona muito pouco embora, individualmente, Zac Efron e Taylor Schilling atuem satisfatoriamente. Ela, uma versão graciosa de Leslie Mann, buscando coragem para superar a reprimenda do abusivo ex-marido; ele, distante e resignado, fruto das cicatrizes deixadas pela guerra que levou seus amigos e lhe mostrou a visão selvagem da humanidade. Juntos, a interação resume-se a frases de efeito (“Você tem uma risada linda, gostaria de ouvi-la mais vezes“, “Então me conte uma piada“), à prestatividade de Logan, atuando inclusive de amigo motivador do pequeno Ben, e ao receio de Beth em se envolver amorosamente. Muito é pensado racionalmente, pouco é sentido.

Essa falta de emoção surpreende visto que o diretor é Scott Hicks, do sensível Shine – Brilhante. Ele aposta no denominador comum de canções melosas embalando transições onde supostamente aflora a paixão do casal, além de insistir nos planos-detalhe da salvadora foto somente para nos lembrar de que ela provocará, eventualmente, uma ruptura na comunhão do casal. Hicks também não esquece a marca registrada de Nicholas Sparks, o apaixonado beijo molhado.

Se o romance não solta faíscas, a fotografia de Alar Kivilo é calorosa e convidativa, apresentando um idílico e resplandecente lago, uma constante nesses romances, no centro de uma encantadora paisagem de outono, o símbolo do poder renovatório do amor. Nas lentes do fotógrafo, Beth preserva uma aura angelical, enquanto Logan ostenta uma presença grandiosa, do forasteiro que mudou a vida de todos. E mesmo com o rosto imerso nas sombras durante uma confissão e uma história trágica na mochila, ele se rende naturalmente ao esteriótipo romântico.

Um Homem de Sorte também não se furta de um vilão, o xerife Keith, e o intérprete Jay R. Ferguson incita a antipatia do espectador tão logo censure o nó de gravata mal feito realizado pelo filho. Mais do que o frágil romance central, o odioso rancor de Keith é palpável, mesmo que o roteiro seja ligeiramente incoerente ao contrapor suas lágrimas e o arrependimento envergonhado com a mesquinhez e crueldade do seu comportamento.
Mas, fã ou não da obra de Nicholas Sparks, alguém buscando o escapismo nesse açucarado melodrama certamente ignoraria seus tropeços! A elas, principalmente, basta desconectar-se dos infortúnios do mundo de carne e osso e torcer por um final feliz.

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1 comentário em “Um Homem de Sorte”

  1. Nossa, achei um filme detestável até mesmo para os padrões de Nicholas Sparks. Aceitaria a dose usual de clichês e esquemas, mas as resoluções sem vergonha que o roteiro cria no terço final são repulsivas, sem falar que o desenvolvimento do personagem do ex-marido é dos piores que já vi nos últimos anos (e, claro, seu destino é dos mais patéticos e só convenceria em desenhos animados). Deplorável.

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