Aumentando seu amor pelo cinema a cada crítica

Search
Close this search box.

A Era do Gelo 4

Ice Age: Continental Drift. Estados Unidos, 2012. Direção: Steve Martino e Mike Thurmeier. Roteiro: Michael Berg e Jason Fuchs. Vozes: Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Queen Latifah, Peter Dinklage, Nick Frost, Jennifer Lopez, Josh Peck, Seann William Scott e Nicki Minaj. Duração: 94 minutos.
Depois de terem sobrevivido à era do gelo, ao aquecimento global e derretimento das calotas glaciares e a dinossauros, a improvável parceria do mamute Manny, do tigre dentes-de-sabre Diego e da preguiça Sid completa uma década (o original data de 2002). Mas, se a aventura inaugural era apenas divertidinha e esquecível, as seguintes reencenaram a mesma história exaustivamente (a procura da identidade e o pertencer a uma família). Isto ocorre no quarto episódio onde o bando deve lidar com as consequências da fragmentação do continente primitivo, a Pangeia, um processo lento que se estendeu por milhões de anos e que parece envelhecer as espécies animais o suficiente para ter um fiapo de história para contar (no caso, a adolescência da filhote de Manny). Tendo jogado a lógica histórica no ralo desde o primeiro episódio, este A Era do Gelo 4 ri de suas incoerências (“Jantamos com dinossauros na era do gelo; não faz sentido, mas foi emocionante“), na desculpa esfarrapada de soar descompromissado e que enfatiza o esforço preguiçoso dos produtores em arrancar mais dinheiro do bolso dos pais.
 
Pensando que “não se levar a sério” resolve todos os problemas narrativos do mundo (o que a maioria do público infelizmente concorda), o roteiro aposta no mantra de sequências pouco criativas: duplica o inchado elenco do episódio anterior e economiza em soluções, reaproveitando exemplares mais bem sucedidos e dramas clichês. Quer ver? Manny age como um pai super-protetor que não deixa a cria Amora se divertir com os outros adolescentes (leia-se: Procurando Nemo); Luís, um ouriço medroso, é apaixonado por Amora, estabelecendo um romance inter-espécies (agora: Madagascar). Mais: Diego vive um relacionamento na onda do “eles se odeiam, mas depois se amam”; Luís terá uma oportunidade para mostrar sua coragem; Manny e Amora se reconciliarão, mas não antes desta ser ameaçada por um vilão cruel. Assim, o trabalho dos roteiristas Michael Berg e Jason Fuchs é de colar pedaços no objetivo de tentar (frise-se o “tentar”) montar algo minimamente coerente.
Não é o que acontece, porém. Encontrando-se à deriva sobre um iceberg descolado do continente, o trio esbarra na tripulação pirata comandada pelo cruel capitão Entranha, enquanto a mamute fêmea Ellie lidera um bando de animais na tentativa de chegar a um ponto seguro no continente. Além disso, Scrat continua na obstinada caça ao tesouro de avelãs (descobre-se que seu destino, depois de apanhar muito nos episódios anteriores, o levaria a evoluir no Coiote das aventuras do Papa-léguas). Linhas narrativas independentes que conectadas de forma tênue no terceiro ato revelam-se pouco inspiradas, e a trama bucaneira central mal consegue disfarçar ser um episódico road movie no oceano (eles se encontram com uma espécie de esquilos, depois com sereias e a Preciosa ex machine que surge nos instantes finais apenas para salvar os heróis de um perigo invencível).
A falta de inspiração encontra-se nas péssimas piadas, como a envolvendo a avó de Sid, seu mau cheiro e incapacidade de mastigação (dentaduras e regurgitação situam-se no ápice da “criatividade”). As gags também não funcionam e envolvem mormente detalhes específicos de cada espécie: um gambá é usado como a bandeira do navio pirata, um elefante-marinho é incapaz de encontrar o seu bumbum e nenhum bicho aparentemente compreende o que os acelerados esquilos falam. Mesmo os detalhes ingenuamente soam preconceituosos ou ao menos tolos: Amora é uma mamute aranha ou Tarzan, como preferir, e a turma de mamutes adolescentes parece ter saído de episódio de High School Musical, investindo nos penteados diversificados e na formação padrão do cinema norte-americano (o interesse amoroso de Amora é loiro e seu melhor amigo negro, há ainda uma patricinha loira e a sua amiga negra).
Provocando embaraço no número musical introdutório do capitão Entranha, a narrativa ao menos acerta pontualmente no visual detalhista (que se tornou lugar comum nas animações), destacando-se o navio pirata sobre um iceberg e ameaçadoras estalactites, e em um ou outro momento, como na mudança de perspectiva do ataque dos esquilos que, embora óbvia, é suficientemente divertida para sustentar a gag. Nada disso basta para justificar 90 minutos de criatividade reciclada, congelada no esquecimento de  milhões de anos atrás, piadas sem graça e uma história que mesmo os mais pequenos já sabem como vai terminar.
Esta na hora de deixar Manny, Diego, Sid e os outros descansaram ou pelo menos evoluírem em algo melhor.

Compartilhe

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

15 comentários em “A Era do Gelo 4”

  1. Avatar
    João Paulo

    Como é fácil ser crítico de filme.. É igual ser comentarista de futebol.. Fácil de mais meter o pau!!!!

    Tá ruim? Cheio de clichês? Faz melhor!!!! Duvido que consegue..

    Fico puto com esse tipo de crítica. O filme é infantil, para um público primariamente infantil… Não deve ser uma saga a procura do desconhecido e cheio de charadas…

    Se toca… O filme diverte sim… Mas com eu disse é muito fácil criticar. Quero ver fazer melhor!!!

  2. Não João Paulo, não é fácil ver um filme ruim, apesar de concordar que é simples meter o pau.

    Porém, o que você deixou passar foram os inúmeros argumentos que dei para o filme ter sido ruim. Você se divertiu? Ótimo para você. Escreva mais de 700 palavras fundamentadas explicando o porquê e terei o prazer de ler o produto final.

    A propósito, duas coisas: não procurei uma saga a procura do desconhecido e cheia de charada se é o que você falou, adorei Madagascar 3 e Operação: Presente para citar algumas animações recentes e elas não precisaram disto para funcionar bem; outra, ser para o público primariamente infantil não significa ser imbecilizante e nivelar as crianças por baixo.

    E, por favor, vamos acabar com o argumento de "Quero ver fazer melhor!". Há muitos exemplos de críticos que fizeram filmes excepcionais, François Truffaut, Jean-Luc Godard, Rod Lurie e muitos outros. Não apele para argumentos mesquinhos e apelativos.

    Até a próxima.

  3. Vocês são uns lixos!!!

    Eu fui ver e adorei o filme e o cenário lindo e impecável!!!
    O filme é muito bom!

    Nota 10 pro filme!

    Ruim foi o Spider Man que picotou a história toda!

  4. Eu me diverti! Foi muito legal!
    Agora malhar o filme em um todo?!
    Só quem acompanhou desde o 1º sabe e entende a história, coisa que a maioria aqui não fez, então vão assistir aquele filme merdonho Crepúsculo e aquela bosta de Batman!

  5. Gosto é gosto não adianta, acredito que a falta de profundidade de A era do gelo 4 venha do proposito de seu publico alvo e acredito que essencialmente as lições morais passadas no filme e o "desproposito" das piadas infames são muito mais uma questão cultural em relação ao brasileiro que não sabe rir de si mesmo e leva tudo como ofensa. Adorei o filme a animação é espetacular as piadas são deliciosas e essa tiração de sarro com obseções e fases da vida é exatamente a graça de A era do gelo. E com todo esse jeito light, acaba sendo uma animação bem menos mecânica que Madagascar 3 que é um exagero sem proposito em sua primeira meia hora e uma lição de moral bem barata sobre superação que é o tema comteporaneo desde o imenso sucesso do seriado Glee. E mesmo assim não deixei de me divertir com nenhuma das duas animações, mesmo ficando claro seus defeitos.

  6. Obrigado pela participação sensata e educada Sérgio. Devo, porém, discordar daquela máxima: se é filme infantil, pode ser superficial. Há grandes obras infantis como Os Incríveis, Procurando Nemo, Rei Leão ou Wall-E, para citar algumas, que tem um público-alvo, mas não carecem de profundidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode gostar de:

Críticas
Marcio Sallem

Stardust

Em 1971, David Bowie é um jovem de

Críticas
Marcio Sallem

Shambhala

A empreitada de filmar Shambhala no Himalaia napalês

Rolar para cima