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Crítica | Busca Implacável 2

Taken 2 | 2012 | França | Direção: Olivier Megaton | Roteiro: Luc Besson e Robert Mark Kamen | Elenco: Liam Neeson, Maggie Grace, Famke Janssen, Leland Orser, Luke Grimes, Rade Serbedzija | Duração: 1h31min.

Se os parentes de todos os bandidos que morreram pelas mãos do ex-agente da CIA Bryan Mills recrutassem um pequeno exército para engendrar as suas vinganças, Liam Neeson estaria condenado a lutar de bengalas nos próximos 20 anos de continuações que o surpreendente sucesso de Busca Implacável ainda renderia. Isso é exatamente o que faz Murad, um gângster albanês que reúne capangas para caçar Mills e a sua família em Istambul, torturá-los e vingar a morte do seu filho, só para, minutos depois, o seu plano ruir com relativa facilidade. A partir dessa desculpa tola de história, Luc Besson produziu a sequência mais desnecessária do ano: um novo banho de sangue (de criminosos, claro) para ratificar que basta alguém igual a Mills para expurgar a humanidade de sua escória em menos de 24 horas e, se bobear, de capuz na cabeça e mãos algemadas.
Mais difícil, porém, do que espancar um bandido até a morte ou meter um tiro na sua cabeça é ser um pai atencioso e um ex-marido companheiro. Expandindo a dinâmica entre Bryan, sua filha Kim (Maggie Grace) e sua ex-esposa Lenore (Famke Janssen, vencedora do prêmio de sobrancelhas mais esquisitas do ano), o roteiro co-escrito por Luc Besson e Robert Mark Kamen (autores do original), na falta de mais homens para morrerem ao longo da narrativa, investe em um primeiro ato aborrecido em que o metódico e coruja Bryan deve ensinar aulas de direção à filha, aprender a respeitar o seu espaço e aceitar que ela não é mais uma criança e tem urgências amorosas. Ele ainda posa de ombro amigo e confidente de Lenore, oportunidade vista pela cupida Kim como forma de reunir seus pais. Enquanto isso, os traumas do sequestro ocorrido no episódio anterior só não parecem completamente cicatrizados porque são mencionados em uma frase solta no meio de um diálogo entre Bryan e Kim.

Tudo isso só encheção de linguiça até o momento da abdução, agora de Bryan e Lenore, e da fuga de Kim, com um papel mais ativo e não apenas a mocinha indefesa e infantilizada que antes permanecia paralisada de medo e mal pronunciava uma palavra sem chorar. Esta, uma das diferenças em relação ao filme anterior, compromete a já tênue plausibilidade do longa pois, se as ações de Bryan parecem improváveis, o que dizer das de Kim que não teve treinamento algum? Assim, vê-la atirando granadas, correndo pelos telhados e dirigindo em alta velocidade pelas ruelas de Istambul afronta o que restou de credibilidade da narrativa depois de um longo bate-papo no telefone e em voz alta entre Bryan, no cativeiro e supostamente vigiado, e a filha. Nem mesmo Liam Neeson consegue repetir o nível de espirituosidade que fez do original um sucesso de público, limitando-se a diálogos requentados como “eu vou ficar bem, são nossos perseguidores que vão se dar mal” ou “eu vou garantir que eles não nos perturbem mais”, sequer tendo oportunidade de desenvolver a faceta investigativa de seu personagem, uma vez que os incompetentes bandidos reúnem-se em um único esconderijo, onde estão dormindo ou assistindo a um jogo de futebol, esperando a sua vez de morrer.
Momentos que nem emplacam ou empolgam, pois Bryan supera as adversidades com tamanha facilidade que nem tememos pelo insucesso do resgate, além do fato de que os métodos empregados constantemente desafiem a lógica: encapuzado e preso dentro de uma van, Bryan contabiliza os segundos para memorizar o trajeto percorrido e os estímulos sonoros nos arredores, permitindo-lhe refazer o percurso em um momento oportuno. Mesmo aceitando que o cara é tão bom assim, como engolir que ele encontra o esconderijo a pé agora, furando todo o sistema de contagem de tempo empregado (exceto se você considerar que ele caminha na velocidade da van, o que parece natural visto que ele é um quase-super-homem). Mas esse é o menor furo para alguém que tem um pente de munição infinita (Bryan no modo Deus) e cujo GPS o encaminha aos trilhos de uma ferrovia isolada da cidade, apesar de ter sido digitado o endereço da embaixada norte-americana, na qual ele milagrosamente surge instantes depois (ao menos, a descontinuidade espacial rende a única piada boa acerca de um carro-bomba).

Falhando inclusive em ser o eficiente prazer culposo que o original era, a péssima decupagem do diretor Olivier Megaton impede compreender a geografia e a localização de Bryan e os inimigos na cena, assim como a montagem frenética de Camille Delamarre e Vincent Tabaillon e seus cortes a cada milissegundo não deixam desfrutar inteiramente as perseguições de carro, preocupando-se só com colisões e closes no rosto de Kim, e as lutas em que dificilmente descobrimos a causa da morte do azarado adversário do (anti-)herói.
Mas se Busca Implacável 2 serve para provar algo é que Luc Besson tornou-se o Adam Sandler do cinema de ação. Só isto explica a quantidade de bobagens e atrocidades que carregam a sua assinatura, como os recentes Sequestro no Espaço e Colombiana: Em Busca de Vingança. Eis uma boa missão para convocar Liam Neeson a viver de novo Bryan Mills: buscar justiça contra aqueles que o obrigaram a estrelar esse filme.

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2 comentários em “Crítica | Busca Implacável 2”

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