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Crítica | O Impossível

Título original: Lo imposible | País de origem: Espanha | Ano de lançamento: 2012 | Dirigido por: Juan Antonio Bayona | Escrito por: Sergio G. Sánchez | Elenco: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast e Geraldine Chaplin | Duração: 1h54min.

Considero inapropriado discriminar uma catástrofe pela quantidade de vítimas, algo que serve apenas aos estatísticos e às manchetes de jornais preocupadas doentiamente em contabilizar o inestimável, o sofrimento humano. Não importa se 1 ou 1 milhão de pessoas estiveram envolvidas direta ou indiretamente, o essencial é justamente aquilo que o diretor Juan Antonio Bayona captura no tsunami de lágrimas O Impossível: a batalha para salvar si próprio e os seus e, a partir desta visão pontual, ter uma ideia aproximada da dimensão e amplitude da tragédia que varreu o sol da Ásia em 26 de dezembro de 2004.

Baseado na história real de um casal e os três filhos que viajaram à Tailândia para as festas do final de ano e enfrentaram a fúria da natureza vinda do aparentemente pacato oceano, o roteirista Sergio G. Sánchez altera a nacionalidade da família, de espanhola para inglesa, para melhor casar com a pele branca, cabelos loiros e olhos verdes de Ewan McGregor e Naomi Watts. Discussões étnicas a parte, já que a licença dramática em nada modifica o impacto da narrativa, a família é brutalmente separada durante a catástrofe. Enquanto Maria e o primogênito Lucas (Tom Holland) lutam para permanecer vivos no meio do caos, o pai Henry se esforça para encontrar o resto da família.

Antes porém de mergulhar de cabeça no drama, o diretor Juan Antonio Bayona explora de maneira inteligente os breves momentos de felicidade no resort somente para maximizar a importância de cada membro da família na sua luta pela sobrevivência. Só depois das ondas gigantes destruírem o cenário paradisíaco que Bayona potencializa o pânico com uma abordagem linear que primeiramente se dedica aos esforços de Maria e Lucas para permanecer vivos, para só em seguida se concentrar na busca obstinada de um frustrado Henry. Uma decisão acertada e incomum, já que a grande maioria dos diretores ficaria tentado em intercalar as duas frentes da narrativa, alternando os eventos de uma com os da outra e prejudicando, finalmente, o envolvimento visceral com os personagens.

Mas, qualquer crítica de O Impossível não estaria completa se não mencionasse a recriação surpreendente do tsunami. Um tremor atinge o resort, aves fogem agitadas e palmeiras caem sucessivamente na orla, eventos acompanhados pelos olhares confusos de turistas que só descobriram o que estava acontecendo tarde demais. Com excelentes efeitos especiais, que põem no bolso os empregados em Além da Vida, o diretor entrecorta planos gerais, ilustrando a vasta destruição e a pequenez do homem diante da natureza (observe as pessoas encolhidas na copa das árvores), com planos fechados e o frequente uso da câmera subjetiva, que devolve a narrativa ao tom mais intimista na brava luta de Naomi Watts contra a violência das águas (rendendo uma sequência bem mais sadística do que o necessário).

A atriz tanto é vulnerável quanto corajosa e visivelmente sofre à medida que galhos dilaceram o seu corpo, mas mesmo em um estado deplorável nada a impede de fazer tudo a seu alcance para proteger Lucas. Ele, interpretado pelo ótimo Tom Holland, tem que se comportar à altura do obstáculo fisicamente (ajudando a mãe a escalar uma árvore) e psicologicamente (tomando decisões que até adultos julgariam difíceis), apesar de ser apenas uma criança que mal consegue conter as lágrimas e se manter firme depois que suas esperanças se extinguem, naquela que é uma das melhores passagens do filme. Já Ewan McGregor tem uma de suas melhores atuações recentes transmitindo a dor de um chefe de família incapaz de desistir.

Apoiado no mais bonito do espírito humano, a compaixão, a solidariedade e a força de vontade, a narrativa ainda encontra espaço para revelar o despreparo da sociedade em conter uma catástrofe dessa amplitude nos hospitais superlotados e pacientes que mal eram identificados corretamente.

Deixando de lado os números para se concentrar exclusivamente no drama particular de uma família, O Impossível é o ponto de partida para retratar o sofrimento das milhares de vítimas restantes sem jamais esquecer o que mais importa, a vida humana.

E com tudo isso, deixando uma torrente de lágrimas na sala de cinema.

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3 comentários em “Crítica | O Impossível”

  1. Verei ainda essa semana. Li no Awards Daily que Naomi Watts não está tão fora da disputa do Oscar quanto se pensa, e que a mesma pode até derrubar Jennifer Lawrence e Jessica Chastain. Se for desse jeito, por mim está tudo bem, pela atriz que ela é. Esperar para ver.

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