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Crítica | As Sessões

Título original: The Sessions | País de origem: Estados Unidos | Ano de lançamento: 2012 | Dirigido por: Ben Lewin | Escrito por: Ben Lewin baseado no artigo de Mark O’Brien | Elenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, Adam Arkin, Rhea Perlman e W. Earl Brown | Duração: 1h35min.

Filmes como Intocáveis ou este As Sessões desarmam com um estalo de dedos as armas da patrulha politicamente correta. Basta para isto que o protagonista portador de uma deficiência ou doença incapacitante seja o primeiro a aceitar a condição e, sem um resquício de autocomiseração, derrube o muro do preconceito alterando, consequentemente, a percepção daqueles ao redor. Melhora mais quando o faz com muito bom humor, como é o caso daquele que é o maior sucesso de bilheteria da França, ou então com doçura e suavidade como nesta história real de como o poeta Mark O’Brien decidiu perdeu a virgindade após mais de 30 anos confinados a uma maca após contrair poliomielite aos 6 anos de idade.
Adaptado por Ben Lewin, que também dirige, a partir do artigo escrito pelo próprio Mark O’Brien On Seeing a Sex Surrogate, o qual você pode ler aqui em inglês, o roteiro nada mais faz do que reaproveitar a base de uma comédia romântica conferindo, porém, um tom adulto e menos clichê e substituindo os jogadores sem desvirtuar os esteriótipos nos quais eles se encaixam. O inseguro apaixonado agora tem os porquês de ser assim, pois é visto pelo sexo oposto de todas as maneiras, menos com interesse sexual, e ainda está preso ao tabu da igreja; o melhor amigo e incentivador agora veste a batina do padre Brendan (William H. Macy), um hippie com cabelos compridos e ocasionalmente uma fita amarrada na cabeça; e finalmente, o objeto de afeição do protagonista, a terapeuta sexual Cheryl (Helen Hunt), é tão desinibida e ousada quanto se poderia esperar nas tais sessões do título em que ela tenta fazer com que Mark atinja a consciência corporal e a masculinidade plena através de exercícios sexuais.
Mas o que torna esse trabalho verdadeiramente especial e distinto, além dos inusitados protagonistas, é a forma sutil com que Ben Lewin introduz os previsíveis pontos de virada, sobretudo Mark apaixonar-se por Cheryl. Falta-lhe na verdade, o afã de cumprir os estágios que já estamos carecas de conhecer dos filmes do gênero e sem esta urgência, ele pode desenvolver naturalmente uma mútua aproximação cega à doença mas consciente de que o relacionamento é improvável, já que Cheryl é uma mãe de família bem tipicamente norte-americana. Definidos desde cedo o conflito, a incerteza de sua superação e o escasso período de tempo de convivência de só 6 sessões, nada impede entretanto de ambos preencherem as lacunas na vida um do outro com um senso de humor agridoce e coerente à meia-idade dos personagens. Neste sentido, o roteiro de Lewin tem um humor autodepreciativo jamais ofensivo (Mark questiona à sua assistente se ela “precisa de ajuda com a mobília” e um gato travesso revela-se um pesadelo para alguém incapaz de coçar o próprio rosto) misturado às apimentadas confissões no átrio da igreja e belos momentos em que Mark relembra frustrações amorosas passadas sempre com um lirismo de palavras mais do que apropriado para o poeta.
O que inevitavelmente leva à grande atuação de John Hawkes, injustamente esnobado pelo Oscar, expressando múltiplos sentimentos, como decepção, alegria, nostalgia, excitação e curiosidade, só com singelas mudanças na inflexão da voz fraquejante. Também deve-se destacar o visível desafio físico que deve ter sido permanecer o tempo inteiro curvado preso à cama ou então ao pulmão de aço artificial, com a palma da mão direita virada para cima e a da mão esquerda rija presa ao lado do corpo, em uma composição (literalmente!) disciplinada e convincente. Enquanto isso, Helen Hunt chama a atenção mais por causa da corajosa entrega à personagem, que atravessa boa parte da produção nua, do que por sua atuação, prejudicada por cirurgias plásticas e aplicações de botox que lhe retiraram muito da expressividade facial e a tornaram uma estranha versão de uma barbie cinquentona. Ainda assim, a atriz é hábil em retratar na voz tenra e no toque carinhoso e gentil a cumplicidade construída entre ela e Mark.
Apresentando uma boa e discreta direção de arte, que afixa à distância o diploma de Cheryl e contrasta as figuras religiosas com o que Mark persegue com afinco justificando um dos aspectos da sua personalidade, e uma montagem excelente, sobretudo no raccord que associa o pulmão de aço a um certo objeto de madeira, As Sessões é um romance adulto gostoso, leve e libertador.
P.S.: Mark O’Brien foi tema do Curta de Documentário Breathing Lessons: The Life and Work of Mark O’Brien vencedor do Oscar em 1997 e que é ótimo. Vale a pena conferir.

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2 comentários em “Crítica | As Sessões”

  1. Olá Márcio,

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    Um abraço,

    Marcos
    http://www.cinematotal.com
    [email protected]

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