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Crítica | Caça aos Gangsteres

Título original: Gangster Squad | País de origem: Estados Unidos | Ano de lançamento: 2013 | Dirigido por: Ruben Fleischer | Escrito por: Will Beall baseado no livro de Paul Lieberman | Elenco: Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn, Nick Nolte, Emma Stone, Josh Pence, Anthony Mackie, Robert Patrick, Michael Peña, Giovanni Ribisi e Mireille Enos | Duração: 1h53min.

Tenho certa inclinação por histórias de crimes, os seus anti-heróis cínicos, suas femmes fatales de batom e vestido vermelhos e toda a aura charmosa emanada dos tons néon dos grandes clubes onde estrelas e orquestras disputavam a atenção de fregueses bebendo garrafas de champanhe, alguns deles poderosos chefões do crime organizado. Não se engane, no entanto, que por causa disto Caça aos Gangsteres facilmente cairia nas graças deste crítico; pelo contrário, o novo trabalho de Ruben Fleischer, do ótimo Zumbilândia e do não tão bom 30 Minutos ou Menos, precisaria de muita competência para dividir a prateleira com os muitos clássicos do gênero. E no panorama geral, mesmo com graves problemas de tom e um roteiro problemático, ele até chega bem próximo da meta.

Ambientado no pós-guerra em Los Angeles, época em que o famoso letreiro do Mount Lee ainda lia HOLLYWOODLAND e ter uma pistola na gaveta da cozinha era sinal de prudência, o roteiro do iniciante Will Beall escancara a guerra pela alma da cidade dos anjos travada entre o ex-boxeador e agora gângster Mickey Cohen (Sean Penn, em uma atuação caricatural e menos eficiente do que de costume) e um esquadrão secreto de policiais incorruptíveis instituído pelo chefe de polícia Parker (Nick Nolte), no mesmo molde daquele de Os Intocáveis, liderado pelo sargento O’Mara (Josh Brolin). A ele, aliam-se o mulherengo Jerry (Ryan Gosling e sua voz estranhamente anasalada) e outros policiais melhor descritos pelos esteriótipos que representam: o durão Coleman (Anthony Mackie), o franco-atirador Max (Robert Patrick, saído dos grandes faroestes), o imigrante mexicano Navidad (Michael Peña) e o especialista em telecomunicações Conway (Giovanni Ribisi, enfim longe dos papéis de psicopata).

Linear, o roteiro restringe-se a estabelecer missões que aproximam a equipe do seu objetivo de desmantelar a quadrilha de Mickey Cohen e salta de uma para a outra sem maior inventividade ou estratégia, recorrendo a diálogos expositivos de O’Mara que estabelecem instintivamente o novo alvo (basta observar o que antecede as elipses da invasão ao cassino ou da colocação da escuta na casa de Mickey). O roteirista também não faz esforço algum para estabelecer a personalidade de O’Mara e Jerry, os personagens mais fortes da narrativa, resumindo-os a uma combinação de vários personagens saídos diretamente de livros de James Ellroy (autor de Los Angeles – Cidade Proibida e, dou o braço a torcer, uma boa inspiração sem sombra de dúvida). Sofre do mesmo trauma a bela Grace (Emma Stone, cujos cabelos ruivos e corpete vermelho a tornam imediatamente a versão carne e osso de Jessica Rabbit, de Uma Cilada para Roger Rabbit), o clichê ambulante da garota que pisa em Los Angeles com o desejo de se tornar mais uma estrela no calçadão de Hollywood mas encontra um destino bem diferente do sonhado.

Com problemas de desenvolvimento de personagens – de repente, Jerry sofre uma crise de ciúmes -, distrações artificiais e mal resolvidas – a esposa grávida de O’Mara – e um vilão com o chato hábito de matar seus capangas (nesses casos, sempre pergunto como ele continua recrutando mais gente), o roteiro funciona meio sem querer ao humanizar aqueles homens e transformá-los em reféns da sorte mais do que em hábeis policiais. Ver a evolução da equipe, portanto, é um dos prazeres da narrativa desde uma invasão malfadada a um cassino e a interceptação atrapalhada de um carregamento de heroína até o momento em que, seguros de si mesmos e tendo visto carnificina demais, eles começam a atuar em sintonia e com competência. Também ajuda o fato dos diálogos serem deliciosamente servidos com máxima ironia (“A cidade está debaixo d’água e você prefere pegar um balde em vez de um calção de banho”) e Mickey Cohen, agora sim o personagem funciona, ser um bandido cego pelo próprio egocentrismo capaz de categorizar quem o persegue como sendo “contra o progresso”.

Casa muito bem com isso a abordagem estilizada impressa por Ruben Fleischer que, longe de querer dirigir um filme historicamente correto e sério, opta por banhos de sangue bem elaborados, uma montagem imatura (e divertida) que associa um pedaço hambúrguer a um cérebro e o farto uso de câmeras lentas, além de tiroteios orquestrados com inteligência o bastante para permitir que o público identifique quem está onde e atirando em quem (o que nos dias de hoje tem sido pedir demais). Mas se a primeira metade aproveita o tom despretensioso e bonachão para borrar o lindo sépia da fotografia com tons vibrantes de vermelho sangue, a narrativa altera radicalmente a abordagem no decorrer do segundo ato com uma seriedade sequer sugerida a princípio.

E mesmo que a guinada no tom seja intencional e reflita a mudança da própria postura dos personagens diante das mazelas que se deparam, é triste verificar a covardia de Fleischer que apenas põe diante do cano de uma arma os coadjuvantes mais descartáveis e cujo destino poderia ser antecipado desde cedo. Assim, previsível como a antecipada luta mano-a-mano que encerra a narrativa (que contradiz o que Mickey Cohen afirma em determinado momento), Caça aos Gangsteres equilibra-se entre problemas e acertos, e estes, felizmente, são bem mais marcantes.

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2 comentários em “Crítica | Caça aos Gangsteres”

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