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Crítica | A Vida Íntima de Pippa Lee

Sufocada em um casamento com um homem mais velho, revivendo traumas do passado e sem voz (sinônimo de personalidade), Pippa Lee parece ter escapado de um episódio de Desperate Housewives neste ótimo estudo de personagem. Dirigido e escrito por Rebecca Miller, A Vida Íntima de Pippa Lee — título bastante reducionista, no original em inglês seria algo como As Vidas Secretas de Pippa Lee — surpreende pela sensibilidade obtida no olhar crítico sob a protagonista e pelo excelente elenco.

Estabelecendo Pippa Lee (Robin Wright Penn) em flashbacks da sua infância e adolescência e na dinâmica do seu casamento com Herb (Alan Arkin), Rebecca Miller, na maior parte do tempo, evita o tom episódico da narrativa. Para isto, ela elipses de tempo com fluidez e criatividade — como no jantar entre Herb e Pippa, na qual a câmera se afasta até revelar esta a algumas décadas atrás.

A cineasta também aposta em símbolos que ilustram sutilmente momentos importante, como quando Suky (Maria Bello) enche o prato de cereais de Pippa e outro plano similar onde a mesma cena é vista, apenas substituindo o conteúdo por drogas. A cena montada a partir de fotografias, além de aumentar a tensão da descoberta que irá ser feita, faz um belo paralelo com a atividade de Kat (Julianne Moore).

Do elenco, agradou-me a atuação de Alan Arkin, como um homem consciente, mas que evita se render a sua avançada idade. Maria Bello está intensa no papel da mãe de Pippa, exibindo a mudança de humor de uma mulher sob efeito de anfetaminas. Blake Lively não compromete na composição da adolescência de Pippa. E se Keanu Reeves está apenas seguro, Monica Bellucci e Julianne Moore estão marcantes, mesmo em um curto tempo.

Mas é Robin Wright Penn o destaque: atriz talentosa e que abraçou os sinais da idade, ela atravessa o filme em pleno estado de torpor. Contudo, na tristeza em seu olhar ela revela que está à beira de um ataque de nervos. Mesmo no olhar cuidadoso ao medir a pressão de Herb, ela não esconde a ansiedade de talvez esta medição a libertar definitivamente do casamento, o que apenas a enriquece como personagem.

Apesar de moralmente reprovável pontualmente, durante uma cena no furgão ao final do filme, A Vida Íntima de Pippa Lee mostra que ainda que vivamos muitas vidas (pais/mães, filhos, amantes), no núcleo somos apenas uma pessoa que grita no âmago de nossa consciência para ganhar liberdade e se revelar ao mundo como ela é.

Avaliação: 3 estrelas em 5.

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