A direção de Martin Scorcese investe em flashbacks – sonhos e alucinações também – que ajudam a estabelecer Teddy Daniels, além de funcionar como válvula de escape da angústia em que estamos imersos. Além disso, Scorcese tem momentos de pura genialidade: no momento intimista com a esposa de Teddy que, decorado com uma chuva de cinzas, faz bom uso de efeitos especiais para apresentá-la dissipando-se em suas braços; a execução de soldados nazistas em um curto plano sequência brilhantemente coreografado; ou na cena da Ala C em que, usando apenas fósforos, Teddy se comunica com um prisioneiro vivido por Jackie Earle Haley (excepcional, diga-se de passagem).
Criando ambientes claustrofóbicos e perturbadores, a direção de arte também marca com sutileza o escritório do Dr. Cawley, repleto de elementos remetendo a excentricidade daquele indivíduo.
Já Leonardo DiCaprio novamente tem uma atuação primorosa, vivendo um homem traumatizado. Sem esconder certo ódio por estar buscando nos corredores da instituição o suposto assassino de sua mulher, DiCaprio também pontua muito bem as crises de enxaqueca do indivíduo nas mãos trêmulas e no olhar inquieto. Ele está acompanhado por um bom elenco com Mark Ruffalo, Ben Kingsley e o e Max von Sydow, que vive um psiquiatra ao estilo nazista.
Investindo em uma conclusão surpreendente e sobretudo repleta de elementos que a tornam ainda mais elegante, Ilha do Medo, corajosamente mantém o espectador em dúvida até o último momento acerca das ações de Teddy Daniels, na forma de uma simples pergunta “vale mais a pena viver como um monstro ou morrer como um homem bom”.
Avaliação: 5 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “Crítica | Ilha do Medo”
Concordo com tudo! Filme excelente!!! Um dos melhores que vi este ano!