
Reproduzindo com inteligência e habilidade a instabilidade política fruto do temor do instituto da regência – quando um aspirante à monarquia era impedido temporariamente de assumi-lo, seja pela idade, seja por alguma moléstia -, o roteiro de Julian Fellowes apresenta Vitória (Emily Blunt), completando seu 17° aniversário, e a obsessão de Sir John Conroy (Mark Strong, se tornando o vilão habitual inglês) de se tornar regente. Mas o apoio e o amor incondicional de seu tio, Rei Guilherme (Jim Broadbent em uma curta, mas bela interpretação) e a dúbia dedicação de Lorde Melbourne (Paul Bettany) impedem a concretização dos planos de Conroy.
Dirigido por Jean-Marc Vallée, a narrativa economiza na exposição e mantém os propósitos de cada personagem em destaque. E apesar de ter o plano em que Conroy é visto por detrás das chamas de uma lareira – lugar-comum para registrar a natureza diabólica de um personagem -, ele cria uma boa rima narrativa ao vermos, em dois momentos distintos e importantes, Vitória acompanhada pela câmera por trás de si.
Mas, como na maioria das produções de época, são a direção de arte e os figurinos quem roubam a cena: ilustrando traços marcantes da personalidade dos personagens, como a jovialidade de Vitória, a ingenuidade de Albert e a sobriedade de Conroy, os figurinos de Sandy Powell, ganhadora do Oscar, são além de belos, reveladores. Não menos inspirada é a direção de arte de Patrice Vermette, com seus amplos salões e vultuosas fachadas, mas especialmente na cena da coração que pontuada pela hipnotizante trilha de Ilan Eshkeri é um dos melhores momentos do longa.
Já a bela Emily Blunt impressiona cada vez mais com outra boa interpretação. Retratando a rainha como uma garota mimada e intransigente, recém livre do confinamento a que era submetida, porém facilmente manipulável, Blunt atesta o progressivo amadurecimento político e emocional da nova regente. E se Paul Bettany confere um grau de insegurança quando o Lorde Melbourne está em cena – necessário para que sempre duvidemos de seu caráter -, Rupert Friend é apenas enfadonho como Albert, na única atuação destoante do elenco.
Suntuoso na recriação de época ao ponto de tirar o fôlego e homogêneo no calibre das atuações, A Jovem Rainha Vitória falha somente no ritmo frouxo, na mudança de interesses de alguns personagens que não soam naturais e na insistência em retratar a história de amor de Vitória e Albert quando seria melhor manter o tom de intrigas políticas na sucessão da monarquia. Ainda assim, um bom filme.
Avaliação: 3/5

Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.