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Crítica | A Fita Branca

A comparação entre A Fita Branca e Dogville é pertinente: em ambos os casos, em uma pequena aldeia, moradores aparentemente bondosos e normais começam a cometer atos de brutalidades, seja contra a doce personagem interpretada por Nicole Kidman ou pessoas escolhidas de acordo com uma característica particular. Mas, se Lars von Trier praticava uma análise fria da natureza humana, Michael Haneke explora a maldade inerente àqueles campesinos que viriam a se tornar a semente do nazismo na Alemanha.

Narrado por um dos poucos personagens imaculados da narrativa – embora a sua bondade seja questionável -, logo no início testemunhamos o acidente de um médico que sofre uma fratura em sua clavícula. Instante depois, uma mulher morre na fazenda do barão mais rico da cidade. Todos creem se tratar de acidente, porém a abdução e tortura do filho do barão não deixa dúvidas de que algo está acontecendo. A única semelhança entre os casos é que um grupo de crianças (dentre elas, há os filhos de um pastor) estava presente junto ao incidente.

Evitando revelar a autoria dos crimes, Haneke enfoca os atos isolados das crianças, como a culpa de Martin ou a crueldade de Klara com um passarinho para demonstrar o significado da fita branca do título. Símbolo de inocência e pureza, ela somente é o cruel adereço cuja natureza não podia ser menos do que um pedaço de pano velho ao invés de ser reflexo do âmago dos jovens.

Opressivamente fotografado em preto e branco por Christian Berger, Haneke assume um tom ligeiramente documental brincando metalinguisticamente ao sugerir, sem pretensão, para colorir um álbum de fotografia. Mas o que confere identidade à narrativa também a enfraquece, e a distância e frieza de Haneke afastam o envolvimento emocional do espectador, estarrecido demais com os fatos à sua frente. Ao se despedir da esposa, a câmera opta por não revelar as lágrimas derramada; a punição de Martin e Klara é a portas fechadas, e apenas ouvimos os gritos sem compartilhar as suas penitências.

O objetivo do diretor é claro ao se eximir de julgamento adotando a postura de observador através dos olhos do professor da escola da aldeia que buscava a certeza fazer alguma acusação (algo que jamais ocorreria). Exceto, evidentemente, se os símbolos fossem explorados: como durante um incêndio em que o reflexo de uma cruz surge em uma crítica à religiosidade e representação da condenação.

Demonstrando a consequência de todo mal perpetrado, é desenvolvida uma cadeia de eventos que envolve o pai amarrando o filho à cama, a humilhação praticada pelo médico da aldeia, a fuga literal, no adeus à aldeia, ou figurada, na prática de suicídio, e os pecados guardados por laços de família, medo ou egoísmo de se expor. Nesse sentido, A Fita Branca é um cruel retrato de um mundo não tão distante de nós e que, no caso específico (o surgimento do nazismo), felizmente estamos separados por uma grande tela branca.

Avaliação: 4 estrelas em 5.

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