O Aprendiz de Feiticeiro, porém jamais se prontifica de se aproximar desse exemplar. Superficialmente inspirado no clássico da Disney Fantasia, estrelado por Mickey Mouse, a aventura encontra a velha história de um jovem que detém poderes além de sua compreensão e que precisa aceitar seu destino com a ajuda de um mestre pouco ortodoxo para salvar a humanidade de uma ameaça.
Apresentando sua narrativa em um confuso prólogo onde conhecemos a história de Merlin e seus três discípulos, Balthazar (Nicolas Cage), Horvath (Alfred Molina) e Veronica (Monica Bellucci), o filme salta vários séculos para conhecermos Dave (Jay Baruchel), um garoto que o anel do dragão escolheu como o Primeiro Merliniano. 10 anos depois de um incidente que custou ao jovem sua popularidade na escola, Balthazar o reencontra para recuperar e proteger o Grimhold em que estão aprisionados os mais perigosos magos.
Sem jamais fugir da velha escola de mocinhos e vilões, o roteiro escrito a seis mãos, e provavelmente pensado por outra dúzia de cabeças, apresenta inúmeras lacunas que, ao longo da projeção são escondidos pelo ritmo alucinante da ação e os bons efeitos especiais. Porém, depois me perguntei: por que um feiticeiro poderoso como Horvath sua para fugir de um metrô em sua direção se ele podia apenas usar a magia? Ou por que ele, que pode rever o passado dos objetos (ou seja lá como for), precisa que o garoto diga onde está o Grimhold se na cena posterior ele o encontra sem ajuda? E por que ele não obtém a informação hipnotizando-o, se ele faz o mesmo com um atendente da faculdade?
Essas perguntas têm a óbvia resposta de que se ele conseguisse tudo isso não haveria filme. Pois bem, reconhecendo que os efeitos especiais são a verdadeira estrela da produção, o diretor Jon Turteltaub sabiamente utiliza um vasto arsenal de poderes e magias que os feiticeiros se divertem ao longo do roteiro. A luta inicial de Balthazar e Horvath é um exemplo de um momento, que longe de excepcional, ganha pontos por mostrar que para aqueles homens, qualquer coisa ao redor deles pode ser usado como armas. Turteltaub também é feliz quando recria o momento de Fantasia em que o aprendiz tenta domar vassouras encantadas.
Porém, O Aprendiz de Feiticeiro tem problemas que tornam a experiência menos agradável. As gags não funcionam da maneira esperada, e a cena do treinamento (clichê neste gênero) com os raios de plasma ou a piada que se passa em um banheiro e envolve a prisão no espelho falham em arrancar sorrisos. A narrativa também carece de ousadia como no caso do espelho Húngaro, em que tudo ocorre de maneira invertida, mas é mal aproveitado.
Atuando no piloto automático, Nicolas Cage e Alfred Molina interpretam os rivais Balthazar e Horvath sem nenhuma camada de dimensionalidade – Cage é atormentado por um amor passado aprisionado na Grimhold e Molina quer destruir o mundo da maneira que der. Já Jay Baruchel é carismático e facilita o processo de identificação com o jovem.
Ultrapassado, apesar dos efeitos especiais modernos, O Aprendiz de Feiticeiro não tem defeitos ou qualidades dignos de destaque. Mas, sua falta de personalidade e de ambição em ser algo mais que uma mera aventura (sonhando talvez em estabelecer uma franquia), acabam sabotando uma experiência que apesar de pouco original, poderia ao menos ser agradável e empolgante.
P.S.: Após os créditos, há uma homenagem e uma revelação.
2 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.