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Crítica | Sem Limites

Não é preciso usar 1% do cérebro para identificar que, anualmente na época mais morna do mercado cinematográfico, Hollywood despeja produções conceitualmente curiosas, mas aquém na sua execução. Lembre-se dos teletransportadores de Jumper (2008), dos poderes mentais de Heróis (2009) e agora no superinteligente protagonista de Sem Limites. Esbarrando na ironia do próprio título, o defeito desta produção é sua inabilidade de superar as cômodas barreiras das convenções e resoluções óbvias. Mas apesar de ser uma oportunidade desperdiçada, igual aqueles citados anteriormente, esta é uma diversão passageira, escapista e visualmente original cujo maior mérito é ser esquecível igual aos lapsos de memória vivenciados pelos usuários da droga NZT.

Adotando a conhecida estrutura de começar a narrativa no clímax para com um grande flashback e a narração em voice over explicar como o protagonista chegou até ali, o roteiro introduz o clichê do escritor Eddie Morra (Bradley Cooper) atravessando um período de bloqueio criativo. Em um estado físico deplorável, com contas atrasadas e solteiro após romper o namoro com Lindy (Abbie Cornish, a nova Nicole Kidman), ele é um fracasso em todos os sentidos até o dia em que experimenta a droga experimental NZT, que permite ao usuário explorar o potencial ilimitado do cérebro.

Utilizando uma estética visual que é a melhor coisa da narrativa, a fotografia de Jo Willems retrata a existência medíocre do protagonista através da fria paleta de cores azuladas para, durante o efeito do NZT, ganhar vida na utilização de cores quentes e intensidade iluminação que refletem o estado psíquico alterado. De forma parecida, a direção de arte e figurinos representam conscientemente a mudança na personalidade e atitude de nosso herói, o que, longe de ser o ápice da criatividade, é eficiente para retratar os diferentes estados de Eddie.

Dirigido freneticamente por Neil Burguer, que desde os créditos iniciais joga o espectador em um longo e nauseante travelling, a narrativa usa quaisquer recursos que possa para transmitir a experiência da droga nem que graças a isto peque por excesso. Múltiplas representações de Eddie representam a multi-tarefa do sujeito e as letras que caem do céu ou os azulejos tilintando com dados da bolsa de valores ilustram a agilidade do seu pensamento. Já o retrato da experiência sensorial através de closes fechadíssimos e cortes secos e rápidos tem resultados piores e o mesmo vale para a visão panorâmica e os espelhos infinitos que surgem sem dizer para que vieram.

Nome mais cobiçado do momento, Bradley Cooper torna fácil a identificação do público graças à facilidade com que ele representa o homem-médio cujos sonhos jamais foram plenamente realizados. Mas nem todo o seu carisma é suficiente para diminuir o embaraçoso momento em que Eddie deve beber sangue para tomar sua dose diária. Enquanto isso, Robert De Niro está novamente perdido em um papel que poderia (e deveria) ser cortado sem grandes inconvenientes na narrativa.

Com pontas soltas e furos sem explicação (de onde surgiram tantas pílulas), abandono de personagens e arcos narrativos (a modelo assassinada e a ex-namorada doente) e concluindo forçadamente Sem Limites parece ter sido concebido por uma única pílula NZT: uma ideia muito boa que rendeu 30-40 páginas do roteiro, mas que foi estendida na pior das crises, a de abstinência de inteligência.

Avaliação: 3 estrelas em 5.

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1 comentário em “Crítica | Sem Limites”

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