Serei razoável: em Eu Sou o Número Quatro existe a semente de uma interessante ficção científica, que jamais se concretiza graças a um roteiro derivado e despido de personalidade. Baseado no livro de Pittacus Lore, pseudônimo dos colaboradores James Frey e Jobie Hughes, o roteiro apresenta a caçada da raça alienígena dos Mogadorians contra os Loriens que vieram se refugiar no planeta Terra. Estes porém, em número de nove, têm um Legado, superpoderes análogos às habilidades dos X-Men, carregam um amuleto e são acompanhados por uma protetora figura paterna. Após matarem três (dã), eles partem em busca do número quatro, John, interpretado por Alex Pettyfer.
Apresentando uma mitologia vasta, mas pobremente explorada, os roteiristas Alfred Gough, Miles Millar e Marti Noxon resumem namoram a ideia de estabelecer uma franquia e pouco se preocupam em esclarecer pontos importantes da narrativa: do que se trata o amuleto que eles carregam no peito? E o Lúmen? Quando os alienígenas vieram parar no nosso planeta e como é o ciclo de vida deles? Porque eles viram pó, igual a um bando de vampiros, depois de mortos? Perguntas possivelmente respondidas no livro (que não li) às quais os roteiristas sequer dão a devida atenção.
Pior: embora não respondam as perguntas mais elementares, os roteiristas o menor traço de originalidade da história, um misto de filmes melhores: de Star Wars o relacionamento entre Obi-Wan Kenobi e Luke Skywalker e a fuga e esconderijo deste em Tatooine; de Super-Homem, ou melhor, da série Smallville, o contexto adolescente; de Homem-Aranha, a fase da descoberta dos poderes, a vida no colegial e a existência de um próprio Flash Thompson; vem Crepúsculo e o indeciso amor entre de John e Sarah ao estilo Edward e Bella, ou seja, “eu amo, mas tenho que me afastar para te proteger”, “devemos nos separar, mas eu te amo”. Insatisfeitos com esse balde de referências, o roteiro acha espaço para sugar de Harry Potter, Snoopy, Bakugan e outra dezena de bobagens indignas de nota.
A partir de diálogos risíveis, o elenco é forçado a reproduzir bobagens como “Nós não amamos como os humanos, para nós é eterno”, e a se contrariar quando momentos após o primeiro ataque de John na aula de astronomia e a recomendação de se ausentar por dias, o amigo nerd Sam mencionar o “ataque que John teve ontem”. Perdoem-me se eu soar redundante, mas o trabalho dos roteiristas é péssimo, culminando em falhas de continuidade grosseiras, durante a manifestação dos poderes de John no banheiro do colégio e o misterioso reaparecimento do rapaz em casa.
Diante de um material ruim, o bom diretor D. J. Caruso (Paranóia, Controle Absoluto) não tem nem como começar a apagar os incêndios. E apesar do início promissor, a narrativa afunda durante o hiato de John na escola, cometendo uma das cenas mais embaraçosas do ano durante a feira da cidade na viagem assombrada com a família de canibais de Massacre da Serra Elétrica. Contaminado pelo estilo de filmagem de Michael Bay, produtor do filme e “autor” do estilo de filmagem de muito mais cortes por segundo do que a vista consegue acompanhar, D. J. Caruso elabora um clímax excitante, e absolutamente incompreensível na qual Lara Croft, oops, Número Seis luta contra uma criatura alada e um bando de Mogadorians carecas, tatuados e com guelras saídos de outro filme B melhor.
Sem vergonha nem de usar as cores azul e vermelho para representar, adivinha, heróis e vilões, respectivamente, o elenco, repleto de rostos jovens, alterna altos e baixo, mas especificamente Alex Pettyfer e Timothy Olyphant (que não é tão jovem assim) não chegam a comprometer.
Curioso apenas no tocante à foto que John bate de um garoto no balanço e mostra ao seu “amor eterno” Sarah, Eu Sou Número Quatro poderia ter sido uma boa ficção-científica, mas preferiu situar-se no limbo próximo a Crepúsculo. Isso diz muita coisa e piora se pensarmos que ainda restam outros quatro números darem as caras.
Avaliação: 1 estrela em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
5 comentários em “Crítica | Eu Sou o Número Quatro”
Não era o caso de dar nota 0/5 ou 1/5?
Não tenho uma nota 0/5. O 2/5 foi como eu me senti no final da crítica. Mas no final, o que importa realmente é o texto e não a nota 🙂
Harry Potter, Snoopy, Bakugan
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
eu ri nessa
hein uma dica
tbm concordo com o ronaldo
d + valor as suas notas pois vc é um critico excelente
e antes de curtir um filme eu leio a crititica aki
e assisto conforme a nota
c foi baixa d + eu nen assisto
pois considero lixo
eu assisti o eu sou o numero 4 e gostei
naun pela historia logico
kkkkkkkkkkk
mas pela critica, a historia merecia um zero ou no maximo 1
dois é d+
É bem ruinzinho mesmo!
Assistam "O Assassino em Mim". Este tem um clima denso, lento, mas tem um bom roteiro. As cenas de violencia são necessárias para mostrar a personalidade do protagonista. Muito bom.