Deve existir uma maldição que tortura melhores amigos(as) às vésperas de casamentos nas comédias românticas. Se O Casamento do Meu Melhor Amigo, Simplesmente Amor e O Melhor Amigo da Noiva não foram suficientes para comprovar esta teoria, O Noivo da Minha Melhor Amiga o fará pensar muito antes de escolher padrinhos e madrinhas da cerimônia. É sintomático como nesses filmes as pessoas se apaixonam justamente pela única pessoa na vida, pela qual elas deveriam pensar mil vezes antes de fazê-lo. Antes que alguém diga que nos triângulos amorosos nascem os conflitos que darão vida ao mais novo algodão doce dos cinemas, eu digo que estaria mais interessado se o noivo da melhor amiga do título fosse um mafioso, um serial killer ou um portador de uma síndrome desconhecida que soprasse vida nova no gênero.
Comédia romântica razoavelmente agradável, ao menos a narrativa dirigida por Luke Greenfield comprova que não é tão difícil criar um programa de casais em que o companheiro não precisa se entediar durante o tempo de projeção. O segredo é simples e envolve um bom desenvolvimento dos personagens – ou protagonistas carismáticos -, alívios cômicos oportunos – ou ao menos coadjuvantes engraçadinhos – e um roteiro que fuja ao menos ligeiramente do curso esperado – ou cujo final não seja antecipado desde o primeiro minuto.
Mas quem funciona na narrativa é a atriz Ginnifer Goodwin, que na pele da boa moça Rachel, constrói uma versão adocicada da Julianne de O Casamento do Meu Melhor Amigo, e por isto, desvia-se do esteriótipo da mocinha frágil, pura e carente. Naturalmente bondosa ao invés de mera conveniência do roteiro, ao ser distratada por Darcy (Kate Hudson), ela aceita de servilmente a sua amizade, enxergando a fraqueza contraditória à sua beleza. O que torna muito mais importante o porquê dela jamais revelar, até em momentos de raiva, que sabe a verdade relacionada à admissão da amiga em Notre Dame, como se fosse uma forma de alimentar dentro de si uma falsa crença de superioridade.
As atitudes de Rachel a fazem uma personagem mais tridimensional do que a maioria das mocinhas porque quem age traiçoeiramente é ela, e não a amiga, apesar do roteiro de Jennie Snyder (baseado em um livro de Emily Giffin) exigir uma compensação artificial de Darcy. À sua maneira, Darcy compartilha semelhanças com Angela Hayes, interpretada por Mena Suvari em Beleza Americana, esforçando-se para parecer mais seguras do que realmente são, o que exige soberba e humilhação em relação à amiga. No vértice do triângulo está Dex (Colin Egglesfield), um dos clones de Tom Cruise da década de 90, e um expurgo unidimensional do roteiro que, apesar da razoável composição do ator, nunca consegue afastar os rodeios que praticamente o forçam a sentar em cima do muro, despejando carinho as duas mulheres e gritar em voz alta, “eu fico com você! não posso ficar com você. vamos ficar juntos. eu tenho que casar com ela”.
Funcionam melhor: John Krasinski, cuja melhor coisa que já fez foi casar com Emily Blunt, interpreta Ethan, conselheiro de Rachel e dono de um destino anormal dentro de comédia românticas; Marcus (Steve Howey), o mais engraçado, por abraçar completamente a caricatura do homem neanderthal (seria um elogio chamá-lo de troglodita); e Claire (Ashley Williams), engraçadinha na obsessão por Ethan.
Evitando compromissos mais sofisticados, Luke Greenfield aposta no óbvio que as vezes é mais correto do se imagina. Na sua lógica visual, Dex sempre divide o plano com as duas pretendentes, o que é adequado à própria história contada. Já a sua mise-en-scène é correta repisado no afastamento gradual de Dex durante uma visita à mansão em que irá morar. Finalmente, até as fotografias de Darcy e Rachel na juventude parecem ter sido planejadas com atenção, colocando a primeira sempre em posição de superioridade em relação à amiga.
É verdade que aquilo que Darcy menciona no final como uma “loucura” é outra compensação do roteiro para satisfazer os clichês e prevenir a sua vitimização, uma atitude covarde. E certamente, o diretor poderia enxugar as quase 2 horas de duração. Porém, ao ignorar acertadamente conflitos tolos, O Noiva da Minha Melhor Amiga é um pouco melhor do que as bobagens românticas hodiernas, transformando a declaração de amizade na festa surpresa em uma espécie de prelúdio natural à felicidade das duas melhores amigas, ao invés de apenas um diálogo em vão.
Avaliação: 3 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “Crítica | O Noiva da Minha Melhor Amiga”
Muy mala, malos actores, mala historia…