Premonição 5 (Final Destination 5), 2011, Estados Unidos. Direção: Steven Quale. Roteiro: Eric Heisserer. Elenco: Nicholas D’Agosto, Emma Bell, Miles Fisher, Ellen Wroe, P. J. Byrne, David Koechner, Tony Todd. Duração: 92 minutos.
Depois de 11 anos, 4 filmes, dezenas de mortes e o criativo e macabro senso de humor da morte, o espectador tem a certeza do que o aguarda ao entrar na sessão de Premonição 5: alguns jovens personagens e um grande desastre previsto por um deles que temporariamente os salva das garras da morte, apenas para que esta corrija o equívoco cometido anteriormente. Afora o primeiro e ótimo exemplar de 2000, nenhum dos outros exemplares conseguiu recriar a aura de tensão e o suspense necessários para um filme como este funcionar. Ao invés disto, investiram no gore gráfico e vísceras que apenas ressaltavam a artificialidade da empreitada, ou em personagens chatinhos e aborrecidos cuja morte era algo mais do que conveniente. Ou seja, exceto um aspecto do roteiro do segundo exemplar, todas as continuações são sanguessugas exclusivamente interessados em lucrar, independentemente da qualidade do filme em cena.
Preparado para isto, eu me surpreendi positivamente com Premonição 5: uma agradável, bem realizada e divertida continuação, que apenas não consegue superar a experiência do original porque o conceito da ameaça silenciosa da morte foi exaustivamente banalizado. Embora reafirmando o compromisso de manter-se fiel ao formato da narrativa, Premonição 5 não busca apenas capitalizar sobre a galinha dos ovos de ouro, e inova introduzindo uma nova regra no jogo de xadrez da morte. Dessa maneira, se no segundo exemplar, o nascimento de uma vida, do ventre de uma sobrevivente grávida, poderia modificar os planos da morte; neste – e possivelmente último -, a morte de alguém fora da lista pelas mão de um sobrevivente poderá lhe dar a oportunidade de continuar vivo, pois a morte se satisfaz com a troca de uma alma pela outra.
Nesse sentido, existe um esforço do elenco de transformar os personagens em seres mais humanos e tridimensionais, ao invés de tolas caricaturas destinadas a uma morte sinistra. Isto é mais evidente porque, diferentemente dos outros episódios, os sobreviventes compartilham o mesmo espaço de convivência, a empresa convenientemente batizada de Presage, e não é incomum observá-los confraternizando ou chorando o luto de alguém. Particularmente, Nicholas D’Agosto e Emma Bell são carismáticos, apesar da boba crise que sofre o seu relacionamento, e Miles Fisher, com um quê de Tom Cruise, consegue desenvolver um interessante e bondoso personagem, incapaz de lidar com o luto da morte da namorada, transformando-no em alguém rancoroso e surpreendente.
Por sua vez, desde os intensos créditos iniciais, acompanhados por uma trilha sonora de rock adequada e as “armas” usadas pela morte, existe uma disciplina na direção de Steven Quale (o diretor da segunda unidade de Avatar) que evita que o filme transforme-se em uma autoparódia. Evidentemente, há o alívio cômico, interpretado por P. J. Byrne – que conta com piadas descontraídas sobre a sua morte -, mas em geral, o filme mantém-se sóbrio e frio, evitando que o pública ria das mortes dos personagens, e inclusive, questionando em um interrogatório policial a natureza da premonição de Sam, fato que os demais ignoraram.
Carregado de boas referências aos episódios anteriores – os fãs reconhecerão o caminhão carregando toras de madeira na ponte ou a menção à montanha russa mais atemorizante – e uma reviravolta inesperada, inquestionavelmente Premonição 5 tem a maior, melhor e mais bem executada cena de desastre de abertura: trata-se de um colossal acidente em uma ponte suspensa, desenvolvido com elegância e pragmatismo por Steven Quale, que privilegia o suspense às mortes, recorre à variadas câmeras para proporcionar a imersão na catástrofe necessária e ainda usa a música mais famosa de Kansas, Dust in the Window, para provocar arrepios.
Privilegiando a qualidade à quantidade na redução do número de sobreviventes, evitando o maior dos problemas das continuações de filmes de terror, Steven Quale é paciente para elaborar criativas cenas de morte, em ambientes não explorados como um ginásio de ginástica, uma clínica de acupuntura ou um consultório oftalmológico. Dessa forma, assim como na primeira das mortes da série (um enforcamento em uma banheira), a expectativa do público é frustrada por não conseguir prever exatamente como a morte irá ceifar a vida de cada um. Junte-se a isto a recusa de Quale de apelar ao trash dos episódios anteriores, apesar da obrigatoriedade de vísceras, e você tem um filme que sabe cumprir exatamente o que promete.
Curiosamente, é o 3D do filme que mais me incomodou, principalmente por vir das mãos de alguém que, pupilo de James Cameron, deveria saber usar a técnica melhor. Satisfeito apenas em jogar coisas na direção do público ou ilustrar a profundidade de objetos pontiguados e longilíneos, claramente tem-se mais um filme produzido no formato convencional e convertido posteriormente para 3D. Logo, é rotineira a falta de foco no terceiro, ou mesmo no segundo plano, de tomadas com maior profundidade de campo – um erro capital e primário no 3D – tornando desnecessário o gasto a mais para assistir no formato.
Provavelmente, Premonição 5 é o encerramento ideal de uma série regular estabelecida sob um ótimo conceito. Um compromisso próximo da qualidade do original, que carrega cartas na manga para surpreender o espectador até o último minuto, e homenageia àqueles que acompanharam ao longo de 11 anos, um vilão invisível que não gosta de ser trapaceado.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.