Sem Saída (Abduction), 2011, Estados Unidos. Direção: John Singleton. Roteiro: Shawn Christensen. Elenco: Taylor Lautner, Lily Collins, Maria Bello, Jason Isaacs, Sigourney Weaver, Alfred Molina, Michael Nyqvist. Duração: 106 minutos.
É fácil entender o que os produtores de Sem Saída imaginavam quando tiraram este projeto do papel: a combinação do apelo de um dos jovens astros mais desejados da geração Crepúsculo com uma narrativa de ação que, superficialmente, poderia interessar ao sexo masculino, parece a fórmula adequada para agradar o público adolescente e engordar os cofres. Possivelmente, esta versão emo-juvenil da trilogia Bourne atingirá o seu intento, e inevitavelmente, entrará para as listas dos piores filmes do ano e um dos mais estúpidos da década.
Com uma história derivada de muitas outras de descoberta de identidade, conhecemos Nathan (Taylor Lautner, o lobisomem Jacob para quem chegou agora no planeta Terra), um jovem impulsivo, violento e irresponsável que, depois de encontrar o seu rosto em um site de pessoas desaparecidas, começa a ser perseguido por um mercenário sérvio Kozlow (Michael Nyqvist, o Blomkvist da versão sueca da trilogia Millenium) e uma equipe da CIA comandada por Kevin Burton (Alfred Molina). Com a morte daqueles que supunha serem seus pais (Jason Isaacs e Maria Bello), Nathan foge com a amiga Karen (Lily Collins), e deve evitar que uma lista de inteligência caía em mãos erradas, ao passo que junta as peças para montar o quebra-cabeça do seu passado.
Ressaltando a superficialidade de Nathan nos primeiros minutos, e saciando os anseios do público feminino de o verem sem camisa, acompanhamos a dinâmica familiar do jovem baseado no violento treinamento imposto pelo pai e a conivência carinhosa da mãe. Evidentemente que, o diretor John Singleton acredita que o travelling pelos porta-retratos da família seja bastante para compreendermos a união daquela família. O que é apenas uma forma preguiçosa de ignorá-los completamente.
Basedo na idéia de que o público alvo consiste em um bando de jovens imbecis e impressionáveis, com pouca ou nenhuma bagagem cinematográfica e incapazes de compreender as coisas mais óbvias da narrativa, o roteirista Shawn Christensen gosta de expor elementos reiteradas vezes e duvida da inteligência do seu público. O tiro saí pela culatra e apenas mostra quão incompetente é o roteirista cuja história não consegue sobreviver a uma análise mais crítica. Pois, julgando-se oportuno ao obrigar Taylor Lautner dizer em voz alta que lembra da mãe verdadeira ao ver uma foto, logo após ter tido um pesadelo com ela, Shawn esquece de atar as pontas mais ínfimas do roteiro.
Assim, se o pai verdadeiro de Nathan obteve a lista confidencial meses atrás, porque Kozlow usou como uma isca um site desenvolvido há mais de 2 anos, conforme explica o agente Burton? Quais eram os interesses do sérvio à época? E como alguém imaginaria que, dentre mais de 300 milhões de habitantes, exatamente Nathan esbarraria em uma foto sua de infância? Porém, porque estou tentando julgar a inteligência ou experiência de uma dúzia de homens que, dispondo das principais tecnologias do mundo e informações em tempo real, não conseguem capturar um garoto e a sua namorada?
Mas, além de estar cheio de furos e crateras, o roteiro de Shawn consegue provocar uma sensação de incredulidade jamais vista, pois como imaginar um bebê naturalmente colocando uma máscara no seu rosto para não inalar um gás? Responsável por diálogos inverossímeis e patéticos, Shawn consegue inclusive, envergonhar uma criança de 10 anos elaborando a sua primeira redação. E juro que quando eu ouvi:
– Nós vamos morrer?, disse Karen com os olhos aflitos e angustiados.
– Não, eu não vou deixar isso acontecer; respondeu Nathan com segurança para em seguida beijá-la.
… imaginei um ser humano repetidamente arremessando sua cabeça contra a parede enquanto busca algum sentido para o surgimento da vida na Terra. Deixemos a filosofia de lado!
Por sua vez, o diretor John Singleton, responsável pelo clássico Os Donos da Rua, encontra-se em queda livre na sua carreira, majorando as piores falhas do roteiro. A diminuição da profundidade de campo consequência do testemunho da morte dos pais adotivos é um recurso apenas menos infeliz do que um travelling usado na plataforma de trem para revelar um perseguidor que todos já haviam visto antes. Nessa mesma linha, Singleton decide que se esconder detrás de balões em um hospital é a maneira mais fácil de despistar e não chamar a atenção de perseguidores. Mas, o que mais me impressionou foi a durabilidade de uma camisa (e, especialmente, a mancha usada para identificá-la).
Enquanto Taylor Lautner pula cordas, participa de uma luta greco-romana e pilota uma moto trajando jaqueta de couro e óculos escuros – para delírio do público feminino, anteriormente fascinado com o rapaz sem camisa -, é inegável constatar que o ator tem a expressividade de uma formiga e um tom monocórdico incômodo, pronunciando todas as suas frases da mesma maneira entediada, seja bebendo e divertindo-se com os amigos, ou negociando com a CIA e o Kozlow. Entretanto, o elenco de apoio com bons nomes como Jason Isaacs, Maria Bello, Alfred Molina e Sigourney Weaver, consegue transformar os seus personagens em seres minimamente interessantes e relevantes.
Descaradamente comparando-se com a trilogia Bourne, desde à associação da feição de Matt Damon a de Taylor Lautner, ao uso de câmeras e recursos de informática, falta muito para que Jacob Bourne alcança a condição de sua versão mais adulta.
Eu começaria por um treinamento intenso, aulas de atuação e um roteiro que não transformasse meu cérebro em geléia.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
6 comentários em “Sem Saída”
Nem vou passar por isso, prefiri não ver o filme. Tem cara de ser… Uma grande bomba!
Abs.
hahahhahahhahaahhaha
É, estou com você nesse filme. Um dos PIORES do ano, com certeza! Deus me livre!
Este filme filme estava na minha lista para ver hoje mas foi eliminado valeu.
Recomendo porque não é um filme previsível como a grande maioria… Trata-se de um cara que, durante um trabalho de colégio, acha sua foto num site de crianças desaparecidas, onde vai questionar seus pais a respeito e acaba descobrindo que eles não são, em verdade, seus verdadeiros pais – mas agentes da CIA. O elenco é fantástico… tem um ator que é da trilogia Millenium, o Michael Nyqvist, que caiu super bem no papel do mercenário sérvio. Muito, mas muito bom – recomendadíssimo pra quem curte um bom filme de ação, mas que engloba suspense, romance, tudo.
Eu assisti algumas vezes e gostei.
Acho que quem fez o comentário sobre o filme, esqueceu que é apenas um filme – entretenimento. O comentário negativo é uma fórmula, que pode ser usado para qualquer filme. Basta trocar os nomes. É só pagar! Foi raso!