A Hora do Espanto (Fright Night), 1985, Estados Unidos. Direção: Tom Holland. Roteiro: Tom Holland. Elenco: Chris Sarandon, William Ragsdale, Amanda Bearse, Roddy McDowall, Stephen Geoffreys. Duração: 106 minutos.
As décadas de 70 e, principalmente, a de 80 foram momentos ricos para o cinema de terror hollywoodiano. Além das duas obras primas do gênero, O Exorcista (1973) e O Iluminado (1980), famosas franquias deram os primeiros passos e alguns dos mais cultuados vilões nasceram: Michael Myers, Freddy Krueger, Jason Vorhees são alguns cujos nomes aterrorizavam os jovens adolescentes de outrora. Tamanha é a importância desse período que, nos dias de hoje, somos atacados com uma enxurrada de refilmagens e reboots desses mesmos vilões de antigamente. Bem, A Hora do Espanto (1985) é um daqueles exemplares do período que eu me recordo com mais carinho, pois é um filme que diverte na mesma proporção que assusta, o que é determinante para um filme do seu gênero.
Dois são os motivos determinantes do sucesso de A Hora do Espanto: o primeiro é a ambientação do subúrbio onde Charlie Brewster (Ragsdale) descobre que o seu novo vizinho Jerry Dandrige (Sarandon) é um vampiro. Do uivo de um lobo na abertura à predominância de sombras e neblinas na fotografia de Jan Kiesser, o diretor e roteirista Tom Holland consegue equilibrar muito bem o tom de descrença com a descoberta de que existe um sanguessuga ameaçador e perigoso na porta do lado.
Desde os minutos iniciais, Holland surpreende com uma estréia segura e vigorosa na direção. As referências dos programas televisivos de terror funcionam e a direção de arte John DeCuir Jr. acerta ao recriar o santuário do apaixonado caçador de vampiros Peter Vincent (McDowall), nos pôsteres espalhos de Bella Lugosi, nos crucifixos e ornamentos espalhos pela casa. Além disso, a direção aos poucos confirma a monstruosa natureza de Jerry descoberta pelo estarrecido olhar voyeurístico de Charlie. Os sinais são claros: os vizinhos levam um caixão ao porão, a reportagem no jornal de notícias informa a morte de duas pessoas, das quais uma Charlie havia visto no dia anterior, e um dos vizinhos, Billy Cole (Jonathan Stark) é visto pintando as vidraças da casa.
Holland novamente é bem sucedido em reviver as supertições clássicas dos vampiros: Jerry precisa ser convidado para entrar na casa alheia – elemento que Deixe-me Entrar aprofundou -, é indefeso à água benta, crucifixos e estacas de madeira, seu reflexo não aparece nos espelhos e ele tem uma grande habilidade em seduzir e enfeitiçar suas vítimas. Alfinetando produções do cinema slasher, como aquele cara vestindo uma máscara de hóquei dedicado a matar virgens, o roteiro é preciso em estabelecer a temporalidade e, basicamente, Charlie tem a janela de um dia para matar Jerry depois de descobrir que é um vampiro.
Exibindo efeitos especiais, animatronics e a ótima maquiagem de Richard Edlund, que criou algumas das composições vistas abaixo, A Hora do Espanto recorda o porquê aprecíavamos e nos divertíamos tanto no cinema de horror.
O elenco também é afinadíssimo e, enquanto Ragsdale leva-se a sério demais, falhando em não se posicionar adequadamente entre alguém que testemunhou algo realmente aterrorizante e alguém incrédulo de sua própria descoberta. Porém, Chris Sarandon e Roddy McDowall dão um show. Este tem um arco interessante de um covarde protagonista de uma série de televisão para um caçador de vampiros com a fé necessária para empunhar uma cruz.
E é Sarandon – ele merece um parágrafo apenas para ele – quem destrói tudo. Apresentando Jerry como uma criatura centenária, cansada e aborrecida com os avanços de Charlie, ele parece divertir-se no jogo de gato e rato, considerando inevitável o desfecho, o que justifica o porquê de “brincar” com Charlie ao transformar seu amigo Evil Ed (Geoffreys) e sua namorada Amy (Bearse) em vampiros. Seguro, cisudo e ameaçador, o Jerry tem uma repaginada no ar draculiano com um quê charmoso e decidido, provando ser um dos antagonistas mais interessantes de uma longa safra de filmes de vampiros.
A Hora do Espanto é uma aventura de terror divertida e despretensiosa, objeto de afeição de muitos cinéfilos. Lógico que a ganância de Hollywood levaria produtores a enfiar suas presas no pescoço desta pequena gema do cinema de horror.
P.S.: A refilmagem entra em cartaz nesta sexta (07/10/11) nos cinemas. Colin Farrell é a escolha para o papel de Jerry. Mas, desconfio que o jeito intenso do ator não corresponda à despreocupação e segurança de Chris Sarandon. Descubra no Cinema com Crítica nos dias seguintes.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
3 comentários em “A Hora do Espanto (1985)”
Ótimo texto, amigo. Gosto muito desse filme e ainda não tive a oportunidade de ver o remake. Estou muito ansioso.
Obrigado pelo presente!
Abração
Remake, amigo? Assista ao original, o clássico dos anos 80!
A melhor crítica que li sobre esse clássico, parabéns!!