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Poder sem Limites

(Chronicle), Inglaterra/Estados Unidos, 2012. Direção: Josh Trank. Roteiro: Max Landis. Elenco: Dane DeHaan, Alex Russel, Michael B. Jordan, Michael Kelly, Ashley Hinshaw, Bo Petersen, Anna Wood. Duração: 84 minutos.



Imagine se, antes de vestir sua roupa aracnídea, Peter Parker buscasse nas bagunçadas gavetas do seu quarto uma câmera digital não apenas para descolar novas fotos do amigão da vizinhança para vender para o famigerado J. J. Jameson, mas também para documentar a descoberta de seus grandes poderes e todas as suas aventuras. Embora soe esdrúxula e pouco atraente, essa situação pode ser vislumbrada em ‘Poder sem Limites’, a basilar história de como o poder pode corromper aqueles não preparados para recebê-lo, e o não tão incomum caso de uma ótima ideia prejudicada por escolhas narrativas equivocadas, no caso a utilização do banalizado formato ‘found footage’.

Escrito por Max Landis, o roteiro apresenta Andrew (DeHaan, um jovem DiCaprio no melhor sentido), um jovem retraído e cabisbaixo, filho de Richard (Kelly), um homem abusivo frequentemente bêbado, e de Karen (Petersen), uma paciente de câncer terminal com poucas semanas de vida. Sem uma amizade verdadeira e constantemente vítima de maus tratos na escola, Andrew é uma bomba-relógio ambulante  o que transforma a compra de uma câmera para filmar o que acontece ao seu redor em uma espécie de terapia para evitar que ele enlouqueça. Certo dia, seu primo Matt (Russel) e o candidato à presidência do conselho estudantil Steve (Jordan) o convidam para filmar a descoberta de um artefato (alienígena?) enterrado no solo e emitindo uma luz brilhante azul, responsável por lhes dotar de grandes poderes telecinéticos (ou seja, a habilidade de usar a mente para, dentre outras coisas, mover objetos).

Se é fácil questionar-se o que foi feito do artefato e como ninguém o descobriu depois, é igualmente simples perdoar essa falha do roteiro no seguro desenvolvimento da história, distante de extravagâncias habituais dos filmes de origem de heróis e interessado nas consequências individuais e na rotina desse trio de super-amigos. Sendo visto igual a um músculo que precisa ser condicionado, a telecinese dos jovens evolui de interromper a trajetórias de bolas de beisebol ou montar complexas estruturas usando lego para habilidades mais ousadas como a criação de barreiras defensivas e a levitação. Nesse sentido, enquanto Matt e Steve têm afazeres diversos nas atribuladas vidas sociais, Andrew facilmente se torna o telepata mais forte (e um cineasta bem realizado recém descobrindo o ‘travelling’), amplificando o seu poder no isolamento da sua casa.

Todavia, o feliz cotidiano de brincadeiras em uma loja de departamento, as frustradas tentativas de Matt voar e um perigoso jogo de futebol americano nas nuvens, bem como o divertido show de talentos onde Andrew atinge vaidosa e brevemente a tão sonhada popularidade, são imediatamente substituídos pelo violento rancor e hostil ressentimento no retorno aos problemas do lar e angústias dos traumas escolares do ‘bullying sofrido’. Assim, o jovem ator Dane DeHaan tem um desempenho extremamente feliz no trágico personagem, substituindo a inofensiva delicadeza deferida à mãe pela ameaçadora e intensa postura vingativa, latente desde seu primeiro gesto de violência (acidental?). Enquanto isso, Alex Russel e Michael B. Jordan fogem dos esteriótipos e competentemente apresentam jovens complexos e preocupados com Andrew. Não necessariamente por motivos altruísticos ou amizade, mas sobretudo por um sentimento de responsabilidade, o que apenas enriquece e valoriza a composição deles.

Usando o ‘found footage’ para conferir verossimilhança aos eventos, o diretor Josh Trank é inteligente na primeira metade, escondendo Andrew atrás da câmera, resquício da timidez e invisibilidade essencial para sobreviver à escola. No entanto, o formato começa a se revelar incômodo e problemático quando a descartável blogueira Ashley (Letter) surge em cena. Sem protagonizar uma única cena interessante, a personagem é um descarada desculpa do diretor de introduzir uma nova câmera em cena e, repare, que na visita de Matt a sua casa ela sequer tinha um porquê de filmar algo. Mais do que isso, sem entender exatamente o formato, Josh Trank apresenta momentos estranhos e/ou embaraçosos, como a filmagem de uma conversa no telhado entre Andrew e Steve e, principalmente, a briga daquele com o pai. Neste caso, a cena é toda problemática pois, parece uma atitude óbvia do pai afastar grosseiramente a câmera. Porém, se Andrew a escondeu, como ele conseguiu concentrar-se para movimentá-la durante a ação que decorre?

Apresentando também problemas nos aspectos técnicos em função do formato, a montagem de Elliot Greenberg aposta em cortes secos sendo tecnicamente irrepreensível, mas equivocadamente desonesta nos eventos do terceiro ato quando são introduzidas imagens de câmeras de vigilância, de cinegrafistas amadores e da cobertura televisa intercambiavelmente, revelando-se um ‘terror diegético’ a montagem delas em um todo coerente sem prejudicar o conceito pseudodocumental.

Tendo no pano de fundo o imponente Obelisco Espacial de Seattle, ‘Poder sem Limites’ revela-se a agradável surpresa no concorrido subgênero de filmes de super-heróis, dialogando com este na original e satisfatória origem de um supervilão a qual, como nos melhores histórias, é intrinsecamente ligada a de seu antagonista.

Uma pena, portanto, que um produto tão promissor tenha se rendido a um modismo supérfluo e pobre como o ‘found footage’. Quem sabe convencionalmente, ‘Poder sem Limites’ pudesse ter sido uma pequena obra-prima.

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4 comentários em “Poder sem Limites”

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