Enxergando nas mulheres exímias manipuladoras de sentimentos, o elenco feminino é sacrificado pelo ponto de vista machista e estereotipado daqueles amigos. Leila, Alana, Vitória e Gabi existem sobretudo para infernizar as vidas deles, chantageando-os com promessa de vida mansa, carinho, amor e/ou sexo. Múltiplas funções condicionadas de maneira óbvia conforme a história romântica vivida, sem que elas tenham a chance de se converterem em seres humanos autênticos com dramas e aflições pessoais tão ou mais importantes do que os deles. Mas, este olhar unidimensional é o menor defeito narrativo, pois se origina do imaginário popular de homens inseguros, incapazes de admitir mulheres divertindo-se com suas amigas (apesar de na mesa ao lado no boteco haver frequentadoras habituais), ou a independência sexual e financeira delas.
O jeito brucutu, mas ingênuo masculino também exime a narrativa do preconceito machista, como de que mulheres não sabem dirigir (Gabi arranha a porta do carro na pilastra do estacionamento), ou de que precisam de orientações na cama (as participações de Honório lecionando sobre sexo oral e frigidez são breves e esporádicas, divertindo sem constranger ou ofender). Assim, o maior problema de E aí… Comeu? é que ele não é nem engraçado ou profundo o suficiente para sustentar ser mais do que uma esquete de 100 minutos. Isto se vê na preferência de Felipe Joffily em usar sinônimos escatológicos e frases de efeito para provocar risos pontuais ou em introduzir incidentes apartados (o protagonizado por Katiuscia Canoro), ao invés de desenvolver o humor consistentemente a partir da imaturidade tenra de seus protagonistas.
Isso fica claro na cena mais engraçada do filme onde Fernando, a partir de um comentário banal sobre o desprendimento feminino, tem conclusão estrambólica envolvendo esposa, negão e os órgãos sexuais alheios. Na verdade, é Bruno Mazzeo que impede que E aí… Comeu? seja descartável: comediante nato e de timing cômico invejável, o filho de Chico Anysio (homenageado brevemente nos créditos finais) tem um dom natural em provocar riso fácil, como na cena que se passa em um táxi e de onde se vê nas hesitações o potencial de improvisação do humorista. Além disso, ele também compõe Fernando como um sujeito melancólico, coerente ao estágio transitório da vida em que se encontra. Por sua vez, Seu Jorge é grata surpresa, interpretando um retrato de si mesmo, e reencenando a mítica figura do garçom Don Juan.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
14 comentários em “E aí… Comeu?”
Saí do cinema no meio do filme e profundamente ofendida. O filme é extremamente machista, com linguagem chula e coloca a mulher como um mero objeto sexual. Filme muito grosseiro.Admito que já não esperava muita coisa devido ao título e ao protagonista, porém resolvi dar uma chance. Me arrependi e não recomendo.
De fato é machista. Não me incomodei tanto por, no fundo, existir uma dependência daqueles personagens as suas mulheres, mas fique registrada uma opinião feminina.
Confesso haver pouquíssimo que me motivaria a assistir a esse filme. Provavelmente, o veria porque quero me incluir mais no cinema nacional, mas não o veria por uma série de outros motivos, como o fato de não acreditar na sua potência artística e ainda achar que tem algo machista aí…
Machismo é o menor problema da narrativa e potencial artístico desta espécie de produção resume-se em: caça-níquel. Mas, não é tão trágico quanto Cilada.com.
O filme em sí é regular, não iria assistir por causa do título muito apelativo. Não fui assistir em hipótese alguma o "Cilada.com".Dei crédito ao roteiro do Marcelo Rubens Paiva e não me arrependi pois o filme apesar das participações pontuais encaixadas, consegue atingir a meta do cinema mundial, ou seja, distrai.
Obrigado pela participação 🙂
Discordo de você em um ponto, Márcio: acho o Bruno um péssimo comediante. Seus programas televisivos são terríveis. Não posso dizer que se dá mal no cinema, pois não vi nem o Cilada.com e nem este. Portanto, quanto ao filme, não posso dizer nada!
Não ver Cilada.com é uma benção.
Estou com o Sérgio Sá Leitão, presidente da RIOFilme, acho que tu é mais um daqueles críticos que desestimula o cinema nacional, ao não elogiar essas bombas produzidas pela Globo, no sentido do público brasileiro ir conferir mais filmes nacionais. Márcio, seu, seu, seu… MAL COMIDO!
Pronto, mais um troll na grande rede. HAHAHAHAH.
Péssimo em todos os aspectos artísticos perceptíveis por mim
Esse filme é maravilhoso ameeeei
Esse filme é maravilhoso ameeeei
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