Escrito por Eric Darnell e Noah Baumbach, o roteiro desconsidera boa parte dos eventos do episódio anterior, o mais fraco, e acompanha a odisseia dos animais, de onde quer que estejam na África, no retorno à civilização. Para isto, partem no encalço dos pinguins e macacos que escaparam de avião rumo a Monte Carlo, surgindo misteriosamente no cais do principado à nado (e porque não fizeram isto anteriormente para chegar à Grande Maçã é um mistério semelhante a uma girafa mergulhadora). Perseguidos por Chantel DuBois, uma taxidermista obcecada por leões e chefe do controle de animais, Alex e os demais fingem ser circenses e se juntam ao circo Zaragoza, cuja trupe composta pelo tigre Vitaly, a jaguar Gia, o leão marinho Stefano e a ursa Sônia encerra sua própria jornada pessoal.
Previsível na abordagem para conquistar um maior número de fãs, vender mais brinquedos e produzir novos subprodutos, a equipe duplica a quantidade de personagens, acentua a ação desenfreada e substitui muitas soluções inteligentes por comodidades preguiçosas, forçando a barra ao sugerir que animais inexperientes com pouquíssimas horas de treino elaborariam um novo espetáculo de circo. Abusando de clichês, é apenas natural que a mentira contada por Alex seja desmascarada oportunamente e provoque a desilusão daqueles que o viam como um salvador, ou que o drama de Vitaly renda um retorno triunfal no momento apropriado.
Por outro lado, entre a ação frenética, especialmente a perseguição em Mônaco, que não cede brecha para respirar (a montagem destaca-se pela fluidez de raccords, como a recordação de Vitaly ou a chegada à Roma), a narrativa encontra espaço para apresentar personagens cativantes, bem mais interessantes do que Alex, Martin, Melman e Glória, sobretudo o esperançoso e sonhador Stefano. Já o sucesso da série de televisão dos pinguins e lêmures exige a sua promoção de alívios cômicos pontuais à integrantes de destaque na narrativa, sendo cediço afirmar que eles protagonizam as melhores sequências cômicas, como nas tentativas das aves de tirar vantagem ou na paixão à primeira vista do Rei Julian pela ursa Sônia.
Mas, aí você pergunta, onde está algo nesta narrativa que justifique o veemente elogio no parágrafo inicial? Encontrando no circo o resgaste sonhado pelos bichos novaiorquinos, a narrativa encerra de forma inesperadamente lógica e inteligente a trilogia – termo que pensei cuidadosamente antes de usá-lo -, e a alucinante perseguição enfim culmina na comovente descoberta dos bichos de onde pertencem, o que envolve a superação do comodismo e das grades que enjaulam e deturpam os reais desejos e aspirações de cada um. Mais, há ainda uma mensagem acerca da crueldade praticada contra os animais que, embora não seja sutil como a mensagem ecológica de Wall-E, repisa algo atual e importante aos pequenos sem afastar a coerência narrativa.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
3 comentários em “Madagascar 3: Os Procurados”
"Achava que minha pedra era maior."
Também me vi emocionado na linda cena em que os animais, depois de três filmes tentando voltar para o zoológico em NY, percebem como aquilo ali era uma verdadeira prisão para seus instintos e qualidades.
Dizer que a história é extremamente esquemática (o roteiro poderia abrir mão do péssimo momento em que "a mentira é descoberta e o mundo cai") nem chega a ser novidade, mas ao menos o filme tenta (e muitas vezes consegue) compensar essa rigidez com deslumbre visual e muito movimento.
E… nefasto o 3D? Achei bastante apropriado do filme em abusar dos grandes espaços e assim permitir um bom uso dessa dimensão adicional.
Enquanto continuarem jogando coisinhas na tela eu vou achar o 3D uma aporrinhação. Mas somos nós dois os ardorosos defensores dessa apaixonante animação, não? 🙂
Sério, estou curioso pra ver, gosto muito dos personagens!!!