Aumentando seu amor pelo cinema a cada crítica

Crítica | Looper: Assassinos do Futuro

Looper | 2012 | Estados Unidos, China | Direção: Rian Johnson | Roteiro: Rian Johnson | Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Paul Dano, Jeff Daniels, Noah Segan, Piper Perabo, Pierce Gagnon, Qing Xu, Tracie Thoms | Duração: 1h58min

Looper: Assassinos do Futuro é neste ano o que A Origem e Contra o Tempo foram respectivamente nos dois anteriores: a melhor ficção científica lançada nos cinemas. Apesar de bem inferior comparado a esses exemplares, a premissa criada pelo roteirista e diretor Rian Johnson é intrigante o bastante para prender a atenção do espectador tão logo surja o primeiro viajante no tempo encapuzado e prestes a ser executado por um dos loopers, assassinos contratados no passado para eliminar alvos do futuro. Mas não apenas curiosa, a premissa é satisfatoriamente desenvolvida, levando-nos, como em toda boa ficção, a questionar os aspectos morais da distopia apresentada, mesmo sendo esta reflexão casualmente relegada ao segundo plano em detrimento da ação.
Familiarizando o espectador acerca dos detalhes da profissão de looper durante a narrativa no prólogo, Joe (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem assassino recrutado pela organização chefiada por Abe (Jeff Daniels, cujo personagem jamais mostra para que veio). Ele, assim como os demais, tem uma vida regada a festas e drogas até o fatídico dia em que terá que fechar o seu ciclo (o loop), matar o seu “Eu” enviado do futuro, apagar os vestígios de sua participação na organização e faturar bastante ouro para curtir 30 anos de aposentadoria – o roteiro tem uma resposta pobre do porquê de serem 30 anos e não 20, 40 ou mesmo simplesmente deixar o cara morrer naturalmente. Até que certo dia, Joe falha em fechar o loop e deixa escapar a sua versão mais velha, interpretada por Bruce Willis, colocando ambos na mira da organização.

Mais interessante do que a proposta da narrativa é o tratamento dado aos personagens que a povoam. Evitando investir em heróis quadrados e unidimensionais, o roteiro tem homens (e mulheres) de personalidade no mínimo questionável ao reprovável, e que não pensam duas vezes antes de atirar em um mendigo, em plena luz do dia e diante outras pessoas. Melhor exemplo é o protagonista Joe: drogado, impulsivo e inescrupuloso, a sua gentileza com uma garçonete e com a prostituta vivida por Piper Perabo não o exime da mesquinhez de dedurar a localização de seu melhor amigo Seth (Paul Dano), e a quantidade de prata acumulada sob o piso de seu apartamento, proveniente das vítimas de sua bacamarte, apenas reforça sua indiferença com a vida alheia. Por sua vez, o Joe do futuro é um homem calejado, obstinado em corrigir o passado, mas cego por uma vingança e raiva – o banho de sangue que provoca demonstra isto – que não lhe permitem enxergar que é o catalisador daquilo que pretendia evitar; e o seu melhor momento é justamente uma reação desesperada e gutural depois de cometer um ato brutal, tornando-o um sujeito contraditório e trágico, o melhor papel de Bruce Willis em muito tempo.
Absurdamente parecido com ele, tanto na fisionomia obtida a partir da aplicação de próteses e maquiagem, quanto nos trejeitos, desde a inflexão da voz e o franzir da testa ao bico característico e o olhar retesado, Joseph Gordon-Levitt consegue ser um melhor Bruce Willis do que o próprio conseguiria ser se interpretasse a si mesmo, usando o suporte no ator não só como curioso exercício de interpretação (que funciona muito bem), mas também para desenvolver o hiato que separa as personalidades distintas de uma mesma pessoa.
Apresentando um futuro sujo e violento realçado na fotografia de Steve Yedlin (mais um membro do fã clube flares de J. J. Abrams), a direção de arte é detalhista para investir em painéis de energia solar, adaptadores de combustível e engenhocas que ajudam a criar a identidade de um futuro não tão distante de nossa realidade. Ainda assim, o diretor Rian Johnson não consegue justificar inúmeros elementos introduzidos na narrativa, como a abundante presença de mendigos ou o destino de um looper que não cumpriu sua missão e cuja importância resume-se a mostrar uma nova maneira de enviar informações e de provocar o choque do espectador através de mutilações sucessivas.
Há ainda a impressão de que o roteiro estava sendo reescrito ao longo das filmagens, o que explicaria o porquê da telecinese ser tão mal explorada, ou também o surgimento de personagens cruciais só em meados do segundo ato, como Sara (Emily Blunt) e o seu filho Cid (Pierce Gagnon), e a descartabilidade de outros como Kid Blue (Noah Segan). Falhando em conferir o ritmo adequado à narrativa, parando por longos momentos sempre que precisa esclarecer algo, Rian Johnson revela-se um fraco diretor de ação com sequências pouco imaginativas para uma narrativa futurista. E não o ajuda a inspiração, bem além da inocente referência, em obras como O Exterminador do Futuro e A Profecia, chupando inclusive de X-Men: O Confronto Final para revelar as consequências do devastador poder da raiva descontrolada de um telepata (lembram-se o que Jean Grey provocava sempre quando tomada pela Fênix?).
Ainda assim, a violência realista, as boas atuações e um desfecho exemplar garantem a coroa de melhor ficção científica do ano para Looper: Assassinos do Futuro. Entretanto não se engane, pois diferente dos títulos citados no primeiro parágrafo que venciam por méritos próprios, este o faz pela completa falta de concorrentes, provavelmente eliminados no passado por algum looper espertinho.

Compartilhe

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

3 comentários em “Crítica | Looper: Assassinos do Futuro”

  1. Bom, já estava achando estranho que eu era o único que parecia não ter achado o filme digno de nota máxima. Quando soube de um filme com Joseph Gordon-Levitt e Bruce Willis interpretando o mesmo personagem, decidi não ler a sinopse, não ver nenhum trailer e nem imagens do filme, para ir ao cinema sem saber o que esperar. Assim, foi realmente divertido ver a primeira cena, com o personagem Joe matando pela primeira vez, e não entender nada.
    No fim, gostei de como o filme foi feito, como foi dirigido, e acredito que a grande maioria dos problemas que achei, estavam no roteiro. Tinha uma ideia muito legal, mas acho que poderia ter sido melhor trabalhado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode gostar de:

Críticas
Marcio Sallem

Monster

Quando Akira Kurosawa dirigiu o clássico Rashomon, propôs

Críticas
Alvaro Goulart

Barbie

Quando criança, eu não brincava com a Barbie,

Críticas
Marcio Sallem

O Menu

Um casal viaja para uma ilha costeira para

Rolar para cima