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Crítica | Ted

Ted | 2012 | Direção: Seth MacFarlane | Roteiro: Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild | Elenco: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Joel McHale, Giovanni Ribisi, Patrick Warburton, Matt Walsh, Jessica Barth | Duração: 1h46min

A transição de artistas da televisão para o cinema na maioria das vezes é problemática. Nem mesmo um dos grande humoristas norte-americanos dos anos 90 e co-criador de uma das séries de maior sucesso da história da televisão, Jerry Seinfeld, escapou incólume de sua passagem da telinha para a telona no fraco Bee Movie. Assim, como fã incondicional da hilária série animada Family Guy (batizada de Uma Família da Pesada no Brasil), eu temia pela estreia do talentoso Seth MacFarlane na direção de um longa-metragem. Mas bastaram 10 minutos de Ted para que os meus medos desaparecessem e eu embarcasse na divertida história do ursinho de pelúcia título que ganha vida depois de um pedido feito durante o natal por um garotinho sem amigos.
Esse garoto é John Bennett (Mark Wahlberg) que, agora aos 35 anos, é um imaturo empregado de uma firma de locação de carros que mal faz ideia do que planeja para a sua vida. Ao lado de Ted (voz de Seth MacFarlane), ele passa boa parte do seu tempo fumando uma ampla variedade de drogas, conversando inutilidades cotidianas e, claro, revendo os adorados episódios do seriado oitentista Flash Gordon. Se não fosse pela responsável Lori (Mila Kunis), sua fiel namorada há 4 anos, ele e Ted seriam apenas “dois idiotas dizendo bobagens”. Mas quando a paciência da moça se esgota, ela lhe dá um ultimato: “eu preciso de um homem de verdade e não um garotinho com um ursinho”. Dividido, John empenha-se em atender o pedido de Lori e propõe a Ted se mudar para outro apartamento e procurar um emprego, mesmo que isso pareça utópico para esse ursinho mais interessado em sexo, drogas e televisão!
Ei, não se esqueçam de que estamos falando de um ursinho de pelúcia, o que não parece ser um problema para o sujeito cujas criações incluem um cachorro falante e um bebê megalomaníaco. Sem perder tempo desnecessário em contextualizar a existência de Ted no universo diegético da narrativa, Seth MacFarlane o apresenta como um milagre que ganha repercussão imediata na imprensa (e igrejas), e como outras celebridades meteóricas, rapidamente é relegado ao esquecimento. Dessa maneira, apesar de estarmos diante de um ursinho (nossos olhos não nos deixam mentir), passamos a enxergá-lo com a naturalidade com que encararíamos qualquer pessoa de carne e osso. Há, evidentemente, um cômico estranhamento em estar diante de um bichinho de pelúcia praticando relações sexuais e cheirando cocaína, mas Ted é essencialmente um personagem humano com conflitos, dúvidas e anseios próprios.
Também ajuda o fato de que a animação do ursinho, baseada em motion capture, é espetacular transformando-o em um personagem mais expressivo do que diversos atores renomados de carne e osso. Ao exprimir desdém durante as entrevistas com o dono de um supermercado, ele franze a sobrancelha e espreme os olhos realisticamente. Ele ainda demonstra excitação e empolgação na mesma intensidade com que exibe a tristeza e um olhar marejado, sem lágrimas, ao observar uma foto marcante. Se isto já seria suficiente para impressionar o mais exigente, os animadores ressaltam a “idade” de Ted na costura puída e desgastada e na sujeira acumulada ao longo de anos, atingindo um detalhismo invejável na textura do seu tecido molhado após sair de uma banheira.
Eclipsando o restante do elenco, inclusive um perfeitamente ingênuo e bondoso Mark Wahlberg, Ted também é dono de um senso de humor polêmico e politicamente incorreto que não economiza nas críticas à indústria de celebridades, da qual ele antes fizera parte, e nos comentários a respeito de raças e etnias, engraçados o bastante para não soarem ofensivos. Até mesmo o tabu do 11 de Setembro é repetidamente abordado, criando um paralelo com a vida de Seth MacFarlane que, por alguns minutos, não foi uma das vítimas dos atentados. E olhem, o sujeito entende da massificação da cultura introduzido citações a Corey Feldman e Justin Bieber em uma mesma fase e divertindo ao remeter o espectador a E.T., Os Muppets, Guerra nas Estrelas, Indiana Jones e Garfield, nesta que é uma das melhores gags visuais da narrativa.
MacFarlane consegue ser bem sucedido até quando erra, como ocorre na subtrama envolvendo o esquisito Donny (Giovanni Ribisi) e o seu filho. Se a participação desses dois sugeria, a princípio, apenas um conflito descartável na narrativa, o diretor a aproveita para brincar de terror em uma sequência inspirada e assustadora que me fez sentir na residência de Charles Manson, bem como nos leva a temer pela segurança dos personagens, algo que em uma produção de comédia escrachada e aparentemente inofensiva, é muito mais do que normalmente estamos acostumados.
Homenageando a emblemática briga entre Peter Griffin e um galo gigante em Family Guy, agora passada em um quarto de hotel, resgatando Flash Gordon do esquecimento e investindo em uma trilha sonora característica da década de 80, a estreia nas telonas de Seth MacFarlane foi a melhor possível e só nos resta aguardar as novas criações do sujeito e, quem sabe, o retorno desse desbocado, grosseiro e divertidíssimo ursinho Ted.
P.S.: Joel McHale, o ator que interpreta o chefe da personagem de Mila Kunis, é ou não é a cara do Michel Teló?

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7 comentários em “Crítica | Ted”

  1. Sem querer ser chato, estranhei alguns usos de exclamações, há erros de pontuação e Family Guy não tem o 'The'.

    Mas o que me intrigou mesmo foi a observação de que "a estreia nas telonas de Seth MacFarlane foi a melhor possível". Por que só 4 estrelas, então?

  2. Chato? Pelo contrário, pertinentes as suas observações. Procedi às correções 🙂

    Quanto ao "melhor possível", usei-o como frase de efeito, a meu ver mais adequada do que caracterizar só como "ótima" ou "excelente" a estreia. As estrelas pouco importam no apanhado final, você sabe disso 🙂

  3. Acredito que eu tenha sido o único que não tenha abordado a expressão de Ted e o uso do motion capture. Mas a crítica já havia ficado gigante. E o bacana de Ted é que não é o fato de ser apenas fã de Family Guy ou do realizador que apreciamos seu humor acido e inesperado, mas por ele ter um timing incrível que sempre consegue arrancar risadas. Como disse anteriormente, uma das melhores coisas que surgiu na comédia americana é o Seth.

  4. Mais um bom texto detalhando os pontos interessantes do filme, pelo visto foi bem realizado e cativou a todos – alguns blogs que li falaram muito do bacana de certas falas ditas pelo Ted e da maneira como o tom irônico e inteligente, com humor, se faz presente. Quero conferir muito, ainda mais agora por sua nota alta. Abração!

  5. Estou pra ver Ted. Demorei a me acostumar com a ideia de Family Guy ser realmente brilhante – achava uma cópia mal feita de Simpsons. E American daddy ainda acho irregular. Já Frango Robô é provavelmente a mais genial das criações de Seth MacFarlane. Ou seja, fiquei mais que animado para conferir sua estreia nos cinemas – que desde o trailer já parecia hilária. Ingênuo é deputado, que ao tentar proibir o filme só contribuiu para o seu marketing.

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