Nos itens seguintes, as melhores atuações femininas em filmes inéditos, exibidos comercialmente no Brasil, nos cinemas, em 2016. Estão de fora, as exibições exclusivas em festivais e lançamentos inéditos, mas nas plataformes de vídeo por demanda (Netflix, iTunes, Now etc).
10- Léa Seydoux, “É Apenas o Fim do Mundo”
A irmã caçula de Louis sequer recorda-se dele, embora anseie por mais convívio talvez para desarmar a insegurança diante do irmão mais velho e abusivo. É uma personagem vulnerável, que implora por carinho e reconhecimento a todo custo, e isto nas mãos de Léa Seydoux, costumeiramente associada a mulheres fortes, de modo a tornar a performance ainda mais surpreendente.
9- Juliana Paes, “A Despedida”
Durante parte da narrativa, estive apreensivo em imaginar como iríamos acreitar no amor entre Almirante, nonagenário, e a personagem interpretada por Juliana Paes. Mas, basta um olhar apaixonado e malicioso, para a atriz suspender a minha descrença e comprovar a paixão que arde apesar da diferença de idades. Uma atuação especial.
8- Agata Buzek, “As Inocentes”
Todo dia o cinema apresenta desdobramentos da segunda guerra mundial surpreendentes por sua brutalidade: no caso, a história de freiras polonesas, engravidadas após serem estupradas por soldados, sendo uma delas a irmã Maria, personagem de Buzek, que detrás da disciplina e frieza inerentes, não esconde o temor à perspectiva do aborto e da manutenção do feto e o questionamento dos desígnios do mesmo Deus que adora.
7- Hayley Bennett, “A Garota no Trem”
Enquanto Emily Blunt tropeça nos excessos adotados para criar a protagonista desta adaptação literária, Hayley Bennett recorre ao que há dentro de si, aquilo que nos atormenta e machuca e os maus sentimentos que escondemos para convivermos socialmente, para criar uma personagem naturalmente trágica que tanto busca o amor mas que jamais o encontrará.
6- Susan Sarandon, “A Intrometida”
Depois da morte do marido, a mãezona vivida por Susan Sarandon muda-se para Los Angeles, no intuito de aproximar-se de sua filha, mas acaba sufocando-a pela dependência e apego excessivo. Sarandon transforma este elemento na trama sobre uma mulher de terceira idade que precisa sentir-se ativa e necessária, sem apelar para a saída mais fácil: a pieguice.
5- Brie Larson, “O Quarto de Jack”
Enquanto tenta blindar o filho Jack da vida monstrusa que vivem, trancados dentro de um porão, a personagem de Brie Larson dissolve, física e mentalmente, em uma perormance admirável e segura por causa do que há no contracampo mas não é mostrado ao espectador, preso ao ponto de vista de Jack.
4- Cate Blanchett, “Carol”
A meu ver, Blanchett é a melhor atriz de Hollywood em atividade e aqui acrescenta charme e sofisticação a uma personagem que decerto é segura de si e teve tudo o que desejou na vida. Ao menos é o que tenta mostrar à sociedade, pois, por dentro, Carol é incompleta e refém do amor proibido pelas “regras” sociais da época.
3- Sônia Braga, “Aquarius”
Braga nem precisou tocar Maria Betânia para mostrar quão intensa e forte pode ser. A cada cena, aliás, a atriz desmistifica o papel da mulher e revela não apenas a irresignação contra a opressão a que é submetida pela sociedade capitalista, mas age para obter justiça de sua própria maneira: independente, astuta, intensa.
2- Isabelle Huppert, “Elle”
Apenas Huppert poderia dar a vida a uma executiva poderosa que engrandece ainda mais, se é que isto é possível, depois de uma violência inominável contra a mulher: o estupro. E enquanto obsessiona para descobrir a identidade do criminoso, a personagem fantasia com sua morte ou mesmo com a memória do que vivera, sem esquecer de manter-se sempre em posição de poder em relação a praticamente todos os homens que atravessam seu caminho.
1- Amy Adams, “A Chegada”
Lapidada na solidão e no luto – é isto que acreditamos – a protagonista vivida por Amy Adams pretende comunicar-se com os alienígenas que chegaram a Terra e, no processo, reaprender algo básico sobre o ser humano: a não desanimar em face à beleza da vida ainda que esta reserve dores e angústias que, não duvide, chegarão inevitavelmente. É um papel que transborda humanidade e também coragem, porque não há nada mais forte do que aceitar o inaceitável.
Estas outras damas também deram um show e merecem a menção honrosa:
Andréia Horta, “Elis”
Alicia Vikander, “A Garota Dinamarquesa”
Carolina Dieckmann, “O Silêncio do Céu”
Dolores Fonzi, “Paulina”
Helen Mirren, “Decisão de Risco”
Jennifer Jason Leigh, “Os Oito Odiados”
Kate Beckinsale, “Amor & Amizade”
Kate McKinnon, “Caça-Fantasmas”
Rooney Mara, “Carol”
Saoirse Ronan, “Brooklyn”
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.