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A Câmera de Claire

A Câmera de Claire

68 minutos

O terceiro trabalho escrito e dirigido pelo sul-coreano Hong Sang-soo no ano passado (junto com O Dia Depois Na Praia, À Noite, Sozinha) acompanha a breve e prosaica trajetória de Jeon (Min-hee), Nam (Mi-hee) e So (Jin-young), ocasionalmente interconectada pela francesa Claire (Huppert). O cenário é a cidade de Cannes, durante o Festival de Cinema, mas bem que poderia ser em baixa estação, longe do frenesi e holofotes, considerada a maneira pacata e ordinária com que o diretor enxerga seus arredores ou como lida com os dramas de seus personagens.

Jeon, o “tesouro da empresa” e dona de um bom coração”, acaba de ser dispensada da empresa por sua chefe, Nam, por falta de honestidade, embora não revele a causa específica que a dirija a esta conclusão. A insegurança corrói Jeon, que perambula pela cidade erraticamente e com o ponto de interrogação invisível sobre a cabeça. Nós, porém, descobrimos o motivo da demissão na cena seguinte: o relacionamento que Jeon manteve com o diretor So, que também é amante de Nam. Ele culpa o álcool, sua desculpa padrão dada a casualidade da citação, não seu mau-caratismo; a vítima são as mulheres ao seu redor.

Esse triângulo poderia ser o objeto de um melodrama, mas Sang-soo evita que a narrativa desande e a mantém na fronteira agradável da comédia de costumes e do drama leve. Os planos longos e estáticos convidam o espectador a se aproximar ou afastar (repare como são eficientes os zooms, movimento de lente de que normalmente não gosto), mantendo-o junto aos personagens, ainda que impotente e incapaz de lhes revelar tudo o que já sabe. A proximidade é importante para enxergarmos, no intervalo de tempo reduzido da narrrativa, o amadurecimento dos personagens, inclusive de Claire, que apesar de não dispor de um conflito particular, modifica o seu comportamento. O efeito é similar a “não ser mais a mesma pessoa” depois de tirar uma foto.

Enquanto isso, a montagem de Hahm Sung-won embaralha a sequência das cenas, intercalando umas nas outras, e desafia a percepção do espectador, especialmente ante a predileção de Sang-soo pela repetitividade aparentemente mundana, mas cinematograficamente engenhosa. Nisto, certos encontros são revelados serem flashbacks mesmo quando pareciam não o ser, e essa descoberta acrescenta volume às personagens, bem como mistério à narrativa, que também nunca é a mesma que era anteriormente.

De certa maneira, portanto, A Câmera de Claire é o exercício espontâneo de conferir à trivialidade uma artisticidade invisível a nossos olhos. O equivalente a sacar a câmera fotográfica, polaroide no caso, e eternizar um sorriso gentil após o preparo de uma refeição, o rosto por onde rolaram lágrimas ou o aparente desdém de um cachorro. Quem sabe se olharmos com calma e paciência para estas fotografias, não encontremos narrativas como a deste trabalho de Hong Sang-soo.


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