Foram mais de 300 filmes exibidos na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (ocorrida entre 18 a 31 de outubro), dentre os quais os vencedores dos Festivais de Berlim, Cannes e Veneza. Dessas, pude assistir, nos 12 dias que permaneci na capital paulista, a 60 produções e elaborar esta lista com os campeões na opinião de quem vos escreve.
1. Roma – O drama autobiográfico de Alfonso Cuarón, que abre o baú de memórias de sua infância na Cidade do México, venceu o Leão de Ouro em Veneza e é, no momento, o mais forte candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro. A atenção a detalhes no contexto macro, ao discutir a sociedade mexicana na década de 70, só rivaliza com o cuidado da direção com o micro, em uma direção de atores repleta de sensibilidade e humanidade.
2. Cafarnaum – Inspirada no cinema livre de François Truffaut, Nadine Labaki narrou, com o Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes, a história da infância arrasada e da assunção prematura de responsabilidade por parte do pequeno Zain. Através dele, retrata os problemas sociais inerentes a seu país, o Líbano. É uma presença certa na disputa do Oscar de Filme Estrangeiro do próximo ano.
3. Uma Mulher em Guerra – O representante da Islândia ao Oscar tem bastante senso de humor, assim como a consciência ambiental que move as ações de sua protagonista, uma ecoterrorista. O destaque vai para Halldóra Geirharðsdóttir, em papel duplo.
4. Guerra Fria – Vencedor do Prêmio de Melhor Direção em Cannes, o belo e trágico romance de Pawel Pawlikowski (vencedor do Oscar com Ida) flutua com segurança entre décadas e com a fotografia em preto e branco, envolve o espectador nos sentimentos que narra.
5. Utøya 22 de Julho: Terrorismo na Noruega – O atentado terrorista ocorrido em 2011 rendeu, neste ano, produções distintas: enquanto a de Paul Greengrass analisa suas consequências, esta retrata, em um plano sequência memorável, os 72 minutos de terror por que passaram os adolescentes na ilha que dá nome ao filme.
6. Infiltrado na Klan – O outro vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes encontra Spike Lee trabalhando com o formato de buddy cop para narrar uma história real, com conteúdo atemporal sobre o racismo institucional norte-americano. Mas não para na crítica e reflexão; o policial é também eficiente como entretenimento.
7. O Silêncio dos Outros – Este documentário espanhol pretende analisar o Pacto de Esquecimento assinado na Espanha após o término da Ditadura Militar de Francisco Franco, e como isto provoca o sofrimento imenso naqueles que apenas procuram justiça.
8. Ray & Liz – Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Locarno, este trabalho inusual britânico mergulha no seio de uma família disfuncional para revelar a negligência parental com seus filhos. Isto com um formato de tela incômodo e claustrofóbico que apenas ressalta o isolamento de cada personagem.
9. A Árvore dos Frutos Selvagens – O turco Nuri Bilge Ceylan exaure, intelectualmente, o espectador em seus 188 minutos. Mas não se engane, vale a pena o investimento em diálogos que escancaram a arrogância da geração Z e o desdém ante seus antepassados.
10. A Favorita – O grego Yorgos Lanthimos investe no talento de Olívia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz em seu trabalho mais acessível. Um que também é irrevogavelmente belo em matéria de design de produção, figurinos e maquiagem e penteados, além de ácido e bem humorado.
Publicação produzida durante a Cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.