Desde que faço oficialmente minhas apostas para o Oscar, lá se vão 9 anos, não me recordo de uma premiação tão imprevisível (e fraca) quanto esta que se desenha este ano. Grandes esnobadas (Primeiro Homem, Fé Corrompida, Se a Rua Beale Falasse), grande divisão de prêmios nos ditos termômetros da temporada (o Critics’ Choice, os Prêmios dos Sindicatos, o Bafta) e grandes trapalhadas também (a categoria de Melhor Filme Popular, a demissão de Kevin Hart como apresentador, o anúncio de prêmios entregues no intervalo etc). É, gabaritar este ano será para os fortes e não acredito que eu vá conseguir, mas fiz o meu melhor. Ao menos 16 dos 24 eu acerto. Espero!
Melhor Filme
Roma seria o vencedor certo se a produção não fosse da Netflix – não faltam votantes preconceituosos – e falada em língua estrangeira. E ainda que eu aposte nele, é bom ter em mente que Green Book – O Guia venceu o Sindicato dos Produtores e, apesar das muitas controvérsias, pode acabar vencendo pela votação preferencial. Correm por fora Pantera Negra, que não teve indicação a direção, roteiro, montagem, fotografia e atuações, e Bohemian Rhapsody.
Melhor Diretor
Alfonso Cuáron, Roma, é a escolha mais certa. Não apenas por ter vencido o Sindicato dos Diretores e todos os prêmios que disputou, mas também pelo caráter pessoal da história contada e da quantidade de funções que exerceu: roteiro, fotografia, co-montagem e produção.
Melhor Ator
Rami Malek, Bohemian Rhapsody, venceu os prêmios mais significativos, dentre os quais o Sindicato dos Atores, com percentual de acerto em 75%, e o Bafta. Christian Bale, Vice, seria seu competido mais forte.
Melhor Atriz
Glenn Close, A Esposa, está em sua sétima indicação e, caso não vença, terá o ranking desonroso de ser a atriz mais vezes indicada e jamais premiada. Isto não deve acontecer, ainda mais porque a atriz venceu o Sindicato dos Atores. Suas principais competidoras são Lady Gaga, Nasce Uma Estrela, com quem empatou no Critics’ Choice, e Olivia Colman, A Favorita, que venceu no Bafta.
Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali, Green Book – O Guia, faturou todos os prêmios: Sindicato dos Atores, Critics’ Choice e até o Bafta, derrotando Richard E. Grant, Poderia Me Perdoar?, em seu próprio lar.
Melhor Atriz Coadjuvante
Regina King, Se a Rua Beale Falasse. A matemática é assim: a atriz não foi indicada ao Bafta (Rachel Weisz, A Favorita, venceu) e ao Sindicato dos Atores (Emily Blunt, Um Lugar Silencioso, venceu). Ou seja: este último que tem índice de acerto elevado não premiou suas adversárias diretas – Rachel, Emma Stone, A Favorita, e Amy Adams, Vice – com o agravante de as primeiras poderem ainda dividir os votos. Se alguém pode vencê-la, pasmem, seria a mexicana Marina de Tavira, que se tornaria a primeira atriz do país a receber um Oscar. Possível, mas improvável. Vamos de King mesmo!
Melhor Roteiro Original
A Favorita era inelegível para concorrer no Sindicato dos Roteiristas, que resolveu premiar Oitava Série, que nem está concorrendo ao Oscar!, e esnobar Roma, Vice e Green Book – O Guia, que seria seu concorrente mais forte caso não estivesse imerso em controvérsias quanto à fidelidade dos eventos narrados e seu retrato racial primário.
Melhor Roteiro Adaptado
Infiltrado na Klan venceu o Bafta mas perdeu o Sindicato dos Roteiristas para Poderia Me Perdoar?. Mas quais as chances de a Academia não premiar Spike Lee, 30 anos após sua primeira indicação por Faça a Coisa Certa, e deixar seu filme sair de mãos abanando?
Melhor Animação
Homem-Aranha no Aranha-Verso é uma daquelas apostas feitas de olhos fechados, ainda que a Pixar e a Disney tenham competidores fortes no páreo.
Melhor Documentário
Free Solo. Já esta categoria é um tiro no escuro. Quem parecia ser o vencedor certo sequer foi indicado, Won’t You Be My Neighbor?, e sobrou para estes dois: de um lado, a chance de a Academia premiar uma Ministra da Suprema Corte progressista – não se esqueçam que parte dos votantes leva política muito a sério -, do outro, aquele tipo de espetáculo que só o cinema proporciona. E que levou o Bafta. Joguei a moeda e deu Free Solo.
Melhor Filme Estrangeiro
Roma. É bem difícil imaginar que seria superado por Guerra Fria, que tem as mesmas indicações de Direção e Fotografia, mas nenhuma das outras 7.
Melhor Canção Original
Shallow, Nasce uma Estrela. Precisa explicar?
Melhor Fotografia
Roma. É apenas o primeiro filme na história fotografado pelo seu próprio diretor, que, embora tenha perdido no Sindicato dos Fotógrafos para Guerra Fria, ganhou uma parcela significativa de outros prêmios que justificam a aposta.
Melhor Montagem
Vice. Estão no páreo justo as produções que pior usaram a montagem como recurso narrativo – pelo contrário, o jogo de cortes mais bagunça do que harmoniza -: o meu voto, que levou o Bafta, e Bohemian Rhapsody, que venceu no Sindicato dos Montadores. Tenha em mente que se a biografia de Freddie Mercury levar este prêmio, suas chances aumentam para vencer em Melhor Filme.
Melhor Trilha Sonora
Se a Rua Beale Falasse. Caso Primeiro Homem concorresse (apenas Deus sabe por que não está), votaria nele sem pensar duas vezes. Entretanto, com o páreo desenhado com a atual configuração, três produções têm chances parelhas: meu voto, Pantera Negra e Infiltrado na Klan, sendo que este teria o diferencial de conferir o primeiro Oscar a um compositor negro. Fui com o coração nessa, espero não me equivocar.
Melhor Design de Produção
A Favorita. Mais um páreo duríssimo: a Academia AMA filmes de época, eis que meu voto leva certo favoritismo contra a futurista Wakanda e os elementos tribais de Pantera Negra por que nos apaixonamos. Ambos os filmes venceram o Sindicato dos Diretores de Arte nas categorias respectivas, Fantasia e Filme de Época, sendo que esta leva mínima vantagem desde que a categoria foi desmembrada (Fantasia venceu 4 vezes, a última com Mad Max: Estrada da Fúria, enquanto Filme de Época, 5 vezes, com A Forma da Água o mais recente – mais fantástico do que outra coisa).
Melhores Figurinos
Pantera Negra. Todos os argumentos anteriores valem para esta categoria, mas desta vez, opto por não escolher A Favorita. (Como eu sou azarado, capaz de este e o anterior serem invertidos).
Melhores Maquiagem e Penteados
Vice. Ufa, enfim uma aposta sem tantos transtornos.
Melhores Efeitos Visuais
Vingadores: Guerra Infinita. Se a Academia quer ser a popular, bom começar premiando os efeitos robustos da extravagante orgia de super-heróis da Marvel, que também ganhou o prêmio do Sindicato da categoria. Porém, tenha em mente que Primeiro Homem pode jogar água no chopp.
Melhor Edição de Som
Primeiro Homem. 6 dos 10 vencedores do prêmio principal, o de foley, do Sindicato da categoria nos últimos anos venceram o Oscar. E Um Lugar Silencioso, em que o som é o elemento narrativo determinante,é o adversário a ser batido pela equipe que recriou o pouso do homem na lua. Aqui vale a sorte.
Melhor Mixagem de Som
Bohemian Rhapsody. 6 dos 10 vencedores do Sindicato da categoria nos últimos anos venceram o Oscar, com o diferencial de que a biografia também venceu o BAFTA (em um prêmio que conjuga este e o anterior).
Melhor Curta
Marguerite.
Melhor Curta / Documentário
Period. End of Sentence, disponível na Netflix com o nome Absorvendo o Tabu.
Melhor Curta / Animação
Bao, o fofíssimo curta da Pixar que antecedeu Os Incríveis 2.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.