Crítica —
Druk – Mais uma Rodada (Druk, 2020) – disponível no Net Now, Looke, Google Play, iTunes
O diretor dinamarquês Thomas Vinterberg nunca se acovardou em enfrentar temas polêmicos: em A Caça, discutia falsa acusação e o cancelamento antes de serem temas contemporâneos, mas tomando como base o alegado abuso sexual denunciado por uma garotinha de 6 anos. Agora, em Druk, introduz o consumo de álcool como uma alternativa para que 4 homens enfrentem a crise de meia idade e reencontrem os jovens que já foram. Neste processo, o diretor procura evitar apologias ao alcoolismo, porém celebra a bebida como uma libertação das amarras sociais.
O elenco é encabeçado por Mads Mikkelsen: seu estado de espírito sombrio é atiçado pelo excesso de luz na sala de aula onde enrola lições de história, sem conseguir a atenção dos alunos, igualmente como não é mais visto como homem por sua esposa, mas talvez só um colega de casa que é o pai de seus filhos. Os problemas de seus amigos – professores também – não são parecidos, mas têm a mesma raiz na frágil masculinidade do cachorro que precisa de ajuda para fazer xixi (para utilizar um exemplo do filme).
A solução de ingerir determinada quantidade de álcool obviamente não é nem remotamente adequada para estes homens (terapia, sim), mas se apresenta como memória de algo perdido. No processo, Vinterberg afasta-se da maioria das consequências que não sejam tragicômicas – a busca por um bacalhau fresco no supermercado é um de meus momentos preferidos -, simpatizando com seu quarteto a partir de um jogo de planos solares contrapostos por outros escuros a fim de revelar o que acontece quando o efeito entorpecente passa.
Ao mesmo tempo, Vinterberg não é hipócrita: ele sabe que o álcool existe, que jovens o consomem em excesso e que a Dinamarca tem uma cultura em torno disto. Retrata também as consequências do consumo desgovernado, enquanto enfatiza a moderação e aspecto celebratório na inesquecível cena final: uma dança de libertação em um momento significativo de tantas formas (alegria, tristeza, vitória) ao protagonista.
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Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.