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A Crônica Francesa – Crítica sem spoilers

Crítica : Wes Anderson é uma grife cinematográfica. Seu apego à estética, ao acabamento de planos simétricos, a movimentação da câmera, em aparente detrimento ao conteúdo e desenvolvimento dos personagens, é o argumento em que muitos batem: belo, mas vazio dizem.

Não poderia discordar mais. Wes Anderson coloca ‘a’ maiúsculo na palavra arte, não porque seus quadros parecem verdadeiras pinturas, mas em razão da criativa liberdade em criar imagens. Enquanto alguns diretores apenas contam histórias, Wes Anderson narra experiências que restituem ao cinema o atributo mais rico que detém: o poder da imagem.

A Crônica Francesa é uma homenagem ao jornalismo a partir do princípio “tente fazer parecer que você escreveu dessa forma de propósito”, dito por um editor raro que confere liberdade para repórteres colorirem, com jogos de palavras, erros de escrita e idiossincrasias, artigos que proporcionam a possibilidade de os leitores reviverem suas experiências. O diretor adota a antologia e subdivide o filme em curtas-metragens que se interrelacionam pelo periódico e por elementos cinematográficos reutilizados.

Cada artigo ressignifica o outro, vide a alternância entre preto e branco e cores (prisão versus arte) na primeira história e como isto implica na história seguinte. A tele dividida em dois revela o antes e o depois, no passeio de bicicleta, e depois o novo e o velho nos interesses românticos de Zefirelli.

Wes Anderson articula histórias que, como conteúdo – que pobreza seria do cinema se fosse só isto –, funcionam a sós, porém que apenas poderiam existir em conjunto, como partes do todo, que reencena o tema da obra do autor: personagens tristes, infelizes, miseráveis e deprimidos dentro do cinema lúdico e de cores pastéis que dificultam enxergar seu sofrimento. Igual a Arthur, o mais romântico dos personagens da narrativa, Wes Anderson talvez seja o mais romântico dos diretores em não conseguir evitar de se entregar à sua individualidade e a suas características artesanais mais marcantes.

Sorte a nossa!

Direção: Wes Anderson
Elenco: Timothée Chalamet, Léa Seydoux, Bill Murray, Saoirse Ronan, Adrien Brody, Willem Dafoe, Elisabeth Moss, Christoph Waltz, Frances McDormand, Owen Wilson, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Edward Norton, Benicio Del Toro, Rupert Friend, Fisher Stevens, Liev Schreiber, Jason Schwartzman, Alex Lawther, Griffin Dunne, Henry Winkler, Cécile de France, Denis Ménochet

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