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Ferida – Crítica sem spoilers

Crítica – A magia do cinema está em contar repetidas vezes a mesma história com a capacidade de propor algo novo em fórmulas ultrapassadas e desgastadas, como a do azarão que tem êxito na vida pelo esporte. O mérito de Ferida, estreia na direção de Halle Berry, é se inspirar em Rocky no sentido de que ambos os protagonistas são pessoas que tomaram (e tomarão) golpes repetidos da vida e permanecerão de pé, porque a resiliência é o traço mais marcante de suas personalidades.

O que Jackie Justice tem que faltava a Rocky Balboa é a raiva. Rocky é de outra geração, um dinossauro que acreditava no sonho americano. Jackie é uma mulher de hoje, que vive a América que abandonou os seus a própria sorte, então sabe que tem que golpear, o mais forte que puder, seu caminho. Ou então fugir e se acovardar, na lei que rege as selvas e as ruas norte-americanas. A partir de uma abordagem formal eficientíssima que reduz a profundidade de campo para revelar como Jackie está a sós, Halle Berry amplia o campo de visão gradativamente para mostrar como ainda existem pessoas ao seu redor.

A narrativa é uma espécie de terapia pela negativa da brutalidade e autocontrole, enquanto Jackie atravessa todos os estágios já típicos dos filmes de boxe e lutas em direção a catártica cena final. Não há nada de novo mas há tudo de novo, digamos assim, pois a mudança na peça central, em sua personalidade e nos dramas que enfrenta já proporcionam uma história ainda não contada.

Tem seus clichês. Alguns bem bobos, como a criança (o filho que Jackie abandonou) muda pelo trauma e que aprenderá a falar e a confiar na mãe no momento-chave da narrativa. Outros, clichês da vida, como o abuso doméstico anunciado ou a aproximação com a mãe também desfuncional. Mas tudo isto bem costurado por Halle Berry que, em frente e atrás das câmeras, reconhece que Jackie não procura perdão nem redenção, somente uma nova oportunidade. De ser lutadora, de ser mãe.

Direção: Halle Berry

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