Sinopse: Finch, o único sobrevivente do apocalipse em St. Louis, constrói um robô para seu cão. Eles viajam para o oeste para escapar do tempo severo. O robô aprende com Finch.
Crítica: Depois de conversar com uma bola de vôlei, agora Tom Hanks parte para aventuras mais ambiciosas: ensinar um robô a sobreviver em um mundo pós-apocalíptico.
Brincadeiras a parte, e por maiores que sejam as semelhanças com Eu Sou Lenda (afora os vampiros), Finch é uma ficção-científica ciente de sua limitação e de seu potencial, explorando-o com sensibilidade para proporcionar um dos filmes mais fofos do ano. (Não é todo dia que alguém define um filme como fofo, certo?)
O mérito da narrativa está em se manter no curso determinado pelo protagonista, em vez de se seduzir pela oportunidade de explorar o mundo apocalíptico com maior intensidade. Finch é misantrópico e este traço de personalidade é coerente com o hermetismo narrativo, existente no figurino que precisa utilizar para sobreviver no mundo lá fora e na abordagem simples e objetiva de Miguel Sapochnik (diretor de alguns episódios de Game of Thrones).
Visualmente, não há nada novo em como o mundo está em pedaços em razão da ação humana e o que resta da humanidade persiste na relação entre humano, cachorro e robô. Por falar neste, Jeff tem um visual mais artesanal, como se menos preocupado com a aparência externa e mais com o sentimento. Parece os robôs do cinema de Michael Blomkamp: realistas, com o esqueleto tecnológico a mostra, em vez de terem uma aparência artificial.
O mais impressionante é como Caleb Landry Jones tornou humano Jeff. O ator interpretou o personagem com a técnica de captura de performance, e isto trouxe autenticidade enquanto atuava ao lado de Tom Hanks. Por falar nele, o veterano ator proporciona sensibilidade, mas também aspereza, para fechar com chave de ouro um filme de propósito encantadoramente simples e executado com esse mesmo princípio em uma ficção-científica com coração imenso.
Diretor: Miguel Sapochnik
Roteiro: Craig Luck e Ivor Powell
Elenco: Tom Hanks, Caleb Landry Jones
Disponível na AppleTV+
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.