Eduardo e Mônica estreia nos cinemas brasileiros dia 20 de janeiro de 2022.
Sinopse – Em um dia atípico, situado em Brasília na década de 1980, uma série de coincidências leva Eduardo (Gabriel Leone) a conhecer Mônica (Alice Braga), tendo como pano de fundo uma festa estranha com gente esquisita. Uma curiosidade é despertada nos dois e, apesar de não serem parecidos, eles se apaixonam perdidamente. Ambos são completamente diferentes. Além da discrepância de idade entre os dois, signos diferentes e cores de cabelo diferentes, eles também têm gostos que, aos olhos de outras pessoas, são incompatíveis. Parece que o amor entre os dois nunca passará apenas de alguns meses. Depois de começarem um namoro, esse amor precisará amadurecer e aprender a superar as diferenças. Eduardo e Mônica terão também que superar o preconceito de outros que tentarão acabar com o relacionamento. Mas é aquilo: “Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”. A comédia romântica é baseada na música homônima de Renato Russo, da banda Legião, Urbana (AdoroCinema).
Crítica – Como faltam comédias românticas iguais a esta, que abraçam o espectador com o desejo de ver o casal título junto diante das dificuldades apresentadas. A partir da composição de Renato Russo, cujas passagens são reproduzidas sem o alarde de parecerem um fan service (Eduardo joga futebol de botão com seu avô de um jeito bem casual, enquanto Mônica fala de Bauhaus e Nouvelle Vague dentro de uma conversa natural), temos um romance que, semelhante ao visto em Licorice Pizza, desafia o conceito de maturidade quando coloca uma mulher adulta relacionando-se com um jovem à beira de prestar vestibular.
É uma premissa que revela o estado emocional de Mônica depois da perda do pai e como este caminho sombrio a leva a conhecer um jovem de alma vibrante, cuja ingenuidade típica da idade representa aqueles mesmos valores que buscam no amor. Enquanto vemos o romance florescer a partir da osmose de cultura, conhecimento e vontade de enxergar o mundo a partir de um olhar mais simples que flui de uma parte para outra e vice-versa, o conflito que os ameaça é bem melhor elaborado do que mentiras, traições ou outros romances, é a imaturidade e a dureza do coração os obstáculos tratados com realismo e naturalidade por René Simões.
A direção é gostosa, por resgatar um período nostálgico do tempo inspirado pela canção, mas é também remissiva aos dias de hoje, já que tudo o que está acontecendo é em um período simultâneo ao regime militar, cujas raízes ainda podem ser enxergadas expostas na cabeça de muitos. Tudo criado a partir de um contraste que favorece a beleza dos quadros, sem esquecer a densidade e textura emocionais necessárias para que o romance de Eduardo e Mônica não seja apenas água com açúcar.
E disto não tem nada, muito por conta da atuação de Alice Braga. Difícil não se apaixonar pela composição da atriz, que mescla um inconformismo com rebeldia de quem deseja criar o caminho do sucesso rejeitando aquele estabelecido pela mãe (e pelas normas sociais e tradicionais), embora não deixe transparecer um retrato unidimensional de uma mulher forte e inabalável. Sua Mônica sente; sua tristeza machuca, seus sorrisos contagiam. Já Gabriel Leone tem um papel mais difícil porque Eduardo tem uma trajetória mais óbvia, tentando provar a Mônica (e a nós) que sua idade não é sinônimo de unidimensionalidade. Assim, Gabriel trabalha as expectativas óbvias que criamos em torno dele e não as subverte. Pelo contrário, pede que enxerguemos além delas e encontremos o jovem idealista e apaixonado que um dia podemos ter sido.
No processo, René, Alice e Gabriel transformam a canção que embalou amores e romances no filme que deveria ser, fazendo jus a Renato Russo sem deixar de ter identidade própria.
Direção: René Sampaio
Elenco: Gabriel Leone, Alice Braga, Victor Lamoglia
Eduardo e Mônica é bom?, vale a pena?
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Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.